Dos máximos às correlações, a estatística aplicada à Covid-19
Os novos casos de Covid-19 não páram de aumentar e superam os níveis de abril, quando foi atingido o pico da pandemia em Portugal. No dia mundial da Estatística, o ECO faz um raio-X à Covid-19.
Esta terça-feira assinala-se o dia mundial da Estatística. O marco foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010, mas se esta é uma disciplina muitas vezes conotada como um fim académico, a verdade é que pode ser utilizada em várias situações práticas da vida quotidiana. Dos máximos às correlações, com a ajuda de Zélia Santos, professora de Estatística da Escola Superior de Comunicação Social (ESCS), o ECO fez uma radiografia à situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal.
O virus SARS-Covid-2, que provoca a Covid-19, foi detetado pela primeira vez em Portugal, a 2 de março. Sete meses depois, o país contabiliza já 101.860 casos confirmados por Covid-19 e 2.198 vítimas mortais. Nos últimos dias, os novos casos confirmados têm crescido fortemente, e, por isso, o Governo tomou medidas com o objetivo de “reforçar o sentido coletivo de prevenir a expansão da pandemia”, sinalizou o primeiro-ministro António Costa, aquando do anúncio.
Só na sexta-feira passada, a Direção-Geral da Saúde (DGS) identificou 2.608 novas infeções pelo novo coronavírus, um novo máximo e o terceiro dia consecutivo em que os novos casos ultrapassaram a barreira dos dois milhares. Também os números de óbitos provocados pela crise sanitária têm crescido, mas não chegam, para já, aos valores registados em abril, mês marcado pelo confinamento generalizado. Nesse contexto, 3 de abril foi o dia mais negro para Portugal, tendo sido registados 37 óbitos, o máximo até ao momento.
Neste contexto, é indiscutível que tanto os novos casos como os óbitos estão a crescer, ainda assim, a correlação entre estas duas variáveis é positiva mas fraca: 0,3. Isto significa que, ao contrário do que a aconteceu em abril — altura em que os novos casos confirmados eram menores e os óbitos dispararam — “agora [em outubro], os casos estão a aumentar ainda mais, mas as mortes não chegam aos níveis de abril”, explica Zélia Santos ao ECO.
Estas diferenças são explicadas pelas faixas etárias afetadas pela doença nos dois períodos. Inicialmente, população mais idosa, com maior necessidade de recorrer ao uso de ventiladores, e agora mais jovens com menos problemas de saúde associados. Além disso, os meses que distam entre os dois picos da pandemia também permitiram aprender mais sobre a doença e como combatê-la com maior eficácia.
Além disso, através da análise do gráfico acima exposto, é possível constatar que junho, julho e agosto foram meses em que se registaram menos casos e menos mortes por Covid-19.
Esta tendência crescente tem preocupado as autoridades de saúde e o Governo, tendo já levado o Executivo a admitir que caso a pressão sobre os serviços públicos se torne incomportável se irá recorrer setor privado e social para travar a Covid-19. Não obstante, uma análise aos dados divulgados pela DGS, demonstra que em 75% dos dias, Portugal registou no máximo 551 casos de infeção pelo novo coronavírus por dia e 14 mortes. Ou seja, apenas em 25% dos dias foram registados entre 552 e 2.608 infetados (recorde até ao momento). Contas feitas, em média foram contabilizados 439 novos casos e nove mortes, desde que a pandemia atingiu o país.
Pior semana de abril vs pior semana de outubro
Na semana mais crítica durante a primeira vaga da pandemia, entre 30 de março e 5 de abril, a evolução dos casos oscilou e chegou a atingir 1.035 infeções diárias. Em termos acumulados, Portugal registou 5.316 novos casos. Em média, a DGS identificou 759 novos casos por dia neste período. Na última semana, de 12 a 18 de outubro, foram registadas 13.247 novas infeções. Contas feitas, são mais 7.931 novos casos, ou seja, mais do dobro face à pior semana de abril.
Uma análise à evolução diária de novos casos durante estas duas semanas permite constatar que a evolução era mais acentuada na semana entre 30 de março e 5 de abril. De acordo com a professora de estatística da ESCS, isto explica-se porque os números de novos casos eram inferiores. Ainda assim, alerta para o facto de neste momento Portugal estar a realizar mais testes de despiste à Covid-19, o que aumenta também a identificação de novos casos.
Quanto ao número de mortes, na semana entre 30 de março e 5 de abril Portugal registou 176 óbitos por Covid-19. Em média, foram registados 25 óbitos por dia. Ora, na pior semana de outubro morreram 101 pessoas, menos 75 pessoas do que na pior semana de abril, o que demonstra que há menos gente a morrer vítima da doença. Em média, morreram 14 pessoas por dia na última semana.
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