Já pode vestir, calçar e até comer produtos à base de canábis

Do calçado à estética, a canábis está a ganhar "terreno". Em Portugal, são vários os setores que estão a apostar em produtos feitos à base do derivado da planta.

A canábis não serve apenas para fins recreativos. Há muito que vários setores têm vindo a usar e a “abusar” da canábis para desenvolver produtos pioneiros no mercado, os quais podem ser desfrutados no dia-a-dia. O CBD, derivado da planta, já está presente em Portugal em várias formas, desde o calçado a peças de vestuário, mas até em produtos alimentares. E, claro, nos medicamentos.

No calçado, um jovem empreendedor português desenvolveu uns ténis feitos a partir de canábis e materiais 100% veganos e eco sustentáveis, com a ajuda da sua avó. Os sapatos de canábis intitulados de 8000Kicks, são resistentes à agua estão disponíveis em duas cores e estão à venda exclusivamente na loja online da marca por 129 dólares (115 euros).

O fundador da startup, Bernardo Carreira, conta ter descoberto as propriedades têxteis “muito boas” da canábis como a resistência. “Todas as velas das caravelas portuguesas dos descobridores eram feitas de cânhamo. Todas as cordas eram feitas deste material porque o material é mesmo muito resistente, logo o sapato tem uma grande durabilidade”, refere.

Nada foi ao acaso e até o nome “8000Kicks” tem uma justificação. “Eight thousand vem do ano 8.000 antes de Cristo que foi quando surgiu a canábis em Taiwan. A canábis tem 10.000 anos, é da mesma idade da agricultura. Foi das primeiras plantas a ser plantadas e decidimos homenagear esta história”, acrescenta em entrevista ao ECO.

Do lado do têxtil, a Adalberto Estampados é pioneira na produção de tecidos com derivados de canábis. Produziu uma coleção de desporto com propriedades relaxantes e anti-inflamatórias para uma empresa norte-americana. A coleção de desporto com acabamentos à base de canábis confere aos tecidos propriedades funcionais e medicinais, com efeitos relaxantes e anti-inflamatórios. O preço das peças varia entre os 125 e os 275 dólares.

“São microcápsulas em CBD que penetram nas fibras dos tecidos. Estas microcápsulas foram colocadas nas peças, em zonas estratégicas, de forma a relaxar os músculos”, refere com orgulho, Susana Serrano, CEO da Adalberto Estampados, ao ECO.

 

Até a estética está a beneficiar desta planta. O Serenity Spa, localizado no Pine Cliffs Resort, é o primeiro spa em Portugal a disponibilizar tratamentos CBD, principal ingrediente não psicoativo da planta de Canábis. “Há muito tempo que queríamos trazer os tratamentos CBD para Portugal. A eficácia deste tipo de terapêutica está comprovada e os resultados obtidos têm sido muito positivos”, refere Maria d’Orey, diretora da marca Serenity – The Art of Well Being.

Numa primeira fase, o Serenity Spa disponibiliza três tratamentos diferentes, o tratamento “Calmante Corporal CBD”, a “Terapia Facial Anti-Idade CBD Ouro” e o “Ritual Facial e Corporal CBD”. Os preços variam entre os 130 e os 205 euros. O tratamento “Calmante Corporal CBD” é indicado para a libertação de ansiedade e distúrbios digestivos, através de uma massagem corporal, enquanto a “Terapia Facial Anti-Idade CBD Ouro” combina efeitos anti-inflamatórios e anti envelhecimento do CBD. Já o “Ritual Facial e Corporal CBD” é composto por uma massagem corporal e um terapia facial, que combinam os poderosos efeitos anti-inflamatórios e anti envelhecimento do CBD.

Do calçado para a roupa relaxante, até aos spa. Mas também já chegou à mesa dos portugueses. No setor alimentar, a Paladin, marca portuguesa de molhos e temperos da Mendes Gonçalves, acaba de lançar mais um produto disruptivo no mercado, o novo piripíri Sacana Cannabis, produzido a partir de sementes de Cannabis sativa L. O piripíri de Cannabis tem um preço recomendado de 2,99 euros e está à venda em supermercados, hipermercados e na loja online PALADIN.

Indústria farmacêutica ataca a dor

A canábis também entrou na indústria farmacêutica, procurando dar o seu contributo no tratamento de algumas doenças que afetam muitos portugueses.

Um dos medicamentos feitos à base de canábis, chama-se Sativex, e está associado ao tratamento de doentes adultos que sofrem de esclerose múltipla e está a ser comercializado nas farmácias portuguesas desde dia 1 de setembro de 2019.

Para Rui Santos, representante da Almirall em Portugal, este medicamento representa “uma nova esperança para os doentes com Esclerose Múltipla”, sublinhando que a sua aprovação e comercialização “oferece aos doentes uma opção de um medicamento autorizado antes de eventualmente se considerar alternativas à base de plantas não autorizadas ou não testadas”.

Este medicamento pretende aliviar os sintomas derivados da esclerose múltipla, como espasmos e cãibras dolorosas e tem uma comparticipação de 37%. O preço por embalagem deste medicamento ronda os 475 euros, por isso, descontando a comparticipação assegurada pelo SNS o produto ficará na ordem dos 300 euros.

À semelhança da Almirall, a Tilray Portugal anunciou que o Infarmed autorizou a primeira substância para fins medicinais em Portugal à base da planta de canábis. Entre as várias utilizações, está a dor crónica (associada a doenças oncológicas ou ao sistema nervoso), espasticidade associada à esclerose múltipla ou a lesões da espinal medula, náuseas e vómitos (resultantes da quimioterapia, radioterapia e terapia combinada de HIV e medicação para a hepatite C) e estimulação do apetite nos cuidados paliativos de doentes sujeitos a tratamentos oncológicos ou com SIDA.

“Esta é a primeira e única preparação ou substância à base da planta da canábis para fins medicinais permitida no nosso país e estamos a planear num futuro próximo tornar outros produtos acessíveis aos doentes em Portugal”, afirma Rita Barata, diretora-geral da Tilray Portugal, instalada em Cantanhede.

Assine o ECO Premium

No momento em que a informação é mais importante do que nunca, apoie o jornalismo independente e rigoroso.

De que forma? Assine o ECO Premium e tenha acesso a notícias exclusivas, à opinião que conta, às reportagens e especiais que mostram o outro lado da história.

Esta assinatura é uma forma de apoiar o ECO e os seus jornalistas. A nossa contrapartida é o jornalismo independente, rigoroso e credível.

Comentários ({{ total }})

Já pode vestir, calçar e até comer produtos à base de canábis

Respostas a {{ screenParentAuthor }} ({{ totalReplies }})

{{ noCommentsLabel }}

Ainda ninguém comentou este artigo.

Promova a discussão dando a sua opinião