Blue New Deal: “Há concelhos onde o nível de serviço da água deve ter uma melhoria muito grande”
O ministro do Ambiente e da Ação Climática deixou uma mensagem positiva relativamente ao futuro da água, mas também alertou para alguns problemas que ainda podem surgir se nada for feito.
Na conferência “Blue New Deal”, realizada esta quinta-feira, em Vila Nova de Gaia, marcou presença o ministro do Ambiente e da Ação Climática de Portugal, que realçou a importância dos recursos hídricos para a vida de todas as espécies. A ameaça das secas, mas também das cheias foram outros dos temas abordados pelo ministro.
Foram dois os temas que marcaram o evento: a gestão sustentável dos recursos hídricos como pilar de uma transição climática e os serviços públicos de água como motores da transformação ecológica. João Pedro Matos Fernandes, ministro do Ambiente e de Ação Climática de Portugal, fechou o evento com uma mensagem positiva relativamente ao futuro da água, mas também alertou para alguns problemas que ainda podem surgir se nada for feito.
“Com o crescimento dos fenómenos extremos de pluviosidade, em consequência do que já são hoje as alterações climáticas e os seus efeitos, é essencial podermos olhar para a rede de infraestruturas, que não deixa de ser, também, uma forma de gerir os recursos hídricos. Estes dois temas são temas essenciais e mais ainda num país e num tempo onde a água é, cada vez mais, e de forma mais evidente um recurso escasso”, começou por dizer.
Neste sentido, o ministro realçou a seca que, principalmente a sul do país, já é uma realidade, mas também chamou a atenção para as cheias que também continuam a ser uma preocupação. “A sul do Rio Tejo, a seca deixou de ser conjuntural para passar a ser estrutural. Temos então que, em primeiro lugar, cuidar das origens. E cuidar das origens é cuidar dos recursos hídricos. Temos que ter rios limpos, com as margens tratadas, preparados para os fenómenos de cheias e o facto de chover menos ao longo do ano não reduz, de forma alguma, o risco desses mesmos fenómenos de cheia poderem surgir”, alertou.
“Maior número de bandeiras azuis de sempre”
“Temos em Portugal, este ano, o maior número de bandeiras azuis de sempre: 372. Há pouco mais de 20 anos eram 65. Isto quer dizer que o esforço na melhoria da qualidade das massas de água e, também, das águas costeiras em consequência do esforço que está a ser feito, principalmente por parte das autarquias, para o tratamento dos efluentes, tem dado resultados”, revelou o ministro do Ambiente e de Ação Climática.
João Pedro Matos Fernandes referiu ainda que Portugal é o segundo país na Europa que tem mais bandeiras azuis em praias do interior. Ao todo são 41.
No entanto, apesar de apresentar dados positivos, o ministro também fez questão de deixar claro que ainda há muito para fazer nesta área: “Depois do esforço enorme, dos 11 mil milhões de euros foram investidos nos últimos 25 anos, é essencial nós cuidarmos desta dimensão da gestão, concluindo, naturalmente, aquilo que ainda está em falta. E ainda há concelhos em Portugal onde o nível de serviço da água deve ter uma melhoria muito grande”.
Dentro dos concelhos que precisam de especial atenção, o ministro do Ambiente e de Ação Climática destacou a região do Algarve. “No Plano de Recuperação e Resiliência fizemos uma aposta clara na região do país onde é mais frágil, hoje, a segurança do acesso à água, que é o Algarve, com um investimento de 200 milhões de euros, todo ele pensado na perspetiva de eficiência, todo ele pensado não na perspetiva de termos mais água, mas de garantirmos, isso sim, que não vamos ter menos água”, explicou.
Pensar na água como um bem essencial a todos, não só para os humanos
“Nunca nos podemos esquecer de uma coisa: a água é essencial para a vida de todos os seres vivos, ou seja, quando pensamos na gestão da água, temos sempre de pensar na perspetiva do ecossistema. Não é gratuitamente que se podem cortar rios e fazer barragens ou açudes. Elas têm mesmo de ser muito bem avaliadas porque, de outra forma, podemos estar a pensar só em nós e não a pensar em todas as outras espécies que são fundamentais para a nossa vida”, advertiu João Pedro Matos Fernandes.
O ministro explicou, ainda, que esta perspetiva resulta de um dos dois verbos-chave do Acordo de Paris, que é o verbo adaptar. “Quem tem de se adaptar não são os recursos a nós, quem tem de se adaptar somos nós aos recursos que a natureza nos dá, que nós sabemos que tem limites e a nossa atividade está a pôr em causa a estabilidade desses mesmos limites porque estamos, de facto, em muitos casos, a ultrapassá-los”, admitiu.
Neste ponto também foi abordada a necessidade de garantir a melhor gestão do tratamento de águas a fim de prevenir a sua escassez. “É importante ter massas de águas onde a qualidade da mesma água é cada vez melhor, sistemas domiciliários e sistemas de serviços de água equilibrados do ponto de vista financeiro, robustos do ponto de vista técnico e, depois, o tratamento dos efluentes que rejeitamos, mas sempre com esta perspetiva de fundo que é, também, a de cuidar bem desta rede”, disse o ministro do Ambiente e da Ação Climática.
“Dizer que a água é vida é uma frase muito simpática, mas nunca nos podemos esquecer que a água não é vida só para nós, a água é vida para todas as espécies e é por isso que temos de cuidar dela, sendo parcimoniosos no seu uso e garantindo que os ecossistemas se mantêm tão naturais quanto é possível eles manterem-se”, concluiu.
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