Portugal paga mais para emitir dívida a cinco e dez anos. Juro sobe com tensão nas bolsas
A agência que gere a dívida pública portuguesa foi ao mercado numa altura de forte volatilidade. Colocou 1.181 milhões de euros em obrigações do Tesouro.
Portugal emitiu 1.181 milhões de euros em obrigações do Tesouro (OT) a cinco e dez anos. Numa altura de forte volatilidade nos mercados financeiros, a Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP emitiu dívida de médio prazo com taxas de juros mais altas e não atingiu o total máximo indicativo.
No caso da dívida a dez anos, a agência liderada por Cristina Casalinho emitiu 500 milhões, a uma taxa de juro de 0,426%. O valor compara com a taxa de 0,333% paga a 13 de novembro do ano passado, no último leilão de títulos com esta maturidade. Depois disso, Portugal fez uma venda sindicada de OT a dez anos, com um juro em 2%.
Já a dívida a cinco anos, o IGCP colocou 681 milhões, tendo pago uma taxa de juro de 0,059%. Neste prazo, Portugal tinha-se mesmo chegado a financiar com juros negativos, sendo que no último leilão comparável (a seis anos, em fevereiro), a taxa tinha-se situado em -0,057%. A subida do juro está relacionada com o momento de tensão que se vive nos mercados financeiros.
“Esta ténue subida nas yields está diretamente ligada ao impacto que o Covid-19 tem tido nos mercados globalmente. A incerteza e o medo vieram abalar de uma forma generalizada a confiança dos investidores e colocar em causa a recuperação económica que os países estavam a ter. O alastrar do vírus da China para outros países estava de certa forma menosprezada pelo mercado, mas quando essa perceção mudou, muitos investidores optaram por desinvestir ou realocar o risco que têm nas suas carteiras”, explica Filipe Silva, diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa.
Com o surto de coronavírus a ameaçar a economia global e os principais produtores de petróleo em conflito, as bolsas têm afundado há várias sessões, a volatilidade disparou e os investidores têm recorrido a refúgios como a dívida da Alemanha e dos EUA. “Se por um lado os países core assistem a mínimos históricos nas suas taxas de longo prazo, com o Bund a fazer um mínimo de -0,90% e os EUA 0,3% já os países da periferia assistiram a um alargar do seu spread, com as taxas a subirem”, refere.
Neste cenário de tensão, o apetite por por títulos de dívida portuguesa arrefeceu. No prazo mais longo, a procura superou a oferta em 1,53 vezes (contra 1,63 vezes no último leilão comparável) e, na maturidade mais curta, ficou foi 1,63 vezes maior (em comparação com 2,43 vezes na última colocação).
Apesar do cenário atual, Filipe Silva considera que as medidas em curso para travar o impacto do vírus deverão apoiar os baixos juros. “Os bancos centrais e governos têm estado a anunciar estímulos monetários e fiscais para ajudar ao abrandamento que iremos ter. Para Portugal e apesar da subida que tivemos, ainda estamos a emitir dívida com taxas historicamente baixas. Se a perceção de risco para a nossa economia não mudar drasticamente, esta deverá ser a tendência para os próximos tempos”, acrescenta o diretor da gestão de ativos do Banco Carregosa.
(Notícia atualizada às 11h20)
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