OLX tem menos anúncios, mas descarta lay-off: “Não temos fábricas, não temos carros, o que temos são pessoas”
O OLX está com menos anúncios, ainda mais depois de decidir banir produtos como máscaras e desinfetantes. Em conversa com o ECO, o líder em Portugal fala dos números e do impacto do vírus na empresa.
As autoridades portuguesas reforçaram o combate à especulação de preços nos produtos essenciais em plena pandemia, como as máscaras e os desinfetantes. Plataformas como o OLX seriam campo fértil para este fenómeno, não tivesse a empresa decidido cortar o mal pela raiz, proibindo este tipo de anúncios.
Essa medida foi contra os ideais da empresa, mas o líder do OLX Portugal admite que tinha de ser tomada. Em conversa com o ECO, a partir da sua casa em Lisboa, Sebastiaan Lemmens fala ainda dos impactos do coronavírus na empresa e das mudanças que antevê na sociedade.
“O OLX é um dos maiores sites em Portugal. Com os mais de dois milhões de utilizadores que vêm à nossa plataforma todos os meses, temos um papel na sociedade que não devemos subestimar. Com isso surge alguma responsabilidade. Ficámos preocupados com o facto de não podermos garantir a qualidade deste tipo de produtos, nem o preço justo dos mesmos”, começa por explicar o CEO do OLX Portugal.
Desta forma, a empresa decidiu banir todos os anúncios de máscaras e desinfetantes, mesmo indo contra os seus próprios princípios: “Foi uma decisão contrária ao que fazemos normalmente. Somos uma plataforma de comércio livre. Mas isto nunca acontece. Acontece, talvez, uma vez nas nossas vidas”, desabafa.
Na visão do gestor, a decisão, tomada em coordenação com a plataforma concorrente Custo Justo, foi geralmente aplaudida pela comunidade: “Acho que a quantidade de aplausos superou de longe as poucas vozes que perguntaram ‘porque é que estão a fazer isto?’. E para os que perguntaram, tivemos uma resposta muito clara, que toda a gente compreendeu.”
Toda a equipa do OLX em Portugal está em regime de teletrabalho desde dia 13 de março. E enquanto negócio puramente digital, a empresa está numa posição mais confortável para enviar toda a gente para casa. Basta ter um computador e uma ligação à internet.
“Somos extremamente privilegiados e sortudos por podermos fazer isso, porque somos uma empresa baseada na internet. A única coisa de que precisamos é de internet e de um computador. E um telefone e auscultadores para os que têm de estar ao telefone todo o dia. E é isso. Nesse sentido, acho que a adaptação foi menos complicada para nós”, assume. E sublinha: “Temos de ser humildes quanto ao privilégio de podermos trabalhar de casa tão facilmente”.
A empresa continua a reunir todos os dias, de manhã, o que o gestor considera “extremamente importante” para manter a cultura da companhia. Não encontra, porém, mudanças “significativas” do ponto de vista operacional. A empresa tem tentado garantir que todos têm condições para operar a partir de casa e enviou aos colaboradores “monitores grandes” e, em alguns casos, até as próprias cadeiras que estavam no escritório, para garantir um maior conforto. Todos são encorajados a “desligar” ao fim do turno de trabalho e há flexibilidade acrescida para quem esteja, simultaneamente, a cuidar dos filhos, garante o CEO.
Menos anúncios, mas lay-off está fora de questão
Segundo Sebastiaan Lemmens, o número total de anúncios ativos no OLX caiu em cadeia de três milhões para 2,6 milhões no mês de março. “Faz todo o sentido, visto que as pessoas estão muitas vezes com medo de transacionar, de sair de casa, de se encontrarem com estranhos”, diz. É, por isso, “um decréscimo esperado”. Porém, a última semana de março levou a uma melhoria na procura, mais rápida até do que a da própria oferta.
E esse é outro ponto importante: o do meio de transação. Sobretudo, o OLX intermedeia negócios entre particulares e a empresa garante que não tem controlo sobre a forma de transação. Por isso, o gestor assume que podem ainda haver transações que estejam a ser feitas presencialmente, apesar de o estado de emergência recomendar a todos os portugueses que evitem deslocações desnecessárias e que fiquem em casa.
