Regimes híbridos, benefícios e bónus no salário. Como se prepara o futuro do trabalho?
Apesar de algum receio em tomar já decisões, algumas empresas estão a dar os primeiros passos naqueles que serão os novos modelos de trabalho. Flexibilidade e bem-estar são palavras de ordem.
A generalidade das empresas está, ainda, a “apalpar terreno”. As organizações não querem tomar decisões num clima que ainda é de incerteza. No entanto, algumas têm vindo a adiantar-se e já estão a adotar novas medidas, a desenhar e testar aqueles que serão os seus modelos de trabalho do futuro, avançando com regimes 100% remotos ou híbridos, escritórios totalmente renovados, bem como prémios e recompensas para os colaboradores.
Uma das mais recentes notícias nesse sentido chegou por parte da Liberty Seguros, que anunciou aos dois mil colaboradores em Portugal, Espanha, Irlanda e Irlanda do Norte que passariam, de forma definitiva, a trabalhar a partir de qualquer lugar, seguindo assim um modelo de trabalho remoto. E 99% dos colaboradores aderiram a este regime.
“Esta é uma decisão em linha com a nossa identidade e valores e que tem em conta as necessidades de conciliação da vida pessoal e profissional dos nossos colaboradores. Além disso, é mais um passo no modelo de negócio na cloud, no qual já estamos a trabalhar e que estará totalmente operacional em 2024″, afirmou Juan Miguel Estallo, CEO da Liberty Europa, na altura do anúncio.
O modelo fully remote da seguradora, que se torna a primeira companhia de seguros 100% digital e baseada na cloud pública na Europa, permite, no entanto, que os colaboradores possam passar “até dois dias por semana no escritório, assim que a pandemia passar, para realizar atividades específicas ou reuniões presenciais”.
Benefícios, incentivos e recompensas
Além disso, a Liberty Seguros decidiu, também, melhorar as condições laborais dos colaboradores, adicionando 660 euros brutos por ano aos seus rendimentos para cobrir despesas de teletrabalho, numa altura em que o tema das despesas de eletricidade e internet quando se está em teletrabalho tem estado em cima da mesa e levado algumas empresas a avançar com ajudas de custo.
A Blip, por exemplo, anunciou em novembro que iria reforçar o apoio aos trabalhadores, passando a oferecer a cada um dos 330 colaboradores em teletrabalho um bónus de 650 euros. Além de 250 euros, que já estavam a ser concedidos para apoiar a aquisição de material de escritório, a empresa adicionou 400 euros para fazer face às despesas de eletricidade e gás durante os meses de inverno.
O bónus extra salarial é uma das medidas que tem sido adotada por algumas empresas, não só para cobrir despesas, mas também para reconhecer o compromisso e flexibilidade dos colaboradores. A Seat disse esta semana que vai recompensar os colaboradores pelo esforço demonstrado durante o ano passado. A marca espanhola de automóveis, que distribui um pagamento extra há quatro anos, vai entregar 400 euros brutos aos seus funcionários, apesar de a pandemia mundial ter impedido um resultado positivo na empresa.
Recompensar é uma das palavras de ordem, mas há muitas formas de premiar, promover a flexibilidade e o bem-estar dos colaboradores. A PwC comunicou na semana passada aos trabalhadores em Portugal que vão poder escolher, independentemente do seu cargo, função ou tempo de empresa, oito tardes de sexta-feira. Entre 1 de maio e 30 de setembro, cada um dos 1.600 colaboradores pode escolher oito tardes para gozar. Tal medida de redução de horário não implicará redução do salário. Esta decisão vem na sequência da notícia de que a PwC vai aplicar uma medida semelhante no Reino Unido.
Trabalhar a partir de qualquer lugar
Ainda que não tenha seguido um modelo totalmente remoto, como o da Liberty, a consultora decidiu implementar no Reino Unido um modelo de trabalho híbrido, permitindo aos funcionários decidir quantos dias querem estar em teletrabalho e no escritório.
