Dois ramos, três tipos de agendamento. Como está a ser gerida a vacinação em Portugal?
O plano de vacinação contra a Covid-19 não é estático e vai sofrendo alterações. Afinal, quais são os principais critérios para a vacinação e os tipos de agendamento? O ECO explica-lhe em 6 respostas.
O plano de vacinação contra a Covid-19 não é estático e vai sofrendo alterações, com base no conhecimento da doença, bem como noutros fatores externos. Com a chegada de uma maior disponibilidade de vacinas, a idade passou nesta segunda fase a ser o principal critério para a convocatória, começando pelos mais velhos independentemente das patologias associadas e ocorrendo por “faixas etárias decrescentes”.
No entanto, continuam a existir algumas doenças prioritárias que não podem ser deixadas para “trás”, pelo que a vacinação deste grupo é feita de forma simultânea e “preferencialmente” por faixas etárias decrescentes. Para executar este plano, há três tipos de agendamento.
Certo é que nos últimos meses, e depois de um período em que houve alguma escassez de vacinas, o ritmo de vacinação tem aumentado em Portugal, pelo que o objetivo é ter 70% a população com, pelo menos, uma dose a vacina até 8 e agosto. Segundo o último relatório divulgado na terça-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS), há já mais de 3,9 milhões de portugueses vacinados com uma dose da vacina (o que representa 39% da população), dos quais mais de 2,3 milhões de cidadãos já completaram o processo de vacinação (23% da população).
Mas afinal, quais são os principais critérios para a vacinação, quais são os tipos de agendamento que existem e que vacinas estão a ser utilizadas e para que idades? Tem dúvidas de como está a ser gerido o processo de vacinação em Portugal? O ECO explica-lhe ponto por ponto.
Quais sãos os principais critérios para a gestão da vacinação?
Com a maior disponibilidade de vacinas a partir desta segunda fase, as autoridades de saúde decidiram rever o plano de vacinação contra a Covid-19. Nesse sentido, o processo está atualmente a ser realizado com base em dois ramos: um por “faixas etárias decrescentes”, independentemente das patologias associadas, que é “intensivo e fácil de vacinar”, segundo explicou Graça Freitas, no final de abril.
Por outro lado, e “simultaneamente decorre a vacinação das pessoas com as comorbilidades previstas na norma 002/2021 da DGS”, sendo que neste caso a vacinação “ocorre, preferencialmente, por ordem decrescente de idade”, esclarece a task force em resposta ao ECO. Assim, em linhas gerais, a vacinação e o agendamento destes dois ramos decorre nos mesmos moldes, à exceção dos utentes “que, por razões de saúde, tenham de ser vacinados em contexto hospitalar”.
Como é gerido o processo de vacinação por faixa etária decrescente?
No que toca à vacinação por faixa etária decrescente, o coordenador da task force já explicou por diversas vezes que o processo está a ser organizado por faixas etárias de 10 em 10 anos, contudo, quando se atinge uma percentagem elevada da população vacinada, com, pelo menos, uma dose da vacina as autoridades de saúde começam a vacinar as faixas etárias anteriores. “Quando atingirmos os mais de 85% começamos ter problemas em encontrar pessoas, por isso, abrirmos as faixas anteriores“, explicou Henrique Gouveia e Melo. Neste ramo, o auto-agendamento tem sido a opção preferencial, mas não a única.
Quais são as doenças consideradas prioritárias?
Além do critério etário, neste segunda fase, algumas doenças consideradas “mais graves” passaram a ser consideradas prioritárias, independentemente da idade e a partir dos 16 anos, como é o caso dos doentes oncológicos ativos (que estejam a fazer quimioterapia ou radioterapia), pessoas em situação de transplantação, pessoas com imunodepressão (por exemplo, com HIV mas não só), doenças neurológicas e epilepsia refratária, bem como doenças mentais como esquizofrenia, explicou a diretora-geral da Saúde.
Ao mesmo tempo, entraram também nesta segunda fase do plano de vacinação contra a Covid-19 pessoas com obesidade (acima de 35% do índice de marca corporal) ou diabetes, entre outros, sendo que nestes casos os doentes serão vacinados de acordo com a faixa etária. O mesmo acontece com pessoas infetadas por Covid-19 e que recuperaram da doença há mais de seis meses, que começaram já a ser vacinados.
Quais são os três tipos de agendamento da vacinação?
“O processo de vacinação decorre, simultaneamente, de uma forma massiva, para não baixar o ritmo de vacinação, e de uma forma mais fina, para que todos tenham oportunidade de serem chamados ao processo de vacinação”, começa por explicar a task force ao ECO. Nesse sentido, há três tipos de agendamento a decorrer paralelamente: o agendamento central, o auto-agendamento, e o agendamento local.
