EUA põem 28 tecnológicas chinesas na lista negra

  • Lusa
  • 8 Outubro 2019

A "lista negra" impede efetivamente as empresas norte-americanas de venderem tecnologia a empresas chinesas sem aprovação prévia da Casa Branca.

Washington vai restringir os negócios com várias firmas chinesas que desenvolvem sistemas de reconhecimento facial e outras tecnologias de inteligência artificial, e que estão alegadamente associadas à repressão contra grupos minoritários muçulmanos na China.

A decisão do Departamento de Comércio dos Estados Unidos, anunciada na segunda-feira, coloca as empresas na designada Lista de Entidades, por agir contra os princípios da política externa norte-americana.

A “lista negra” impede efetivamente as empresas norte-americanas de venderem tecnologia a empresas chinesas sem aprovação prévia da Casa Branca.

O secretário norte-americano do Comércio, Wilbur Ross, disse em comunicado que o Governo dos EUA “não vai tolerar a brutal repressão contra minorias étnicas na China”.

Entre as empresas colocadas na ‘lista negra’ constam a Hikvision e a Dahua, ambas fornecedoras globais de tecnologia de vigilância por vídeo.

Em comunicado, a Hikvision escreveu que respeita os direitos humanos e opõe-se fortemente à decisão do Governo de Donald Trump.

A empresa considerou que passou um ano a tentar “esclarecer mal-entendidos sobre a empresa e a abordar as preocupações” das autoridades norte-americanas, e que a decisão prejudica os seus parceiros de negócios nos EUA.

Empresas chinesas do setor da Inteligência Artificial, como a Sense Time, Megvii e iFlytek, também foram incluídas na lista.

A Sense Time e a Megvii são conhecidas pelo desenvolvimento de tecnologia de visão por computador, que suporta os produtos de reconhecimento facial, enquanto a iFlytek é conhecida pelos serviços de tradução e reconhecimento de voz.

As empresas constam entre um total de 28 organizações colocadas na “lista negra”.

O Departamento de Comércio incluiu ainda agências do governo local da região de Xinjiang, no extremo noroeste da China, acusando os grupos listados de estarem envolvidos na “campanha de repressão, detenção arbitrária em massa e uso de alta tecnologia para vigilância” contra membros das minorias étnicas de origem muçulmana uigur ou cazaque.

As autoridades chinesas e outras empresas-alvo não reagiram ainda.

Num processo semelhante, no início deste ano, a administração de Donald Trump emitiu uma ordem executiva que exige às empresas do país que obtenham licença para vender tecnologia crítica à gigante chinesa das telecomunicações Huawei.

Em junho passado, cinco grupos chineses que desenvolvem supercomputadores foram também incluídos naquela lista.

Ross disse que a medida desta semana garante que a tecnologia dos EUA “não será usada para reprimir populações minoritárias indefesas”.

Organizações não-governamentais estimam que a China mantém detidos cerca de um milhão de uigures e cazaques, em campos de doutrinação política, em Xinjiang.

Antigos detidos relataram maus tratos e violência, e afirmam terem sido forçados a criticar o islão e a sua própria cultura, e a jurar lealdade ao Partido Comunista.

Depois de, inicialmente, negar a existência dos campos, Pequim diz agora que se tratam de centros de “formação vocacional”, destinados a treinar uigures, como parte de um plano para trazer a minoria étnica para o mundo “moderno e civilizado”, e eliminar a pobreza em Xinjiang.

A decisão da Casa Branca surge também num contexto de guerra comercial entre Pequim e Washington, com os governos das duas maiores economias do mundo a imporem taxas alfandegárias adicionais sobre centenas de milhares de milhões de dólares das exportações de cada um.

No cerne das disputas está a política de Pequim para o setor tecnológico, que visa transformar as firmas estatais do país em importantes atores globais em setores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos.

Washington vê aquele plano como uma ameaça ao seu domínio industrial e considera uma violação dos compromissos da China em abrir o seu mercado, nomeadamente ao forçar empresas estrangeiras a transferirem tecnologia e ao atribuir subsídios às empresas domésticas, enquanto as protege da competição externa.

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