Casamentos adiados já para 2022 porque noivos querem festas de sonho sem desconvidados
Os prejuízos são inúmeros em todo o setor nupcial, tanto nas lojas de roupa de cerimónia como nas quintas. E com as restrições da Covid-19, há já muitos casamentos adiados para 2022.
O casamento e o setor nupcial enfrentam uma crise sem precedentes há um ano devido à Covid-19, com os matrimónios adiados para 2021 e 2022, porque os nubentes preferem fazer a festa de sonho sem desconvidar dezenas de pessoas.
Na Quinta de Sonhos, em Ermesinde, concelho de Valongo, no distrito do Porto, as festas marcadas no ano passado foram adiadas para 2021, e muitas estão já a ser remarcadas para 2022, conta Maria Teresa Dias, proprietária do espaço, que realiza eventos há 21 anos e que registou quebras no negócio na ordem dos 90% em relação aos anos pré-Covid-19.
Os prejuízos são inúmeros em todo o setor nupcial, tanto nas lojas de roupa de cerimónia, com trabalho acrescido para desinfetar vestidos e gabinetes de provas, como nas quintas, em que as regras contra a Covid-19 impõem que a partir de segunda-feira haja só 25% da ocupação normal do espaço para a festa, prevendo-se que em maio passe para 50% da ocupação.
Os dois casamentos na Quinta de Sonhos que estavam previstos para este ano com cerca de 100 convidados foram reduzidos para 30 e 40 pessoas. “A perspetiva para 2021 é péssima”, constata Maria Teresa Dias.
“As festas agora são muito pequeninas. Casamentos de 200 pessoas passam para 30 e tal pessoas”, relata Joana Macedo, organizadora de eventos em Vila Nova de Gaia, referindo que um dos principais problemas com que se depara nesta retoma após o segundo confinamento é a dificuldade em obter matérias-primas, como flores naturais. Os floricultores não plantaram por medo de ter de deitar tudo para o lixo como sucedeu em 2020, e este ano há muita falta de flores.
“Uma festa implica muita coisa. Desde iluminação, catering, serralharia, carpintaria. Carpinteiros que querem ir buscar coisas e os fornecedores estão fechados ou não têm ‘stock’. Não tem sido tão fácil como parece”, desabafa Joana Macedo, emocionada, dizendo que o setor está em “crise” e que é preciso ter “alguma estrutura para vencer a etapa”.
A crise também atingiu a Quinta das Camélias, em Avintes, concelho de Gaia.
Dos 17 casamentos planeados para 2020, apenas dois aconteceram, conta Raquel Nogueira, gestora da estrutura, referindo que os restantes matrimónios agendados foram adiados para este ano e para 2022.
Naquela quinta, um convidado dum casamento custa, em média, 125 euros. Se uma festa tiver 150 convidados, são mais de 18 mil euros que se perdem. Contudo, estes prejuízos talvez venham a recuperar-se este ano, porque a quinta tem capacidade para 500 pessoas e mesmo com as regras impostas, no âmbito do combate à Covid-19, ainda consegue receber muita gente.
Com a pandemia houve uma redução no mundo nupcial, mas a maioria não desistiu, apenas adiou a boda. Algumas noivas vão casar grávidas, porque o projeto de vida continuou mesmo em tempos de pandemia, conta à agência Lusa Cristiana Santos, gerente da loja Pronoivas na Rua de Santa Catarina, no Porto.
Sofia Magalhães, organizadora de eventos e ‘catering’ para casamentos em Matosinhos, relata que tinha a marcação de um casamento para 2020 que depois foi remarcado para este ano por causa das restrições da pandemia, mas, entretanto, a noiva engravidou e a boda foi agora remetida para 2022.
A pandemia fez também com que haja noivas a casar com o segundo filho a vir a caminho, conta, por seu turno, Adelaide Costa, gerente de outra loja de vestidos de noiva, reconhecendo que no setor está tudo complexo para as “noivinhas”.
“Isto é realmente um projeto de vida que as noivinhas fazem, mas ficam baralhadas com isto que se está a passar em todo o mundo. Há noivas que compraram o vestido de noiva em 2018 e em 2019. O projeto de vida delas era ir com isto para a frente e como adiaram [o casamento] já ficaram de bebé, já tiveram um filho. E há meninas que estão à espera do segundo”, conta.
A maternidade faz também com que os vestidos de noiva tenham de ser alterados, mas “os sonhos não foram cancelados, simplesmente adiados”, resume Cristiana Santos.
A seta do Cupido tentou resistir à crise da Covid-19, mas não conseguiu que alguns noivos desistissem de casar, acrescentou Maria Teresa Dias.
Apesar de sonhos adiados ou até cancelados, há noivos resilientes que acreditam que o casamento vai acontecer.
É o caso de Eva Moreira, 29 anos, e do seu noivo, que têm planeado casar no dia 25 de setembro, na Igreja de Marco de Canaveses. Está consciente, contudo, que pode ter de suspender a boda.
“Se for necessário vamos cancelar, não vamos pôr ninguém em risco. Não queremos correr o risco de aparecer um surto”, assume, acrescentando que vão manter o número de convidados previsto desde o início.
Como a quinta que escolheram tem capacidade para 300 pessoas, se tiverem de reduzir para metade o número de convidados o espaço ainda comporta os 150 previstos, porque ninguém quer “desconvidar”, concluiu.
A partir de segunda-feira, na maioria dos concelhos do país celebrações como casamentos ou batizados podem realizar-se com limitação de 25% da lotação dos recintos, no âmbito do plano de desconfinamento definido pelo Governo.
Na apresentação das diferentes datas do plano, o primeiro-ministro indicou que depois de 03 de maio “as celebrações, como casamentos ou batizados, poderão ter uma lotação de 50%” da capacidade do espaço.
A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 2.987.891 mortos no mundo, resultantes de mais de 139 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 16.937 pessoas dos 829.911 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
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