“Apesar de sermos um negócio online, no final, a transação é offline, cara a cara”, reconhece o líder da empresa. Nesse sentido, o OLX tem vindo a dar aos utilizadores a informação que tem sido veiculada pela Direção-Geral da Saúde: “Demos essa informação e enviámos múltiplas newsletters aos nossos clientes, a mostrar como podem transacionar de forma segura”, diz. Assim, a sugestão é o recurso aos envios das encomendas via correio. “E, se não se sentirem confortáveis em fazer isso, que garantam que cumprem as indicações das organizações governamentais quando se encontrarem com outras pessoas. Ou seja, por exemplo, não irem para sítios com muita gente”, explica.
Questionado, ainda assim, sobre o número de transações que a plataforma estima que sejam realizadas presencialmente nesta fase da pandemia, Sebastiaan Lemmens não deu qualquer número. “Para ser muito honesto, não sabemos. Porque a transação não acontece sob o nosso controlo”, justifica.
Desta feita, apesar da redução no número de anúncios ativos e das medidas de ajuda que a empresa está a tomar (como a decisão de estender a validade de alguns anúncios ao longo de todo o mês de abril, para dar exposição aos comerciantes que possam estar em dificuldades), o OLX não prevê que tenha de usar o mecanismo do lay-off simplificado lançado pelo Governo e que permite às empresas suspenderem postos de trabalho.
“Por agora, para nós, [avançar com lay-offs] não está em cima da mesa. Estamos numa posição confortável e também é bom notar que, se pensarmos nisso, não temos quaisquer ativos. Não temos fábricas, não temos uma frota de carros, imobiliário… o que temos são pessoas. Esse é o verdadeiro núcleo da empresa. É por isso que, para nós, a principal prioridade agora é garantir que toda a gente está bem”, defende o líder do OLX.
“O OLX é uma representação da sociedade”
Apesar de o OLX não ter assistido a uma revolução na forma de trabalho da respetiva equipa, não significa que essa revolução não aconteça de uma forma mais geral na sociedade e na economia. Com efeito, para Sebastiaan Lemmens, tanto há “preocupações” como “grandes oportunidades” no contexto atual.
“O OLX é uma representação da sociedade, mas online. Por isso, temos todos os tipos de categorias: empregos, serviços, bens, carros, imóveis. Definitivamente, vemos grandes mudanças no comportamento nos diferentes tipos de categorias. Também olhando para Portugal enquanto país, altamente dependente do turismo, em que mais de 90% das empresas são PME [pequenas e médias empresas] que vão passar tempos muito difíceis quando a recessão chegar… Este cenário extremo vai ser muito preocupante”, diz.
No entanto, “apesar da crise económica, da recessão e dos tempos difíceis que muitos de nós vamos enfrentar, também esperamos uma aceleração nas tendências digitais. Muito mais gente vai estar online e cada vez mais rápido”, diz o gestor, antevendo, por exemplo, que a penetração do comércio eletrónico em Portugal vá aproximar-se da que já é registada em países como a Holanda e o Reino Unido.
Assim, enquanto “representação da sociedade”, o OLX verifica crescimentos na procura em áreas “especialmente” ligadas às atividades de tempos livres. “É muito previsível: coisas que podem ser feitas em casa, coisas que podem ser feitas com as crianças, PlayStations e esse tipo de coisas. Vemos a procura a subir, as pesquisas por estes itens”, revela.
Juntando-se à onda solidária que surgiu também em Portugal, o OLX está a promover algumas iniciativas externas, nomeadamente a aplicação de voluntariado “Quero Ajudar”, que “tenta ligar quem quer ajudar e quem precisa de ajuda”. “Estamos a promover também a plataforma ‘Acolhe um Herói’: se tiver uma casa vazia para turistas, que os turistas já não querem arrendar porque estão confinados nos seus próprios países, pode cedê-la gratuitamente a médicos ou enfermeiros que estejam a precisar”, sugere.
Correção: Sebastiaan Lemmens é líder do OLX Portugal e não do grupo OLX em Portugal, como indicava uma versão anterior deste artigo. Este último cargo é ocupado por Giancarlo Bonsel. Aos leitores e visados, as nossas desculpas.
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