Like & Dislike: Os ‘Parasitas’ do Crédito Agrícola
O banco é liderado por Licínio Pina, que contratou a própria mulher. É administrado por um gestor que vendeu um imóvel à mãe. Agora descobre-se um balcão onde todos são familiares.
O filme ‘Parasitas’ do sul-coreano Bong Joon-ho já tinha ganho a Palma de Ouro no Festival de Cannes e esta semana, em Hollywood, ganhou os óscares de melhor filme, melhor realizador e melhor argumento original. E foi merecido.
Tentando não ser spoiler para os que ainda não viram o filme, a história é sobre uma família de desempregados e golpistas que vive numa cave de um prédio e que um dia resolve dar um golpe a uma família burguesa. A páginas tantas, e com muito humor negro à mistura, o pai, a mãe, o filho e a filha passam todos a trabalhar para a mesma família abastada, sem que esta desconfiasse das relações familiares. Daí o nome ‘Parasitas’.
O Óscar é totalmente merecido, se bem que o argumento não seja muito original. Parasitas é o que não falta por aí.
Este introito vem a propósito da notícia publicada pelo jornal Público esta quarta-feira. Conta o jornal que na Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de Salvaterra de Magos, os órgãos sociais são da mesma família e são acusados, por alguns associados, de promoverem negócios cruzados.
Escreve o Público “que o presidente do conselho de administração executivo José Manuel Moreira (anterior chefe de serviços e anterior presidente do Conselho Fiscal) é irmão de António Moreira, ex-administrador da instituição entretanto reformado, mas que se manteve a presidir à mesa da assembleia-geral, onde o vice-presidente é outro familiar, Adalberto Moreira (antes pertencia ao Conselho Fiscal). Por sua vez, o contabilista desta caixa agrícola é Luís Caseiro, genro de António Moreira, cujo filho, Rui Moreira é o gerente do balcão de Foros de Salvaterra, sobrinho do presidente”.
Bong Joon-ho tem muito a aprender com os portugueses. Para quem não se lembra, o presidente do Crédito Agrícola a nível nacional é Licínio Pina que, no final do ano passado, foi notícia porque contratou a própria mulher (que estava a dar aulas na Serra da Estrela) para trabalhar com ele a receber dois mil euros/mês. Na altura, o CEO do banco justificou a contratação da esposa com a necessidade de ele próprio ter “estabilidade emocional”.
“A minha esposa é há mais de 36 anos o meu fator de equilíbrio e sempre me ajudou. Quando aceitei este desafio, coloquei como condição tê-la ao meu lado. Para o exercício das minhas funções e responsabilidades, necessito de disponibilidade total e acima de tudo, estabilidade emocional”, justificou na altura Licínio Pina.
Bong Joon-ho tem muito a aprender com Licínio Pina. Como se isto tudo não fosse cómico e grotesco o suficiente, há tempos os jornais noticiaram que uma empresa gerida pela mãe de Sérgio Frade, administrador executivo da Caixa Central, comprou a este banco um imóvel em Lisboa. E Sérgio Frade participou na reunião que aprovou o negócio.
Perante estas situações, o que faz o Banco de Portugal? Aparentemente pouco ou nada. Onde é que já vimos este filme?
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