Carlos Costa alerta para transferência de custos para gerações futuras
Ao refletir sobre o financiamento sustentável, tendo em conta fatores ambientais, o governador do Banco de Portugal avisa para os custos futuros. Ministro do Ambiente aponta que já há consequências.
Portugal deu mais um passo para chegar à neutralidade carbónica em 2050, ao determinar que o fator ambiental vai passar a ser tido em conta nas avaliações de risco dos bancos. O governador do Banco de Portugal alerta que estão a ser transferidos custos para gerações futuras, mas o ministro Matos Fernandes defende que estamos já a pagar os erros do passado.
“Estamos a transferir para gerações futuras custos que deveriam ser suportados pelas presentes”, disse Carlos Costa, numa conferência sobre o papel do financiamento sustentável, na Fundação Calouste Gulbenkian. O governador do Banco de Portugal (BdP) alertou assim para as consequências dos investimentos atuais, se não tiverem em conta os riscos ambientais.
Por outro lado, o ministro do Ambiente e da Transição Energética defende que a fatura já está a ser paga. “Nós hoje, como geração futura de alguém, estamos já a pagar erros do passado”. O ministro aponta que as desigualdades no mundo têm vindo a crescer, as perdas das seguradoras já aumentaram e as perdas económicas de fenómenos naturais extremos também cresceram.
“Os prejuízos já não podem ser empurrados para gerações futuras“, rematou Matos Fernandes. Para o ministro responsável pela pasta do Ambiente, “seria muito mais difícil emigrar para Marte do que acautelar impactos” e, portanto, “há que financiar o verde o azul e o circular”.
O governador do BdP concorda com a necessidade de ponderar os riscos, tendo em conta que “cabe ao sistema financeiro um papel vital na canalização dos recursos para os que poupam e investem, e ter consciência de que a sua decisão não só tem impacto no retorno imediato mas na sustentabilidade”. Por estas razões, “o sistema financeiro tem de introduzir cada vez mais fatores de incerteza”, defendeu.
Entidades do setor financeiro comprometem-se a ter em conta o Ambiente
Neste evento foi assinada a Carta de Compromisso para o Financiamento Sustentável em Portugal, por cerca de duas dezenas entidades, desde bancos, ministérios do Ambiente, Finanças e Economia, Euronext Lisboa, reguladores e associações ligadas à banca, seguros e fundos a emitentes.
João Matos Fernandes, o último a assinar o documento, relembrou na sua intervenção que o “Governo português foi o primeiro país a assumir o compromisso de neutralidade carbónica em 2050”, sendo que a carta se enquadra no roteiro para esta meta.
O ministro do Ambiente e Transição Energética adiantou ainda que este é um “desafio à escala mundial no qual Portugal não quer perder a liderança”. E não será tarefa de pequena. Para atingir o objetivo serão necessários cerca de um bilião de euros, acrescentou ainda.
Na conferência houve ainda espaço para comentários sobre a igualdade de género, já que entre todos os representantes das entidades, que subiram ao palco para assinar o documento, contava-se apenas uma mulher. Virginie Marchal, Senior Programme Manager na OCDE, foi a oradora que tomou o pódio após a assinatura e apontou que “também de devia falar sobre o equilíbrio de género no setor”.
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