Coronavírus já tirou 36,7 mil milhões às maiores companhias aéreas em bolsa
Nos EUA e Europa, as quedas nas capitalizações de mercado superaram os 20% devido ao surto de Covid-10, levando investidores como Warren Buffett a aproveitar para reforçar posições.
Quarentenas, teletrabalho e cancelamentos. Têm sido acionados planos de emergência por todo o mundo para conter a disseminação do coronavírus e, nas últimas semanas, chegaram mesmo a fechar-se cidades, enquanto as maiores empresas e organizações estão a tentar impedir ajuntamentos desnecessários. Neste cenário, as viagens estão a cair a pique e, com elas, as ações das companhias aéreas em bolsa.
Várias companhias aéreas anunciaram cancelamentos de voos e congelamento de custos para fazer face ao impacto da epidemia no setor. Apesar disso, multiplicam-se os profit warnings e a Associação Internacional de Transportes Aéreas (IATA, na sigla em inglês) aponta uma perda entre 63 mil milhões e 113 mil milhões de dólares em receitas globais da indústria devido ao coronavírus. Só na Europa, a quebra estimada é de 9% ou 6,6 mil milhões de dólares.
A estimativa mais que duplica o impacto esperado há duas semanas. “Desde essa altura, o vírus alastrou a mais de 80 países e o número de reservas foi severamente afetado em rotas além da China”, explica Alexandre de Juniac, diretor-geral e CEO da IATA, em comunicado. O receio do efeito do vírus nas companhias aéreas alastrou ao sentimento dos investidores e as ações do setor já afundaram mais do que durante a crise do síndrome respiratória aguda grave (SARS). É a maior selloff desde o 11 de setembro.
"Os mercados financeiros reagiram agressivamente. Os preços das ações das companhias aéreas caiu cerca de 25% desde o início do surto, o que representa uma quebra superior em 21 pontos percentuais do que o declínio registado na altura comparável da crise da SARS em 2003.”
“Os mercados financeiros reagiram agressivamente. Os preços das ações das companhias aéreas caiu cerca de 25% desde o início do surto, o que representa uma quebra superior em 21 pontos percentuais do que o declínio registado na altura comparável da crise da SARS em 2003. De certa forma, esta queda nos preços está já a incorporar o choque nas receitas da indústria superior ao que esperávamos antes”, sublinha de Juniac.
As dez maiores companhias aéreas do mundo, em termos de capitalização bolsista, desvalorizaram 22% nas últimas duas semanas, equivalente a uma perda de 36,7 mil milhões de dólares. O maior tombo (de 43%) foi da norte-americana American Airlines, que perdeu mais de cinco mil milhões, enquanto a Delta Air Lines recuou 20,7% (ou 7,7 mil milhões) e a United Airlines caiu 33,2% (equivalente a 6,4 mil milhões).
Na Europa, a britânica Internacional Airlines desvalorizou mais de 30%, tendo perdido quase 4,9 mil milhões em duas semanas e a Ryanair cedeu 26% (4,3 mil milhões). Já a alemã Lufthansa — cujo negócio para entrar no capital da portuguesa TAP ficou também em modo de espera devido à crise — recuou 19,4% (ou 1,5 mil milhões). As quedas foram mais expressivas nas companhias aéreas norte-americanas e europeias pois as asiáticas têm vindo a ser penalizadas há mais tempo dado que o surto teve início na China.
Companhias da Europa e EUA já perderam entre 20% e 40% do valor
Fonte: Reuters
Apesar das desvalorizações expressivas, parte das empresas terminaram a semana em “terreno” positivo ou pelo menos a desacelerar a queda, o que poderá estar associado aos pormenores que foram sendo conhecidos dos planos de contingência. Por outro lado, essa recuperação terá ainda sido causada por correções com os investidores a aproveitarem os preços mais baixos para entrar ou reforçar no capital.
Foi essa a estratégia do guru de Wall Street, Warren Buffett, que anunciou esta semana um investimento de 45,3 milhões de dólares para comprar 976,5 mil ações da Delta Air Lines. O dono da Berkshire Hathaway — que tem como lema ser ambicioso quando os outros estão assustados — passou a deter 11,2% da companhia aérea.
A estratégia poderá não ser única. “Temos estado a reduzir risco dos nossos modelos de portefólio nos últimos dois meses, devido ao forte rally do mercado e à incerteza em torno da epidemia, mas agora vemos uma relação entre risco e retorno, nos ativos de risco, cada vez mais inclinado positivamente e estamos a usar a retração atual para voltar a aumentar a exposição cíclica”, explicaram os analistas do JP Morgan numa nota aos clientes, citada pela Bloomberg.
Já o Citigroup antecipa que “se as preocupações com o coronavírus diminuírem nas próximas semanas e os EUA conseguirem evitar uma recessão, poderá verificar-se um cenário de recuperação da procura [por viagens] no mundo excluindo a Ásia, o que poderá levar os preços das ações a estabilizarem”.
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