BRANDS' TRABALHO Por que falham as transformações digitais?
Tânia Ribeiro, Senior Manager EY, People Advisory Services, tenta responder à questão focando-se em quatro aspetos: estratégia; estrutura e processos; comunicação e cultura; e colaboradores.
Face à transformação digital em curso, muitos biliões têm sido injetados no mercado para garantir a sua aceleração. Acontece que, se por um lado muitas empresas viram o retorno do seu investimento concretizado, muitas outras ficaram longe da sua ambição. Este facto traduziu-se num survey realizado nos EUA onde, face aos milhões perdidos, uma das principais preocupações dos CEOs se centrou especificamente nos riscos associados à transformação digital.
Neste cenário, uma questão se coloca: porque é que muitas empresas estão a ser bem-sucedidas e outras não? A tecnologia garante ganhos de eficiência e permite, mesmo à distância, uma relação próxima e personalizada com o cliente. Então porque é que esta premissa nem sempre é comprovada com dados reais do negócio? Por que falham as transformações digitais?
Procurando dar uma resposta curta e simples a tão complexa problemática, as transformações falham porque muitos colaboradores e organizações não têm o mindset ajustado para esta mudança. Ao colocar tecnologia, velocidade e ambição neste processo de transformação, se as pessoas e empresas não estiverem preparadas para o caminho, todas as falhas existentes – ao nível da estratégia, estrutura, processos e pessoas – serão exponencialmente aumentadas.
" Transformar organizações e pessoas, sem comprometer o ritmo do negócio, é um caminho complexo, que exige uma equipa dedicada e experiente. O desafio é grande mas recompensador, e essencial para assegurar vantagem competitiva no futuro.”
Foquemo-nos assim em quatro aspetos essenciais:
- Estratégia: a transformação digital deve ser liderada pela estratégia (aquilo que o negócio pretende alcançar) e não pela tecnologia, como acontece frequentemente. Os objetivos devem suportar de forma clara a estratégia e estarem traduzidos num roadmap macro, que dê visibilidade de todos os projetos em curso, as suas interdependências e evoluções, com o objetivo de alinhar todos os stakeholders, otimizar o fluxo da cadeia de valor e garantir as implementações nas datas previstas.
- Estrutura e processos: com a introdução da tecnologia é necessário fazer evoluir as missões e ajustar o governance, no sentido de ter uma estrutura mais flat e as pessoas focadas em atividades de maior valor acrescentado. Os processos e workflows devem ser simples e claros, para não retirarem velocidade à transformação nem assumirem um papel de destaque, que deve estar associado às pessoas e suas interações.
- Comunicação e cultura: a transformação exige esforço. É essencial uma narrativa de mudança que assegure um propósito, clarifique o caminho e mobilize os colaboradores. A cultura e os valores que a suportam têm de evoluir para aspetos como: ser data driven e ágil na tomada de decisão, ter capacidade de testar, medir e ajustar, conseguir aprender em rede, gerir a ambiguidade e construir em conjunto. Não basta, contudo, garantir esta evolução e agilidade ao nível das equipas. As organizações devem ser ágeis no seu todo, caso contrário ficam reféns de silos e de velocidades diferentes, que hipotecam a transformação em curso.
- Colaboradores: a tecnologia é vista por muitos colaboradores como uma ameaça, pelo que resistem à sua adoção. É essencial que estes se sintam seguros sobre o futuro, sejam apoiados no seu desenvolvimento e na aquisição de novas competências. O sucesso da transformação digital não está em seguir o plano, mas em ter a capacidade de responder às constantes mudanças, e por este aspeto (e todos os outros aqui apresentados), os colaboradores têm de ser o centro da transformação.
Parece fácil de implementar. Não é. Transformar organizações e pessoas, sem comprometer o ritmo do negócio, é um caminho complexo, que exige uma equipa dedicada e experiente. O desafio é grande mas recompensador, e essencial para assegurar vantagem competitiva no futuro.
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