A Revolut também caminha para um modelo cada vez mais flexível. Em fevereiro avançou que ia adotar um modelo de trabalho híbrido e este mês anunciou que, assim que as restrições no que toca a viajar forem levantadas, vai permitir aos colaboradores trabalhar a partir de qualquer parte do mundo, até 60 dias por ano. “Quando as restrições com viagens forem levantadas – e tendo sempre em consideração as indicações das autoridades nacionais de saúde -, os colaboradores da Revolut terão a possibilidade de trabalhar, temporariamente, a partir de uma localização diferente do país da sua residência fiscal/contratual”, disse a empresa em comunicado.
"Os nossos colaboradores pediram flexibilidade e é isso que lhes estamos a dar, mantendo foco na experiência e poder de escolha dos colaboradores.”
Desta forma, os colaboradores passam a poder submeter pedidos para trabalhar fora do país, por motivos pessoais, durante até 60 dias, ao longo de um período de 12 meses. Para Jim MacDougall, vice-presidente de people na Revolut, esta política vai ser um “enorme sucesso”, na medida que responde diretamente às necessidades e preocupações das pessoas. “Os nossos colaboradores pediram flexibilidade e é isso que lhes estamos a dar, mantendo foco na experiência e poder de escolha dos colaboradores”, explicou na altura do anúncio.
Escritórios adaptados ao trabalho colaborativo
Não basta alterar os modelos de trabalho, passando para modelos híbridos e mais flexíveis, é preciso também olhar para o espaço de trabalho e definir o que é que as pessoas vão fazer ao escritório e o que fazem em casa. Para a generalidade das empresas e especialistas, os escritórios vão passar a ser, sobretudo, locais de convívio e trabalho colaborativo.
Para adaptar o local de trabalho às novas dinâmicas, muitas empresas já começaram a fazer alterações nos escritórios. A Revolut foi uma das primeiras a transformar os seus escritórios em escritórios desenhados para o trabalho coletivo, os RevLabs. Estes espaços dão prioridade ao “trabalho colaborativo” e que têm como objetivo “melhorar a experiência para os funcionários”.
Os RevLabs vão permitir à empresa ajustar-se rapidamente ao crescimento do número de trabalhadores. Os escritórios serão adaptados para servirem melhor o trabalho colaborativo, estando previstos espaços de brainstorming, formação e troca de conhecimento, “algumas das interações cara-a-cara de que as pessoas sentiram falta durante os períodos de confinamento”, sublinha a Revolut.
A decisão surgiu, mais uma vez, no seguimento de questionários feitos aos trabalhadores da plataforma. A conclusão foi que 98% dos colaboradores da Revolut considera “positiva” a experiência de trabalho remoto e 90% dos líderes de equipas assegura que a performance não foi afetada. No entanto, 65% dos inquiridos assume que deseja liberdade para ir ao escritório quando quiser.
As novas instalações da PHC Software, em Oeiras, no Taguspark, foram construídas a pensar precisamente no futuro do trabalho e da produtividade das empresas. Com capacidade para 300 postos de trabalho, distribuídos em mais de quatro mil metros quadrados de área de trabalho, são pensadas de raiz para um modelo híbrido onde o foco de trabalhar em casa se alterna com momentos de interação, cooperação e criatividade dentro do escritório.
"Quisemos ir além da ideia convencional de empresa e criar uma verdadeira House of Digital Business, onde os nossos colaboradores têm todas as condições para ser altamente produtivos e com elevadas condições de bem-estar.”
Aos postos de trabalho juntam-se auditórios, salas para demonstrações cinematográficas de software, laboratórios de user experience, incubadoras de startup ou uma biblioteca digital. Além disso, existem espaços lúdicos e dedicados ao bem-estar, como ginásios, salas com instrumentos musicais e videojogos e serviços wellness.
“Quisemos ir além da ideia convencional de empresa e criar uma verdadeira House of Digital Business, onde os nossos colaboradores têm todas as condições para ser altamente produtivos e com elevadas condições de bem-estar. Estas instalações são mais do que um edifício, na medida em que são um verdadeiro conceito que nos prepara para criar uma experiência incrível para os colaboradores e clientes. Queremos criar ainda mais valor para a sociedade”, refere Ricardo Parreira, CEO da PHC Software.
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