Bolsa de Lisboa e reguladores “abrem diálogo” sobre GameStop
Presidente da Euronext Lisboa, Isabel Ucha, diz ao ECO que não é impossível que uma situação semelhante aconteça na Europa, mas as diferenças entre a região e os EUA tornam o fenómeno improvável.
A bolsa de Lisboa e os reguladores juntaram-se para perceber o fenómeno GameStop e avaliar quais as lições que se podem tirar. A presidente da Euronext Lisbon, Isabel Ucha, explica ao ECO que discutir mercados financeiros nas redes sociais não é diferente de o fazer num café, mas sublinha que é preciso garantir que os investidores têm toda a informação relevante para tomarem decisões.
“As redes sociais são uma forma de comunicação como qualquer outra e resultam de uma evolução da forma como as pessoas comunicam. Antigamente, as pessoas iam ao café e discutiam a compra de ações, agora vão às redes sociais, ao fórum do Reddit… E discutem a compra e venda de ações. Nesse sentido, não é muito diferente”, afirmou Ucha sobre o papel das redes sociais. A propósito deste caso em particular, temos um diálogo aberto com o regulador porque estes casos merecem atenção“.
A rede social Reddit esteve no centro da história dos pequenos investidores vs Wall Street no início do mês. Num movimento concertado no fórum Wall Street Bets, investidores de retalho levaram a empresa de jogos de vídeos norte-americana GameStop a valorizar 1.500% praticamente de um dia para o outro. A vertente “justiceira” do gesto recebeu força adicional quando dois grandes fundos que tinham posições curtas admitiram perdas significativas.
"Houve movimentos muito bruscos de cotações, houve perdas e ganhos muito elevados em muito pouco tempo. São situações que revelam alguma anormalidade no funcionamento do mercado e portanto merecem toda a atenção.”
“Houve movimentos muito bruscos de cotações, houve perdas e ganhos muito elevados em muito pouco tempo. São situações que revelam alguma anormalidade no funcionamento do mercado e, portanto, merecem toda a atenção. A Euronext — pela responsabilidade que tem — e os reguladores estão a olhar, a perceber o que é que aconteceu e que ensinamento é que se pode tirar. O que queremos sempre garantir é que os investidores têm a informação relevante para tomarem as suas decisões”, diz.
A presidente da bolsa considera necessário ir observando a evolução da forma como as pessoas comunicam e da forma como a comunicação lhes chega para se perceber se a informação relevante chega na forma correta. “Não temos ainda uma posição definida nem fechada sobre o assunto, mas estamos a avaliar”, acrescentou sobre o trabalho a ser desenvolvido com a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) e os reguladores europeus.
Replicar numa ação europeia? É pouco provável
O fenómeno GameStop colocou sob holofotes as questões de segurança associadas ao uso de redes sociais por investidores não qualificados, nomeadamente entre os mais jovens. A presidente da Euronext Lisbon desvaloriza uma relação direta, mas sublinha que as redes sociais têm mostrado é — até noutros temas que não só o mercado de capitais — a capacidade para mobilizar números muito significativos de pessoas para tomarem uma determinada decisão.
“Este caso do GameStop foi um desses casos. Aquela rede, por ter muitos utilizadores, mostrou a capacidade de mobilizar utilizadores para tomarem uma decisão de investimento. É preciso é perceber se essas decisões não têm nenhum contorno menos legal. Isso tanto acontece num fórum como fora dele. Atividades que possam conduzir ao squeeze out de ações são ilegais, quer sejam organizadas a partir de uma rede social ou nalgum outro sítio”, afirma.
"Há um conjunto de diferenças que — apesar de não ser impossível — parece-nos menos provável que um fenómeno desta dimensão seja replicável na estrutura dos mercados europeus neste momento.”
Quanto à possibilidade de acontecer em Portugal, Isabel Ucha aponta que o fenómeno foi impulsionado pelo “crescente interesse e participação dos investidores de retalho no mercado de capitais“, que já se vinha a verificar e pelo fenómeno da pandemia e do confinamento veio a aumentar substancialmente. Nos mercados em geral, em 2020, a participação dos investidores de retalho aumentou 80% face a 2019. Em Portugal, esse aumento também aconteceu.
Por outro lado, há vários fatores de diferenciação. Nos Estados Unidos, há maior tradição de poupança e investimento no mercado de capitais por parte de investidores de retalho, enquanto a regulação permite aceder a produtos complexos que são vedados aos aforradores na Europa. Além disso, os próprios mercados são diferentes, sendo mais mais fragmentados na Europa, com maior número de plataformas de clearing e circuit breakers que travam a negociação de uma ação quando há determinada variação (de 8% nas ações com mais liquidez).
“Há um conjunto de diferenças que — apesar de não ser impossível — parece-nos menos provável que um fenómeno desta dimensão seja replicável na estrutura dos mercados europeus neste momento. Se na Europa ou em Portugal entendemos que pode acontecer? Talvez, mas as diferenças entre EUA e a Europa — e Portugal em particular — é muito grande“, acrescenta.
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