Santa Casa vai duplicar oferta de Cuidados Continuados
O Hospital da Estrela está prestes a abrir como unidade de Cuidados Continuados. É a terceira da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, a ganhar relevo em tempos de pandemia.
O antigo hospital militar, a funcionar ao lado da Basílica da Estrela desde o século XIX, vai abrir em breve, e de forma faseada, com cara lavada e novas funções. A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa está a transformar este complexo na sua terceira unidade de cuidados continuados integrados (UCCI), particularmente relevante em tempos de pandemia. Será “uma grande unidade da cidade de Lisboa”, considera Ana Jorge, coordenadora dos Cuidados Continuados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) desde 2016.
Terá 91 camas que vão integrar a rede nacional, servindo doentes de Lisboa e Vale do Tejo, em complementaridade com o Serviço Nacional de Saúde. “Tem três tipologias – convalescença, média e longa duração”, explica a ex-ministra da Saúde ao ECO. Vão da recuperação de uma cirurgia aos que, como diz Ana Jorge, “têm potencial de reabilitação, de voltar para a vida habitual e que ficam por um período até 90 dias” – como uma pessoa que tenha sofrido um AVC com reabilitação física, fisioterapia, terapia da fala e atividades terapêuticas – até um internamento em que “as pessoas que podem estar até 180 dias e a dependência é muito maior”.
No internamento de longa duração pode até prolongar-se para lá dos seis meses. “Há cuidados de saúde que não teriam de estar numa unidade desta natureza, poderia ser uma unidade residencial, desde que tivessem apoio, pois têm de manter regras de saúde, mas que precisam de estar numa unidade”, refere. Muitos destes utentes prolongam a sua passagem pelos Cuidados Continuados, concede Ana Jorge. “É evidente que não há muitas respostas e portanto ficam muito tempo estes doentes. Temos dificuldade em colocá-los em unidades residenciais, podiam ir para casa, desde que tivessem apoio”.
Nos Cuidados Continuados, por definição, “as pessoas devem ser colocadas o mais próximo possível da sua residência e da família para que não percam o contacto”, diz Ana Jorge.
A terceira unidade de Cuidados Continuados
A UCCI do As 91 camas que o Hospital da Estrela é a terceira que a SCML abre. Junta-se à UCCI Maria José Nogueira Pinto, em Cascais, aberta desde 2012 (e com 12 camas), e à UCCI São Roque, que inaugurou em 2019, no Parque de Saúde Pulido Valente, e tem 44 camas. Destina-se a quem vive na região de Lisboa e Vale do Tejo, em resposta à escassez de oferta.
“Há uma carência de camas de cuidados continuados. É maior nalgumas áreas do que outras, nós precisamos na cidade de Lisboa de 800 pessoas, mas teremos umas 200 – é esta ordem de grandeza”, reconhece a coordenadora deste serviço da SCML.
“A rede está sempre cheia. Sempre que um doente tem alta, dois dias depois existe logo ocupação”, nota Ana Jorge. Estes doentes são aqueles que a rede nacional considera que devem ocupar estas camas. “Nós, Santa Casa, não temos interferência na colocação de doentes”, esclarece.
Nesta altura, as UCCI da Santa Casa também estão a receber doentes que estão a recuperar da covid-19. “É um vírus respiratório, mas a doença é sistémica e dá, de facto, perda de massa muscular, emagrecimento, especialmente se os doentes estiveram em cuidados intensivos ou ventilados, e esta reabilitação é necessária fazer, porque às vezes têm outras patologias associadas”, refere.
Mais de uma dezena de andares de cuidados
As 91 camas dividem-se por 12 pisos, onde “cabem 13 doentes”, e vão exigir mais pessoal. “Temos de ter enfermeiros e auxiliares com turnos de 8 horas. temos terapeutas, mais os animadores...”. Nas contas de Ana Jorge, serão mais de 100 os profissionais que vão trabalhar na futura UCCI Rainha Dona Leonor, em homenagem à fundadora da Misericórdia.
O aumento no número de camas corresponde também ao aumento da oferta de reabilitação. Ana Jorge dá o exemplo do ginásio, que além de servir 91 pessoas, por estar instalado numa complexo de maior dimensão permitirá “simular a casa de uma pessoa – cozinha e banheira – que é para o treino de atividades da vida diária, como o fogão, forno, descascar batatas… Na casa de banho, permite o transfer e como ser auto-suficiente.
Um dos pisos destina-se a criar uma unidade de introdução da autonomia. “É como se fosse um centro de dia de reabilitação, beneficia dos espaços, do ginásio. Será para mais 20 ou 30 doentes, que vão e vêm”.
Descanso do cuidador, uma área pouco explorada
Com a nova UCCI, a Santa Casa espera ainda dar resposta a uma “área que não tem sido explorada, e que agora com a covid-19 teve menos relevância, que é o “descanso do cuidador”.
Recorrendo a esta figura, já prevista na lei, “a pessoa pode ficar durante um período de tempo na unidade de cuidados continuados enquanto aquele que cuida do seu familiar pode ser aliviado durante algum tempo e depois voltam para casa. Para que os cuidadores possam ir de férias, carregar baterias, recuperar energia e voltar a cuidar dos dos seus”, diz Ana Jorge. “Isso permite que mais pessoas fiquem a cuidar dos seus”, nota. Neste modelo, o tempo máximo de permanência na UCCI “pode ir até quatro meses, de preferência não seguidos”. “E não pode mudar de regime”, acrescenta Ana Jorge, defendendo que o “descanso do cuidador” chegue a mais pessoas.
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