Móveis portugueses mantêm robustez apesar do vírus. “As pessoas começaram a valorizar mais a casa”
Com as pessoas fechadas em casa e a trabalhar remotamente, a procura por móveis aumentou. Os consumidores sentiram a necessidade de readaptar os espaços e torna-los mais versáteis e confortáveis.
A pandemia afetou a economia a uma escala global, mas nem todos os setores foram afetados da mesma forma. O mobiliário é um dos exemplos que está a conseguir resistir a esta crise. O confinamento e o teletrabalho levaram os consumidores a reformular espaços e tornar a casa mais confortável. Com esta nova necessidade, a procura por móveis aumentou.
“Temos notado que as pessoas estão a valorizar mais a casa e que estão a fazer alguns investimentos. Devido ao confinamento as pessoas começaram a passar mais tempo em casa e resolveram investir mais na próprio espaço“, explica Gualter Morgado, diretor geral da Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário e Afins (Apima), ao ECO. “Notou-se realmente uma procura “anormal”. As empresas tiveram mais encomendas em junho quando comparado com anos anteriores. Foi bastante melhor que o normal”.
Filipa Belo, diretora executiva da Associação Empresarial de Paços de Ferreira, corrobora a ideia do diretor da Apima e destaca que “o facto de as pessoas estarem confinadas em casa, perceberam que determinados móveis não se ajustam”. “Com a pandemia os consumidores sentiram a necessidade de tornar a casa mais versátil e confortável e começaram a valorizar mais a casa”, refere ao ECO, o responsável pela organização da Capital do Móvel, Bruno Fernandes, em antecipação do evento.
Tendo em conta que muitas casas se tornaram simultaneamente escritórios e salas de aulas, o responsável pela Capital do Móvel destaca que os espaços que os consumidores mais quiserem remodelar foram as salas e os quartos. “A procura por moveis de salas deve-se ao facto de as pessoas estarem em teletrabalho. Tiveram a necessidade de colocar as salas mais versáteis. Houve muito esta adaptação no sentido de teletrabalho”, explica Bruno Fernandes.
Com a pandemia os consumidores sentiram a necessidade de tornar a casa mais versátil e confortável e começaram a valorizar mais a casa.
Após o período de confinamento e mesmo em cenário de pandemia a procura por móveis manteve-se quando comprado com ano passado. “Junho e julho foram meses iguais ou semelhantes a 2019. Os empresários não estavam à espera até porque pensavam que iam ter uma quebra significativa em relação ao ano anterior, mas isso não aconteceu”, diz Bruno Fernandes, responsável pela organização da Capital do Móvel.
Setor do mobiliário manteve postos de trabalho
Apesar da resistência do setor, quase metade das empresas (43%) teve quedas de faturação entre os 25% e os 50%, nos primeiros cinco meses do ano, face ao período homólogo do ano anterior. Mesmo assim, a grande maioria (87%) manteve os postos de trabalho, de acordo com dados de num inquérito conduzido pela Associação Portuguesa das Indústrias de Mobiliário.
“A grande maioria das empresas aguentaram-se, sendo que 39% das empresas não recorreu aos apoios do Estado. Mostra que temos empresas com estrutura e capacidade para suportar por si mesmas toda esta crise”, refere o diretor geral da associação do mobiliário, Gualter Morgado.
“As empresas fizeram um esforço enorme para manter os postos de trabalho, este é um setor que depende muito do know how da capacidade humana. Assistimos até a empresas que contrataram técnicos para a área de marketing digital, do comercio eletrónico porque não dispunham de algumas competências e necessitaram dela naquela fase. O valor desse setor está na capacidade de trabalho que nós temos”, explica.
Mesmo não estando a viver uma crise tão pronunciada como outros setores da economia, os representantes do mobiliário português teme a incerteza dos próximos meses. “Existe uma incógnita muito grande que é como vai arrancar o setembro. Este mês vai ajudar bastante a perceber qual a tendência de evolução, se vamos para uma tendência de normalização ou se vamos continuar na fase de indefinição”, adianta Morgado.
Quanto ao próximo, as empresas representadas pela Apima já esperam que seja de recuperação. Do total, 13% ambiciona igualar a faturação pré-pandemia já no segundo semestre de 2020, 30% acredita que conseguirá recuperar estes níveis no primeiro semestre de 2021, com outros 30% a apontar para o segundo semestre. 17% acredita que a retoma destes resultados apenas acontecerá em 2022 e 10% a traçar um cenário mais negativo além desse horizonte.
Temos notado que as pessoas estão a valorizar mais a casa e que estão a fazer alguns investimentos
O diretor geral da associação de mobiliário acredita que a recuperação poderá acontecer no final do próximo ano. “Estou convencido que o setor pela sua dimensão e dinâmica que a médio prazo, ou seja até ao final do próximo ano, talvez se consiga chegar a valores antes da pandemia de Covid-19, se não tivermos situações anormais e alargadas de confinamento outra vez”, prevê Gualter Morgado.
Capital do Móvel com os mesmos participantes, mas mais distância
A Capital do Móvel vai realizar-se entre os dias 5 e 13 de setembro, na Alfândega do Porto, sob o mote “Móveis que são a sua casa”. Ao contrário do que tem sido a tendência dos últimos meses, o evento será presencial.
“Apesar de estarmos conscientes das dificuldades que poderão existir, sentimos que vai correr bem. É preciso este contacto direto com os clientes e aqui conseguimos juntar os mesmos num espaço que permite todas as condições de segurança que é uma mais-valia neste evento que estamos a organizar. Estamos a preparar um evento que não põe em risco a saúde das pessoas”, explica a diretora executiva da Associação Empresarial de Paços de Ferreira (AEPF).
Filipa Belo adianta que o edifício tem cerca de 6 mil metros quadrados, o que “garante espaço suficiente para assegurar a distância de segurança entre os visitantes e oferece corredores largos para definir caminhos de circulação”. O evento que vai 54ª edição vai reunir durante nove dias 50 expositores, que prometem mostrar o que melhor se faz na área do mobiliário em Portugal e a organização espera cerca de 15 mil visitantes, uma previsão semelhante às previsões da edição do ano passado.
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