Presidente de Montalegre prefere volfrâmio a lítio. Lusorecursos garante que projeto avança
O autarca de Montalegre garante que a qualidade do lítio que virá a ser extraído na Mina do Romano não viabilizará o projeto. Lusorecursos diz que tem estudos que provam o contrário.
O presidente da Câmara Municipal de Montalegre, Orlando Alves, diz que o projeto de exploração de lítio na região não deverá avançar e quer, em alternativa, apostar no volfrâmio. O projeto em questão — que prevê um investimento de 500 milhões de euros para a exploração de uma mina, bem como a construção de uma refinaria — é da Lusorecursos, que garante querer avançar.
“As informações que me chegam é que o nosso lítio não vai avançar“, disse o autarca na Assembleia Municipal esta segunda-feira, depois de ter expressado esta mesma opinião numa reunião da Câmara Municipal no dia 30 de novembro, na qual ficou assente que seria preferível para a região dar parecer positivo à reativação da exploração de volfrâmio nas minas da Borralha (desativadas em 1986), tendo em conta a cotação em alta deste minério.
Em declarações ao ECO/Capital Verde, Orlando Alves explicou que esta afirmação se prende com informações que lhe foram avançadas por fontes do setor mineiro, conhecedoras do processo, que garantem que a qualidade do lítio que virá a ser extraído na Mina do Romano não viabilizará o projeto da empresa portuguesa de prospeção e exploração mineira.
Diz o autarca, que o que está debaixo da terra não é espodumena — um mineral que é a principal fonte do metal lítio –, mas sim petalite, que é um mineral a partir do qual também se pode obter lítio, mas menos rentável. “A petalite não é atrativa para as empresas que exploram o lítio. Não será fácil rentabilizar a exploração“, disse Orlando Alves.
Ao ECO/Capital Verde, fonte oficial da Lusorecursos garante que os estudos já realizados no terreno à petalite de Montalegre pelo seu parceiro tecnológico Outotec, a mesma empresa finlandesa responsável pelo projeto de lítio de Keliber, na Finlândia, revelam a viabilidade em permitir a extração de lítio de qualidade. Os relatórios foram já validados junto de parceiros financeiros internacionais, que os aceitaram para avançarem com investimento.
“Estamos disponíveis para falar com o presidente da Câmara Municipal de Montalegre e esclarecer todas as dúvidas que possam surgir sobre a Mina do Romano”, disse fonte da Lusorecursos. A empresa tem planos para aproveitar umas minas antigas que existiam no local, cortar 40 metros do topo (dos 960 aos 920 metros de altitude, e a partir daí desenvolver a mina de lítio em galeria, com a refinaria a ser construída nas imediações.
Por enquanto, a Câmara Municipal de Montalegre aguarda a avaliação do Estudo de Impacto Ambiental já entregue pela Lusorecursos à Agência Portuguesa para o Ambiente, que muito recentemente nomeou uma comissão de avaliação para o projeto, depois de vários meses a pedir esclarecimentos adicionais à empresa mineira.
Certo é que Orlando Alves não hesita em colocar-se ao lado da população e da associação Montalegre com Vida, que rejeitam a exploração de lítio na região, por oposição à Lusorecursos e ao Governo, que querem ver avançar a indústria do lítio no norte do país. “Tenho de estar solidário com a população, que está mais favorável ao volfrâmio. Há uma empresa luso-canadiana em prospeção, que pediu licença de exploração à DGEG [Direção Geral de Energia e Geologia], a quem já enviámos parecer o nosso parecer positivo com voto de qualidade do presidente“, disse o autarca.
O presidente da Câmara de Montalegre não é o primeiro autarca a questionar a exploração de lítio, que é uma das grandes apostas da política energética do atual Governo. Ainda esta segunda-feira, a homóloga de Matosinhos mostrou-se também reticente quanto à reconversão da refinaria da Galp.
“Não permitiremos que seja instalada nos terrenos da Petrogal qualquer solução que possa ser poluente. Do que conhecemos do lítio, é que pode de facto ter um impacto poluente. E isso não vamos permitir. E, portanto, a Câmara de Matosinhos não emitirá as licenças necessárias para que uma solução dessa natureza possa avançar”, afirmou, ao Jornal de Notícias, a presidente da Autarquia, Luísa Salgueiro.
O Governo tem noção do potencial do lítio português e recentemente o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Matos Fernandes, garantiu que “Portugal vai ter uma refinaria” e que faz sentido que a mesma esteja localizada a norte. Já há investidores norte-americanos interessados e também europeus. A sueca Northvolt quer rivalizar com a norte-americana Tesla e tem planos para construir as maiores fábricas de baterias de lítio da Europa, para automóveis elétricos e armazenamento de energia, que deverão atingir plena capacidade em 2023. Está neste momento ativamente à procura de fornecedores de níquel, cobalto e lítio.
Em Portugal chegou à fala com a Lusorecursos, para comprar o lítio que a empresa vai extrair e refinar na mina de Montalegre, no norte do país, cujo projeto está neste momento em fase de aprovação na Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e à espera de financiamento internacional na ordem dos 500 milhões de euros para a construção de uma refinaria de lítio mesmo ao pé da mina. “A Europa pode, sem dúvida, desempenhar um papel muito mais importante no abastecimento das matérias-primas de que a indústria de baterias elétricas necessita. Cadeias de valor curtas, fontes de energia renovável e exploração de depósitos domésticos são do nosso interesse. Portugal preenche muitas destes requisitos”, disse fonte oficial da empresa sueca.
A Galp chegou igualmente a sondar a Lusorecursos para obter na mina de Montalegre a matéria-prima necessária para refinar na unidade industrial de Matosinhos, mas a empresa portuguesa de prospeção e exploração mineira no norte e centro de Portugal acabou por recusar o negócio por considerar que não se trata de um negócio rentável extrair o lítio da mina para depois o transportar para ser refinado a mais de 150 quilómetros de distância.
Também o autarca de Montalegre, Orlando Alves, é desfavorável a este cenário, caso o lítio avance contra a sua vontade e da população. “Se o lítio for aqui extraído, privando as pessoas das suas terras, depois não pode ir para a beira-mar, beneficiar os do litoral”, rematou.
(Notícia atualizada com mais informações)
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