Frasquilho sai da TAP por falta de “conjugação de vontades” com o acionista Estado
Chairman vai deixar funções dentro de duas semanas e, numa carta aos trabalhadores, explica que não houve um encontro de vontades com o Estado. Sai com "a tranquilidade do dever cumprido".
Miguel Frasquilho prepara-se para deixar a TAP após “quatro anos muito intensos, repletos de desafios e dificuldades” e garante que sai com “a tranquilidade do dever cumprido”. Numa carta aos trabalhadores, o ainda chairman explica que a não houve “conjugação de vontades” com o acionista Estado pelo que cessará funções após a Assembleia Geral de acionistas marcada para 24 de junho.
“Para poder continuar nas funções que tenho vindo a desempenhar, seria necessária, como sempre disse quando questionado sobre o tema, uma conjugação de vontades entre mim próprio e o acionista Estado. Essa conjugação de vontades não existiu”, revela Frasquilho, numa carta aos trabalhadores a que o ECO teve acesso. “Assim, sendo, cessarei, na data acima referida, as minhas funções”.
Como o ECO avançou em primeira mão, no desenho do novo conselho de administração da TAP, o Governo não renovou o mandato de Miguel Frasquilho. O gestor, que conduziu todo o processo de reestruturação da companhia apresentado à Comissão Europeia, será substituído por Manuel Beja, um matemático licenciado pelo ISEG com experiência de gestão, sobretudo na área das tecnologias de informação.
"Para poder continuar nas funções que tenho vindo a desempenhar, seria necessária, como sempre disse quando questionado sobre o tema, uma conjugação de vontades entre mim próprio e o acionista Estado. Essa conjugação de vontades não existiu.”
A alteração foi uma surpresa e o próprio só foi informado da decisão esta terça-feira. A informação foi agora confirmada por Frasquilho, que sublinha os desafios e dificuldades vividas desde que foi convidado a assumir funções em 2017.
“Nos dois primeiros anos e meio, a convivência com os acionistas privados e os seus representantes foi sempre muito desafiante e enriquecedora. Ao longo do último ano e meio foi, infelizmente, a pandemia que nos comandou a todos, tendo eu, desde o início de 2020 assumido funções que, em inúmeras ocasiões, acabaram por ser executivas“, diz.
Sublinha que a prioridade foi salvar a TAP, o maior número possível de postos de trabalho e, através do “duríssimo mas indispensável Plano de Reestruturação” entregue em Bruxelas, procurar garantir o futuro, a sustentabilidade e a rentabilidade da TAP. Frasquilho integrou a equipa da TAP e do Governo que negociou com os sindicatos os acordos de emergência e também participou nos encontros com a Comissão Europeia.
“Sairei com a tranquilidade do dever cumprido, de ter sido sempre leal à TAP, ao Estado português, como seu acionista de referência, e a Portugal. Nunca esquecerei a opção tomada pelo Governo, em representação do Estado, de salvar a TAP, e estarei sempre grato aos contribuintes que, com os seus recursos, numa altura particularmente difícil do país, viabilizaram a sobrevivência da TAP, permitindo trabalhar em prol de um futuro que, tenho toda a confiança nisso, tem todas as condições para ser risonho”, acrescenta.
A 24 de junho, os acionistas da TAP vão reunir em assembleia geral para aprovarem os novos órgãos sociais da companhia aérea. A nova equipa de gestão inclui onze administradores — cinco executivos e seis não executivos –, sendo que haverá uma renovação total dos membros não executivos, além da substituição de Frasquilho por Manuel Beja. A nova CEO será a gestora francesa Christine Ourmières-Widener, enquanto Ramiro Sequeira, atualmente presidente executivo interino, volta às funções de Chief Operations Officer (COO). O novo administrador financeiro é João Weber Gameiro.
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