Provisões para o fim das moratórias vão pesar nas contas da banca portuguesa, alerta a Fitch
A saída do regime das moratórias será um fator chave para a banca e para toda a economia. Agência de rating espera uma recuperação a partir do segundo semestre, mas vê incerteza.
Se 2020 já não foi um ano favorável para o setor da banca, 2021 poderá ainda não ser de recuperação, alerta a Fitch. Os bancos portugueses poderão ter de fazer provisões este ano para preparar o fim das moratórias, penalizando assim as contas, enquanto a capacidade de vender malparado poderá ser determinante para manter a qualidade dos ativos.
“Prevemos que 2021 sejam um ano fraco para a banca portuguesa, nalguns casos até pior que 2020”, afirmou Rafael Quina, analista da Fitch e diretor de análise para instituições financeiras, num webinar organizado esta quinta-feira. “No que diz respeito à rentabilidade, 2020 já foi fraco. 2021 não parece particularmente brilhante. Não esperamos uma recuperação dos lucros e esperamos que as provisões continuem a aumentar no segundo semestre à medida que os bancos preparam o fim das moratórias”.
Os bancos em Portugal têm 46 mil milhões de euros em crédito que não irá a render juros e/ou prestações até ao fim do terceiro trimestre. O montante equivale a mais de 20% de todo o crédito concedido à economia, sendo uma das taxas mais elevadas da Europa. “É extremamente elevada”, alerta Quina. Apesar de este regime estar, neste momento, a limitar as perdas de crédito para a banca, as dúvidas centram-se sobre o fim deste período.
Para o prevenir, as instituições financeiras poderão fazer provisões, mas isso irá castigar os resultados, que já estão a ser fortemente penalizados, não só pela crise como pelo ambiente de baixas taxas de juros e curta rentabilidade. Por outro lado, para manter os níveis de qualidade dos ativos, podem procurar vender carteiras de non-performing loans (NPL), ou seja, crédito malparado. “A venda de NPL pode melhorar muito a qualidade dos ativos dos bancos“, acredita o analista da agência de rating.
Apesar de o cenário ser negativo, Rafael Quina sublinha que nem todos os bancos estão na mesma situação. A Caixa Geral de Depósitos, o BPI, o Santander Totta e o BCP são vistos como mais resiliente do que o Montepio ou o Novo Banco. Aliás, a incerteza sobre a recapitalização do banco liderado por António Ramalho — no seguimento do travão aprovado pelo Parlamento — é um dos fatores que a Fitch vai monitorizar em relação ao futuro da banca portuguesa.
Dívida abaixo de 130% só em 2023
“Os bancos estão mais resilientes hoje do que antes da última crise. Vai ser importante ver a reação deste confinamento e a qualidade de ativos”, disse Quina, acrescentando que “a crise atual penaliza fortemente o turismo, o que coloca pressão adicional na banca“. O alerta sobre a exposição de Portugal ao turismo é partilhado por Alex Muscatelli, economista e analista de rating soberano.
A Fitch antecipa que a economia portuguesa cresça 4,8% em 2021, depois da queda de 7,6% no ano passado. Após o início da retoma ao longo deste ano, a agência antecipa uma expansão de 2,4%, 2% e 1,7% nos três anos seguintes. “Estamos num momento de fraca atividade económica [em toda a Zona Euro], mas esperamos uma melhoria na segunda metade do ano“, afirmou Muscatelli. Sublinhou, ainda assim, que a crise sanitária, o aumento das falências de empresas e o impacto no mercado de trabalho são grandes incertezas.
A recuperação do PIB poderá também ajudar a colocar a dívida pública portuguesa no caminho da diminuição. As projeções da agência apontam para um rácio da dívida recorde de 136,2% em 2020, antes de começar a cair para 133,5% este ano e baixa da marca dos 130% em 2023.
“O rácio da dívida face ao PIB está muito elevado em todo o lado, mas o acesso ao financiamento manteve-se possível“, acrescentou o responsável pelo rating soberano da Fitch, apontando o apoio dos bancos centrais, que se espera que continue a apoiar as baixas taxas de juro.
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