Mais de um milhão de pessoas teve contacto com “fake news” no Facebook durante legislativas
No mês anterior à campanha eleitoral para as legislativas, mais de um milhão de pessoas teve acesso a "fake news" no Facebook. Políticos e corrupção foram os principais temas.
O MediaLab do ISCTE, que monitorizou a “propaganda e desinformação nas redes sociais”, estima que mais de um milhão de portugueses tiveram contacto com “fake news” no mês anterior às legislativas, segundo um estudo universitário.
“É a ponta do icebergue da desinformação, um problema grave”, afirmou Gustavo Cardoso, sociólogo e professor de media e sociedade, que participou no projeto que teve o apoio do Democracy Reporting International, uma ONG com sede em Berlim. Num país “com seis milhões de portugueses com perfis no Facebook”, e “a partir de 80 exemplos” de grupos e páginas pessoais associadas à divulgação de desinformação, houve, “no mínimo, um milhão de pessoas a serem tocadas pela desinformação” no mês que antecedeu as eleições.
O MediaLab do ISCTE escolheu 47 páginas pessoais e 39 grupos de Facebook e dois “viveiros” de páginas com conteúdo político para fazer a sua análise, no mês anterior às eleições, entre 6 de setembro e 5 de outubro.
A equipa identificou mais de 6.500 posts no Facebook com conteúdo de desinformação ou “fake news” produzidas pelo “viveiro” das páginas pessoais, que tiveram, naquele mês, mais de 1,1 milhões de interações, pessoas que ou puseram um like”, comentaram ou partilharam uma determinada publicação que a equipa considera desinformação, em graus diferentes de classificação.
No caso dos grupos abertos, em que várias pessoas escrevem livremente, o estudo aponta para a existência de mais de 45 mil publicações, com mais de dois milhões de interações (fazer like, comentário e partilha), entre setembro e outubro. Nas duas semanas de campanha eleitoral, as interações foram mais de um milhão, entre as páginas e os grupos no Facebook.
E dois terços do conteúdo dos dois “viveiros” são “potencialmente desinformativos”, afirmou Inês Narciso, investigadora do ISCTE, que deu exemplos de publicações no Facebook entre as várias categorias de etiquetas, como “acusações não fundamentadas”, “factos imprecisos”, “spin de imagem”, “factos incorretos” ou ainda com “uso descontextualizado de fontes fidedignas”, entre 18 utilizadas no estudo. O estudo da MediaLab concluiu que as “acusações não fundamentadas” foram os casos mais numerosos.
O pico das interações nos “viveiros” do Facebook analisados foi atingido a 4 de outubro, dia em que o primeiro-ministro e líder do PS se exaltou com um idoso no Terreiro do Paço, em Lisboa, depois de este ter dito a António Costa que estava de férias quando se deram os grandes incêndios de Pedrógão Grande (Leiria), em junho de 2017 — uma “fake news“.
Ao contrário de outros países europeus onde a desinformação anda associada a notícias sobre imigrantes e imigração, os temas mais abordados em Portugal, tanto nas páginas pessoais ou grupos, foram os políticos e a corrupção. A equipa pegou em vários conteúdos, analisou-os, fez “fact checking” e apresentou alguns exemplos de páginas com nomes como “O País do Mete Nojo”, “Lesados do Estado”, “A Culpa é do Passos” ou ainda “Burlados do Continente”.
Como o da página de Mário Gonçalves, um “contribuinte farto de pagar a boa vida de corruptos e mafiosos”, que, com base em “factos imprecisos”, escreveu na sua conta no Facebook: “Novo Banco perdoa 25 milhões à Malo Clinic! Os ricos safam-se sempre!”. Ou ainda a publicação do Tugaleaks que usa um “título impreciso”: “Escândalo! Magistrados reformam-se com o valor bruto do último salário”.
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