Católica já dá o ano como perdido e vê economia portuguesa a encolher 2% em 2021
Os economistas da Católica já dão o ano como perdido e antecipam uma contração da economia de 2% em 2021 em vez de um crescimento.
A Católica reviu significativamente em baixa as previsões económicas para 2021. Em vez de um crescimento de 2,5% este ano, os economistas colocaram agora como cenário central uma contração do PIB de 2%, o que é justificado pelo “confinamento severo” em que o país se encontra atualmente. Contudo, assumem que há muita incerteza e que não é de excluir que a recuperação posterior seja forte o suficiente para compensar as perdas do arranque do ano.
“Aquilo que era um evento de probabilidade importante, mas baixa, tornou-se uma certeza”, refere o Católica Lisbon Forecasting Lab na folha trimestral de conjuntura divulgada esta quarta-feira, explicando “esta previsão assume que a economia em 2021 deverá andar ao nível do terceiro ou quarto trimestres de 2020 se for possível aliviar as medidas de confinamento, mas baixará para valores não muito melhores do que os observados no segundo trimestre do ano passado em confinamentos semelhantes ao que está atualmente em vigor“.
Os economistas da Católica consideram que “tal poderá não ser suficiente para assegurar crescimento económico já este ano, especialmente num cenário de confinamento prolongado como o que se antecipa”. Contudo, não eliminam já a possibilidade do PIB crescer dada a “singularidade” da evolução da economia em tempos de pandemia e as “decisões não convencionais” dos Governos. “A hipótese de crescimento não pode ser excluída à partida, dado que o terceiro trimestre do ano passado ilustra bem a possibilidade de uma recuperação rápida quando se aliviam as medidas de confinamento”, consideram.
Como a incerteza das previsões é ainda “muito elevada”, a Católica define três cenários: um pessimista em que o PIB contrai 4% em 2021, um cenário central em que a contração é de 2% e um otimista em que cresce 3%. O Governo construiu o Orçamento do Estado para 2021 (OE 2021) assumindo que o PIB ia crescer 5,4% este ano. Entre as principais instituições que fazem previsões, a pior é a da OCDE que prevê um crescimento de apenas 1,7%.
Nos três cenários as previsões apontam para que Portugal tenha um desempenho pior do que o da Zona Euro, a qual continua a crescer 3% no cenário central e mesmo no cenário pessimista mantém o nível do PIB de 2020. No cenário otimista, o PIB da Zona Euro poderá crescer 6%.
Para o mercado de trabalho, a expectativa dos economistas não é tão pessimista quanto para o PIB. No cenário central, a taxa de desemprego sobe para os 7,6% (8,1% no cenário pessimista e 6,5% no cenário otimista), o que representa um agravamento ligeira. A OCDE, por exemplo, antevê uma subida do desemprego para os 9,5%.
A Católica antecipa também que vá ser necessário um Orçamento Suplementar em 2021 dada a “deterioração das contas públicas” superior ao esperado face a uma evolução pior da economia. “A economia portuguesa entra em 2021 num ambiente de elevada incerteza associada à evolução da pandemia, da administração de vacinas e das medidas de confinamento, bem diferente do que se antecipava há poucas semanas”, consideram, afirmando que “o Governo deverá acrescentar alguma incerteza a este quadro complexo por via do seu comportamento imprevisível e hesitante“.
Um 2021 pior do que o antecipado anteriormente irá contribuir para adiar ainda mais a plenitude da recuperação. Na visão dos economistas da Católica o crescimento dos anos de 2022 e de 2023 não será suficiente para recuperar o PIB registado em 2019, aumentando o número de anos “perdidos” por causa da crise pandémica. O cenário central é que o PIB cresça 4,5% em 2022, “por via da baixa probabilidade de confinamento nesse ano”, e 3,5% em 2023. A concretizarem-se estas previsões, o PIB ainda estará 3% abaixo do nível de 2019 no final de 2023.
PIB contraiu 8,4% em 2020. Economia cedeu no quarto trimestre
Estas previsões da Católica assumem que o PIB contraiu 8,4% no conjunto de 2020 — “o pior registo de sempre nas séries modernas da economia portuguesa” –, ligeiramente abaixo da queda de 8,5% prevista pelo Governo. No quarto trimestre, a economia voltou a encolher, em vez de manter a recuperação do terceiro trimestre, por causa das maiores restrições para controlar a pandemia: os economistas antecipam uma queda em cadeia de 2,8% e uma quebra homóloga de 9%.
“A quebra teria sido ainda pior na ausência das medidas de apoio à economia introduzidas a partir de abril com destaque para os apoios ao emprego em situação de paragem, redução ou retoma de atividade, moratórias de crédito, concessão de novos créditos subsidiados e medidas de estímulo monetário do BCE”, lembra a Católica, referindo que a generalidade das economias está a registar “oscilações inusitadas”.
A atividade económica “está a evoluir de forma muito assimétrica” com o turismo a registar as maiores perdas, seguindo-se o retalho não alimentar (vestuário e calçado, por exemplo) ou os serviços de proximidade, ainda que com perdas menos pronunciadas. Já o retalho alimentar e o de bens tecnológicos “resiste” e setores como o da construção, indústria e agricultura “estão a resistir relativamente bem” à crise pandémica.
(Notícia atualizada às 12h13 com mais informação)
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