Verão “negro” nas praias portuguesas. Concessionários não conseguem “fazer face aos prejuízos”
Os concessionários de praia tiveram um primeiro mês de época balnear positivo “em termos de segurança”, mas difícil em termos de negócio. "Há menos utentes" e muitas quebras na faturação.
Os concessionários de praia tiveram um primeiro mês de época balnear positivo “em termos de segurança”, mas difícil em termos de negócio, porque há menos utentes e não conseguem “fazer face aos prejuízos”.
“Há menos utentes e os concessionários estão a ter quebras na faturação, esperemos que a coisa melhore, mas em termos de negócio vai ser impossível fazer face aos prejuízos que já tivemos”, disse à Lusa o presidente da Federação Portuguesa de Concessionários de Praia.
Segundo João Carreira, esta situação está a acontecer aos empresários a nível nacional, mas sobretudo no Algarve, “onde há uma quebra muito grande de turistas”, que, especificou, ronda os 90%.
Também no Norte, indicou, houve concessionários que “devido à idade e a esta situação da Covid-19 não abriram as suas concessões” e outros podem fechar no decorrer desta época balnear “porque não vão conseguir fazer face às despesas”. “É por isso que, de alguma forma, pedimos apoio ao Governo e às autarquias para que ajudem nas despesas, nomeadamente na assistência à praia”, defendeu.
Segundo João Carreira, os empresários conseguiram contratar os nadadores-salvadores necessários, mas houve algumas associações que “aumentarem substancialmente os valores porque tinham o monopólio”. Além disso, apontou, era importante para o país e para as empresas que o Governo “consiga que os outros países façam a abertura dos corredores aéreos”, para aumentar novamente o turismo e as receitas em Portugal.
Já em termos de segurança, o responsável fez um balanço positivo porque tudo tem corrido bem e “não tem havido acidentes de maior”. “De alguma forma os utentes mantêm todas as medidas, tirando um apontamento ou outro no areal de alguns jovens mais rebeldes, mas, pelo que vemos, os concessionários têm as devidas medidas implementadas e as pessoas também acabam por ser agentes de segurança”, notou.
Na visão de João Carreira, apenas não resultou a recomendação do Governo de que os toldos e chapéus só podem ser alugados numa manhã (até às 13h30) ou tarde (a partir das 14h00), porque “de um modo geral há sempre sombras disponíveis para toda a gente”.
O responsável é proprietário de uma concessão na praia da Morena, na Costa de Caparica, Almada, no distrito de Setúbal, uma zona que por vezes é complicada em termos de estacionamento e trânsito, mas também não se têm verificado constrangimentos.
“Não tem acontecido, tirando uma situação ou outra de um dia mais quente, mas como disse as cargas que estão a haver nas praias não são assim tão grandes e o estacionamento tem estado a ser regulado”, apontou.
A época balnear arrancou a diferentes ritmos no país, tendo os primeiros areais aberto no início do mês de junho, com orientações da Direção-Geral da Saúde devido à pandemia de Covid-19.
Verão “negro” para concessionários da Caparica
A bandeira que indica a lotação ainda não saiu da cor verde nas praias da frente urbana da Costa de Caparica, em Almada, no distrito de Setúbal, levando os concessionários a falar num verão “negro”, com “prejuízos enormes”.
“É muito negativo, muito negro, porque vivemos numa atividade sazonal, vivemos do turismo e, não havendo, o negócio morre”, disse à agência Lusa o presidente da Associação Apoios de Praia Frente Urbana da Costa de Caparica, Acácio Bernardo.
O responsável falava em frente ao seu estabelecimento, o Paraíso Bar, num dia em que a temperatura não estava muito convidativa à prática balnear e a praia estava quase deserta. No entanto, frisou que a afluência estava como “num dia normal” da nova realidade, marcada pela pandemia de Covid-19. “Infelizmente desde o dia 1 [de junho] está ali a bandeira verde hasteada, que é a praia disponível”, lamentou.
Segundo Acácio Bernardo, também “não resultou” a regra definida pelo Governo de que os toldos e chapéus só podem ser alugados numa manhã (até às 13h30) ou tarde (a partir das 14h00).
“Realmente a lei foi feita, mas não resultou porque infelizmente não há necessidade. Estamos aqui e é quase 13h00, deveria haver gente a sair para outros entrarem, para haver alguma razoabilidade, mas infelizmente não é necessária porque não temos pessoas”, frisou.
Também Miguel Inácio, proprietário do restaurante Dr. Bernard, relatou à Lusa que as praias da Costa de Caparica “estão claramente com falta de pessoas”, o que era possível constatar nos toldos que estavam vazios. “Não sei se é igual para o país inteiro, mas nas praias da frente urbana da Costa de Caparica tem-se notado um decréscimo muito grande, como se pode ver. As praias continuam desertas”, frisou.
Devido a este panorama, o responsável mostrou-se descontente pela responsabilidade imposta aos empresários do “pagamento de todos os custos inerentes à praia, neste caso com os nadadores-salvadores”, que representa um encargo anual de cerca de 15 mil euros por concessionário.
“O salvamento marítimo deveria ser uma obrigação do Estado e não de 11 empresários, porque há tanta gente que desenvolve negócios aqui na Costa de Caparica e que vive essencialmente do turismo. Porque é que são 11 concessionários que suportam toda uma equipa enorme de salvamento?”, questionou.
Já Acácio Bernardo criticou a falta de ajuda da Câmara Municipal de Almada, defendendo que a autarquia deveria “diminuir o dispositivo de nadadores-salvadores na praia” ou interromper “as rendas por um determinado tempo”.
“Da parte das entidades que administram o território não está a acontecer rigorosamente nada”, sublinhou.
No dia em que a Lusa visitou a Costa de Caparica, a perspetiva de futuro dos empresários encontrava-se como o tempo, com “uma nuvem muito negra”. “Vamos aguentar até podermos, mas os prejuízos são enormes. O negócio não anda, não há gente para consumir, não há gente de férias. Há concessionários, inclusive, a quererem fechar e em outubro não vão abrir de certeza, porque os custos continuam iguais relativamente a anos anteriores, mas aquilo que se poderia fazer não estamos a fazer”, lamentou Acácio Bernardo.
O empresário tinha contratado mais colaboradores, mas já equaciona “começar a reduzir”. “Não temos estrangeiros, mas temos aqui uma praia linda, maravilhosa, com muito sol, com segurança, e é o convite que faço às pessoas, venham à Costa de Caparica e apoiem o comércio local”, apelou.
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