Assim, o agendamento central está a ser realizado preferencialmente por SMS, mas também através de contactos telefónicos (quando consideram necessário ou não existe resposta ao SMS) ou por carta (quando não existem contactos telefónicos disponíveis). Já no que toca ao agendamento local, estão a ser “efetuados vários contactos” através dos centros de saúde, bem como através das “Juntas de freguesia e das forças de segurança, no sentido de identificar toda a gente”, e chegar ao máximo de pessoas possível, explica a task force.
Paralelamente, qualquer pessoa que não tenha sido ainda convocada para a vacinação e desde que esteja dentro das prioridades estabelecidas pode agendar a marcação da vacina, o que evita ser o ser o sistema central a encontrar os cidadãos. A plataforma de auto-agendamento foi lançada a 23 de abril e permite já a inscrição de todos utentes com idade igual ou superior a 43 anos, sendo que se prevê que esteja disponível ainda esta semana para os maiores de 40 anos. Importa, no entanto, sublinhar que esta marcação não significa que tenham automaticamente vaga disponível. No caso dos utentes entre os 43 e os 44 anos, por exemplo, apesar de já se poderem inscrever, a esmagadora maioria dos utentes só terá vaga a partir de 21 de junho.
Esta plataforma já permitiu a inscrição de “mais de um milhão de pessoas”, pelo que o objetivo é, progressivamente, “substituir o agendamento manual por um agendamento mais automático”, uma vez que “precisamos de recursos humanos para estar a vacinar, sinalizou Henrique Gouveia e Melo, na quarta-feira. Através desta ferramenta as pessoas possam escolher o ponto de vacinação em que pretendem ser vacinados, bem como escolher as datas que lhes são sugeridas e caso não exista vaga, optarem por ficar em lista de espera ou até escolherem outro ponto de vacinação.
Tenho mais de 60 anos e ainda não fui vacinado. E agora?
Apesar de a maioria dos utentes com mais de 60 anos já ter, pelo menos, uma dose da vacina há sempre uma franja da população a quem as autoridades de saúde não conseguem chegar, quer seja por não terem contactos atualizados ou por outras razões. Nesse sentido, foi criada uma iniciativa chamada “Casa Aberta”, com o intuito de permitir aos utentes com mais de 60 anos que ainda não tenham sido vacinados que possam “dirigir-se ao centro de vacinação do local onde está inscrito no Centro de Saúde, normalmente correspondendo ao da sua área/zona de residência”, para serem “imediatamente” vacinados sem precisarem de marcação, informou a task force, em comunicado enviado aos jornalistas, na quarta-feira.
Esta modalidade já tinha sido anunciada pelo vice-almirante Henrique Gouveia e Melo e está disponível desde quinta-feira em todo o território continental. Tem como objetivo “dar uma oportunidade a todos os utentes, que por algum motivo não tenham sido incluídos no processo de vacinação, de serem vacinados”, assinalou ainda a task force, ao ECO.
Que vacinas estão a ser administradas e quais as restrições etárias?
Atualmente há quatro vacinas a ser administradas em Portugal, sendo que duas das quais com limitações etárias. A vacina da Pfizer/BioNTech está a ser aplicada a todas as faixas etárias a partir dos 16 anos, enquanto a vacina da Moderna está também ser aplicada a todas as idades, mas a partir dos 18 anos.
Não obstante, as vacinas que utilizam a técnica baseada no ácido desoxirribonucleico (DNA), com genes inativados de adenovírus estão a ser aplicadas com algumas restrições etárias, por motivos de precaução e após a Agência Europeia do Medicamento ter concluído que existe uma “possível ligação” entre a administração destas vacinas e a formulação de coágulos sanguíneos muito raros.
Deste modo, a vacina da AstraZeneca, e até novos dados serem conhecidos, está apenas a ser recomendada para ser administrada a pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, independentemente do género. Além disso, para as pessoas abaixo dos 60 anos que já tomaram a primeira dose da vacina antes desta restrição, a recomendação é que tomem uma segunda dose de uma vacina alternativa de RNA mensageiro, isto, é Pfizer ou Moderna.
Já a vacina da Janssen, do grupo Johnson & Johnson, passou a ser administrada a todas as faixas etárias, a partir dos 18 anos, do sexo masculino, de acordo com a atualização à norma 004/2021 da DGS, relativa à administração desta vacina feita na terça-feira. Já no sexo feminino, a recomendação continua a ser que seja administrada apenas a mulheres com idade igual ou superior a 50 anos.
No entanto, as autoridades de saúde sublinham ainda que as pessoas abaixo dos 60 anos (no caso da vacina da AstraZeneca) e das mulheres com menos de 50 anos (no caso da vacina da Janssen) que “assim o desejem” podem ser vacinadas com esta vacina desde que “devidamente informadas, numa base de ponderação dos benefícios e dos riscos, Individualizada” e que expressem o seu “consentimento livre e esclarecido”.
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