Escalada do preço do petróleo faz mira às contas de Centeno
A margem está cada vez mais reduzida até os preços do petróleo afetarem a economia e as contas públicas de Portugal. A nova subida causada pelo ataque na Arábia Saudita aumenta a pressão.
O petróleo está cada vez mais perto de ser uma pedra no sapato de Mário Centeno. As estimativas do Governo apontam para um impacto negativo na economia, na dívida e no défice portugueses caso o preço médio da matéria-prima fique, este ano, acima de 57,89 euros. A margem já está em apenas 30 cêntimos… e a reduzir-se.
O petróleo disparou nos mercados internacionais e chegou a ultrapassar a fasquia dos 70 dólares após um ataque de drones a duas refinarias do maior produtor do mundo, a Arábia Saudita. Mais de metade da capacidade de produção do país foi eliminada, levando o preço do Brent a ultrapassar a fasquia dos 70 dólares. A matéria-prima acabou por terminar a sessão a subir quase 12% para 67,42 dólares.
No Programa de Estabilidade, o Governo apontava para um valor médio de 66 dólares este ano, considerando uma taxa de câmbio de 1,14 dólares por euro. Ou seja, contava com um preço de 57,89 euros por barril. Até agora, e depois da escalada com o ataque na Arábia Saudita, a média do preço do petróleo desde o início do ano está nos 57,59 euros.
Assim, a margem entre a média atual e o pressuposto do Governo caiu para um terço: de 90 cêntimos (quando o Programa de Estabilidade foi apresentado) para apenas 30 cêntimos. A partir daí, Portugal — que não produz petróleo e tem importar toda a matéria-prima necessária ao consumo — será prejudicado.
Onde o aumento do preço se faz sentir quase de imediato é na carteira dos consumidores. Com as atualizações semanais feitas pelas petrolíferas em Portugal com base na evolução média dos preços do petróleo e derivados nos mercados internacionais, os combustíveis refletem logo as variações. Da última vez que os preços do petróleo estiveram nos 70 dólares, o gasóleo custava mais seis cêntimos, enquanto a gasolina estava 12 cêntimos mais cara.
Um aumento muito expressivo e continuado dos preços (associado à desaceleração económica esperada) resulta tendencialmente numa quebra da procura e, consequentemente, numa redução das receitas do Estado com impostos.
Além do fator interno, também o efeito da desaceleração económica no aumento do défice da balança comercial portuguesa (por força da diminuição nas exportações) poderá obrigar o país a compensar. Para isso, terá de endividar-se mais, o que poderá comprometer as metas do Governo para a dívida e défice.
Brent 20% mais caro tira 0,2 pontos ao PIB
A subida dos preços da matéria-prima nos mercados começa a ameaçar as estimativas do Governo, mas será preciso que as cotação subam mais para que os efeitos sejam ainda mais expressivos. O Ministério das Finanças tem contas feitas: um aumento do preço do petróleo em 20% superior à estimativa tenha um impacto negativo de 0,2 pontos percentuais no crescimento real da economia no primeiro ano, seguido de uma recuperação parcial nos anos subsequentes.
Acrescentando os tais 20% da análise de risco do Governo, ou seja se o barril de petróleo atingir o equivalente a 69,47 euros, o PIB poderá crescer apenas 1,7% este ano e no próximo (em vez de 1,9% como esperado).
Já a dívida pública poderá ficar em 119,2% em 2019 (mais 0,6 pontos percentuais que o cenário base) e 116,1% em 2020 (agravando-se em 0,9 pontos percentuais). O saldo orçamental não seria alterado antes de 2021, quando o excedente seria penalizado em 0,1 pontos e ficaria em 0,8%.
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