Carlos Moedas aguarda “pacientemente” decisão de Costa para saber se deixa Bruxelas e volta a Portugal
Em conferência na Abreu Advogados, o comissário europeu admitiu que respeitará a decisão de António Costa sobre a sua permanência na Comissão Europeia e que regresso a Portugal está nos seus planos.
A meses de o mandato da atual Comissão Europeia (CE) terminar, Carlos Moedas ainda não sabe se vai permanecer na instituição. “Foi a melhor experiência da minha vida e tudo tem um ciclo, que chega a o fim”, disse o comissário europeu, que, com responsabilidade nas áreas da Investigação, da Ciência e da Inovação, completa este ano cinco anos na CE. A sua continuidade ainda é uma incógnita, cuja decisão está agora nas mãos do primeiro-ministro, António Costa, que ainda não se pronunciou sobre o tema.
Mas o atual comissário não se mostra apreensivo, e afirma que pensa que o seu futuro será em Portugal. “São decisões difíceis, muitas vezes solitárias. Respeitarei seja qual for a decisão. Até porque também tenho muita vontade de voltar e contribuir com o que aprendi”, conta. Contudo, ressalva que esta comissão pode ficar em funções para lá de 31 de outubro, data em que o mandato termina, dado que a escolha de cada país dos seus comissários é, por norma, demorada.
Sobre os dossiês com que trabalhou na CE, o antigo secretário de Estado Adjunto de Passos Coelho aponta a discussão de sanções a Portugal e Espanha, mas também o Brexit como os mais custosos. “Foi muito difícil para mim, porque tinha de estar com argumentos neutrais. O do Brexit foi terrível. Sempre defendi que o projeto europeu era irreversível defendi, mas a saída do Reino Unido da UE caiu-nos em cima e percebemos que afinal é reversível”.
O comissário europeu falou da sua experiência nos últimos cinco anos esta terça-feira na Abreu Advogados numa conversa moderada pelo publisher do ECO, António Costa, onde não deixou de abordar os desafios que a União Europeia (UE) enfrenta, e a CE em particular, nas eleições de 26 de maio, com o Brexit e a ascensão dos partidos populistas.
Brexit, populismos e a força institucional da UE
Sobre o possibilidade de o Reino Unido ainda ir a eleições europeias descredibilizar a UE como projeto europeu, o comissário diz que ainda há esperança de a saída acontecer até 22 de maio, embora o veja como pouco provável. “É uma grande probabilidade que vá [a eleições], porque tudo no Brexit tem acontecido by default. Vamos ter de viver com isso, mas é pena”, aponta.
Até porque o crescendo de partidos populistas, como o Brexit Party de Nigel Farage, são uma ameaça ao próprio Parlamento Europeu. “O Reino Unido ir a eleições europeias e ter um Nigel Farage que fundou um novo partido para ir para o Parlamento descredibilizar o nosso projeto… Estes partidos não fazem absolutamente nada lá dentro e as pessoas votam nestes partidos populistas, é um problema deste populismo“.
Carlos Moedas considera que esta agenda de destruir por dentro as instituições europeias é alarmante. “Ao ver as eleições com o Reino Unido a participar não consigo ter uma postura institucional porque me dói por dentro, arranha o estômago“, frisou.
Contudo, não deixa de considerar a força das instituições europeias como um dos maiores trunfos da UE, até porque “vivemos num momento de fragilidade, em que as pessoas estão contra as elites”. “É isso que nos diferencia dos populistas: respeitamos a lei e os tratados, temos direitos e deveres. No mundo em que vivemos e difícil explicar as pessoas o que é o rule of law. Os populistas tentam destruir as instituições. Na UE, queremos ser quem as defende e é por isso que somos diferentes”.
"É isso que nos diferencia dos populistas: respeitamos a lei e os tratados, temos direitos e deveres. No mundo em que vivemos e difícil explicar as pessoas o que é o rule of law. Os populistas tentam destruir as instituições. Na UE, queremos ser quem as defende e é por isso que somos diferentes.”
Se o Parlamento Europeu não conseguirá uma maioria pró europeísta, Carlos Moedas prevê dificuldades, até porque as últimas sondagens apontam uma ascensão dos partidos de extrema-direita. “Estas eleições são as mais importantes, temos de ir buscar as pessoas a casa para irem votar. Que votem, mas que seja um voto moderado, isso é importante”.
O futuro? Aposta no investimento à ciência e nas mudanças climáticas
Já acerca do lugar da Europa na inovação e na ciência, com concorrentes como os Estados Unidos ou a China, o comissário revela que este é o continente com mais cientistas no mundo: cerca de 1,7 milhões, e com uma percentagem constante de citação de artigos científicos que ronda os 33%. “A ciência europeia e a melhor ciência do mundo. E isso viu-se com o buraco negro. Conseguimos tirar uma foto 100 anos depois de Einstein os ter descoberto, mostrámos que conseguimos e com o nosso dinheiro“.
Mas a falta de investimento ainda é o maior problema europeu, aponta. “Transformamos dinheiro em conhecimento mas conhecimento em dinheiro ainda não. Temos de fazer um esforço melhor, se soubermos financiar teremos uma oportunidade única na próxima vaga de tecnologias. A inovação é um puzzle. Temos de estar sempre a jogar e temos de apostar mais no capital de risco“.
Sobre um dos maiores desafios para a UE no futuro aponta as mudanças climáticas como a grande prioridade a ter em mira. “A Europa é o centro em termos de tecnologias e o combate às mudanças climáticas vai ser um grande desafio europeu, é algo que a juventude está a pedir. Tem de ser a prioridade número um“, destaca.
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