Galp já tem acordo para vender lítio refinado em Matosinhos à sueca Northvolt

Financiada pelo BEI, a empresa sueca quer construir fábricas de baterias de lítio na Europa e precisa de fornecedores. Northvolt esteve em Portugal para falar com a Galp e com Governo.

A Galp estará a preparar a transformação da refinaria de produtos petrolíferos de Matosinhos numa refinaria de lítio há algum tempo e terá já estabelecido um acordo com a empresa sueca Northvolt para o fornecimento de lítio refinado em Portugal e expedido por navio a partir do porto de Leixões, sabe o ECO/Capital Verde.

Na calha pode estar também uma candidatura conjunta das duas empresas, com a possibilidade de se juntar ainda uma terceira (de exploração mineira), ao concurso de lítio que o Governo português já anunciou que vai realizar até setembro de 2021, com 11 áreas de exploração, e que “privilegiará a instalação no país de toda a cadeia de valor”.

Fonte próxima do processo revelou que no primeiro semestre de 2020 o presidente do AICEP se deslocou a Estocolmo para se reunir com os responsáveis da Northvolt, que por sua vez estiveram em Portugal mais recentemente numa reunião para falar com a Galp e com o Governo português, que está a par de todo este processo. Contactadas, a Galp garante no entanto que “não existe acordo com a empresa referida”.

“A Galp está a desenvolver o calendário de implementação da descontinuidade das unidades afetas a toda a atividade de refinação da Galp em Matosinhos, que começará em 2021. O futuro das instalações está em análise não tendo sido tomada qualquer decisão”, esclareceu fonte oficial da petrolífera.

fonte oficial da Northvolt garantiu esta terça-feira ao ECO/Capital Verde que Portugal tem todas as vantagens: cadeias de abastecimento curtas, fontes de energia renovável e exploração de depósitos nacionais de lítio. “A Europa pode, sem dúvida, desempenhar um papel muito mais importante no abastecimento das matérias-primas de que a indústria de baterias elétricas necessita. Cadeias de valor curtas, fontes de energia renovável ​​e exploração de depósitos domésticos são do nosso interesse. Portugal preenche muitas destes requisitos. No entanto, neste momento não estamos em posição de avançar mais detalhes”, disse fonte oficial da empresa sueca.

Esta segunda-feira, o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Matos Fernandes, revelou o seu desejo de que a refinaria da Galp faça parte da transição energética. O ECO/Capital Verde sabe que uma das opções pode passar pela refinação de lítio que vai arrancar nos próximos anos no norte do país. “Está aberta a porta para que seja rentabilizado aquele grande ativo industrial que ali existe […] com outros projetos industriais diferentes da refinação do petróleo”, disse o ministro, sublinhando: “Portugal vai ter uma refinaria de lítio”. Questionada sobre as declarações do ministro, a Galp não se quis pronunciar.

O ministro disse também estar “muito preocupado e muito atento” ao futuro dos 400 a 500 trabalhadores da refinaria de Sines, oferecendo-se de imediato para reunir com a Galp e e com os sindicatos para encontrar uma solução. Sobre este tema, e em resposta às questões do ECO/Capital Verde, a Galp acrescentou apenas que a empresa avaliará as soluções mais adequadas para os cerca de 400 colaboradores afetos às operações em Matosinhos”, sem avançar mais detalhes.

“A descontinuidade das unidades afetas a toda a atividade de refinação da Galp em Matosinhos começará em 2021, sendo que o calendário de implementação encontra-se a ser concluído, tendo em conta a complexidade das atividades envolvidas assim como as adaptações que serão necessárias para a sua reconversão em Parque Logístico. A capacidade de produção da Refinaria de Sines assegura a satisfação integral da procura no mercado nacional, mais ainda num contexto de diminuição estrutural do consumo de combustíveis resultante do processo de transição energética em curso, acelerado pelas restrições à mobilidade decorrentes do contexto pandémico que vivemos”, frisou a Galp.

Quem é a possível parceira sueca da Galp na transição para o lítio?

Fundada em 2015, a sueca Northvolt foi já financiada pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) em 350 milhões de euros e tem planos para construir as maiores fábricas de baterias de lítio da Europa, para automóveis elétricos e armazenamento de energia, que deverão atingir plena capacidade em 2023.

A Northvolt quer rivalizar com a norte-americana Tesla e está ativamente à procura de fornecedores de níquel, cobalto e lítio. Em Portugal tinha já chegado à fala também com a Lusorecursos, para comprar o lítio que esta empresa vai extrair e refinar na mina de Montalegre, no norte do país, cujo projeto está neste momento em fase de aprovação na Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à espera de financiamento internacional na ordem dos 500 milhões de euros para a construção de uma refinaria de lítio mesmo ao pé da mina (que será em galeria, e não a céu a aberto, como em Boticas, ou na Mina do Barroso).

Também a Galp chegou a sondar a Lusorecursos para obter na mina de Montalegre a matéria-prima necessária para refinar na unidade industrial de Matosinhos, mas a empresa portuguesa de prospeção e exploração mineira no norte e centro de Portugal acabou por recusar o negócio por considerar que não se trata de um negócio rentável extrair o lítio da mina para depois o transportar para ser refinado a mais de 150 quilómetros de distância.

Nesta fase, a Galp estará precisamente à procura de um parceiro internacional que lhe forneça a matéria-prima para refinar, para depois poder entregar o tão desejado lítio à Northvolth. A questão é que importar lítio do estrangeiro para ser refinado em Portugal acaba por agravar a pegada ambiental deste minério que deve fazer parte da transição ambiental para um futuro mais eletrificado e com menos emissões.

Para a Galp, a opção de converter a refinaria de Leça da Palmeira para o lítio permite à empresa candidatar-se aos fundos de Bruxelas para a Transição Justa e assim evitar pagar a descontaminação dos terrenos, que não é despesa elegível para apoios comunitários.

“O Fundo para a Transição Justa da UE tem como objetivo de acautelar o futuro. Em boa hora o Governo português, quando confrontado com um valor de 200 milhões de euros que se destinava apenas às centrais e às regiões do carvão, como Sines que encerra agora em janeiro, achou que devia alagar geograficamente o apoio, incluindo também as atividades de refinação”, sublinhou.

Será no final do primeiro semestre de 2021 que Portugal saberá então ao certo como será feita a afetação das respetivas verbas de 200 milhões do Fundo de Transição Justa a cada um dos locais e a cada um dos projetos: a requalificação da central a carvão de Sines da EDP e da refinaria da Galp, em Matosinhos.

(Notícia atualizada com mais informações)

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