Parece carne, sabe a carne, mas não é carne. Esta é a nova aposta das marcas
As marcas querem chegar não só aos vegan mas também aos amantes de carne e flexitarianos, prometendo sabor igual ao da carne. Vários são os produtos que enchem as prateleiras dos supermercados.
Seja em casa ou no restaurante, as opções vegetarianas, ou mesmo vegan, há muito que deixaram de ser exclusivas apenas para quem se rege por este tipo de alimentação. Esta nova gastronomia está na moda, a oferta é cada vez mais variada, os pratos sem proteína animal ganharam uma dimensão mais gourmet e por isso “enchem o olho” e cativam o paladar até dos mais céticos.
De olho em quem quem já adotou este estilo de vida ou alimentação, mas também em quem está preocupado em reduzir o consumo de carne — seja por preocupações de saúde, ambientais ou em relação ao bem estar dos animais –, as marcas viram aqui uma oportunidade de mercado e seguiram-na em massa. Agora, prometem não apenas substituir a carne, mas igualar a textura e o sabor.
Multiplicam-se assim as opções da chamada proteína vegetal nos corredores de supermercados, nas cadeias de fast food e mesmo em alguns restaurantes tradicionais portugueses, que começaram já a adicionar à sua carta estas novas opções. Assim, num jantar fora, quem não come carne, peixe, ou qualquer outro alimento de origem animal, já não precisa alimentar-se apenas dos acompanhamentos, como arroz ou salada, ou ter de optar pela típica omelete.
Estes alimentos vendem. Menos do que a carne ou o peixe, ainda, mas as marcas querem chegar a todos, vender mais e viram neste mercado uma oportunidade de crescimento. Porém, agora querem cativar não só os vegetarianos e vegan, mas também aos amantes de carne e flexitarianos prometendo “0% carne e 100% sabor”.
Supermercados apostam na “carne que não é carne” e clientes aprovam
Numa pesquisa pelos sites dos principais supermercados em Portugal, é possível encontrar diversos novos produtos que há uns anos seriam inimagináveis. Por exemplo, no Continente, a gama Powered by Plants promete desde março de 2021 um sabor e aspeto semelhante ao da carne, mas é tudo à base de vegetal. Com quatro referências congeladas e outras três refrigeradas — hambúrgueres e almôndegas com sabor a carne de vaca, hambúrgueres e nuggets com sabor a carne de frango, e “picado” 100% vegetal — nos supermercados da Sonae há de tudo para deixar a carne de lado por uns dias, ou para sempre.
O feedback dos consumidores é positivo, diz a Sonae MC, e toda a gama “tem superado as vendas estimadas no período de lançamento e de algumas alternativas de mercado”. Os produtos foram desenvolvidos em parceria com um fornecedor nacional e aprovados por mais de 250 consumidores em provas cegas. Estão também identificados com o selo Continente Food Lab, um conceito que convida os clientes a experimentar produtos diferenciadores e exclusivos.
Também no grupo Jerónimo Martins existem desde dezembro de 2019 nas prateleiras do Pingo Doce opções que prometem não só substituir a carne, mas igualar o seu sabor (“0% de carne, mas 100% de sabor”). Beef Style e Chicken Style são as duas gamas de produtos que, tal como os nomes indicam, pretendem imitar bife e frango. Apesar de ser uma opção para ovo-lacto-vegetarianos, pois não são totalmente vegan, têm ainda alguma variedade de produtos congelados, como hambúrgueres, “carne” picada, croquete, coxinhas e nuggets.
“Este ano lançámos ainda dois produtos refrigerados à base de plantas: o preparado picado Vegan Beef Style Plant Based 0% Carne e o hambúrguer Beef Style Plant Based 0% Carne. Estes produtos estão colocados ao lado da carne refrigerada para ajudar os consumidores nas suas escolhas, dando-lhe mais uma alternativa à carne”, explica Rita Manso, diretora comercial Marca Própria Pingo Doce.
Os hambúrgueres são o produto com mais saída e as vendas, têm sido “acima das expectativas”, com taxas de crescimento sempre acima dos 20% face às estimativas.
Já no alemão Lidl temos acesso à marca vegan Next Level Meat que, segundo o site do supermercado, foi pensada “para todos aqueles que desejam reduzir o consumo de carne, sem perder todo o seu sabor e textura”. Desde junho de 2020 há duas das opções vegan à venda nas lojas: hambúrgueres e substituto de “carne” picada, sendo o primeiro feito com proteína de soja e de trigo, “mas com todo o sabor da carne”.
“O Lidl Portugal tem vindo a acompanhar as tendências dos consumidores, que se preocupam cada vez mais com os seus hábitos alimentares, optando por uma alimentação saudável e escolhas mais conscientes”, refere fonte da marca, garantindo que ambos os produtos “apresentam diferenças quase insignificantes no sabor, textura e cheiro quando comparados com a carne”.
Foram, por isso, bem recebidos pelos consumidores e neste momento já fazem parte do cabaz de compras habitual dos clientes, com o hambúrguer a registar vendas duas vezes superiores ao “picado” 100% vegan.
Izidoro adere à moda, Iglo vai muito além dos douradinhos e Nestlé lidera vendas
Nos vários supermercados portugueses encontra-se também a gama Garden Gourmet da Nestlé que, segundo a marca, nasceu “com o objetivo de corresponder à evolução dos hábitos alimentares e às necessidades dos consumidores, oferecendo uma alternativa extraordinária à proteína animal com 0% carne e 100% sabor“. A marca pertence à Nestlé desde 2016 e é hoje vendida em 16 países, incluindo Portugal, onde podemos encontrar hambúrgueres, tiras de “carne” (semelhantes ao strogonoff), almôndegas, nuggets. Produtos feitos à base de proteína de soja e de trigo (não geneticamente modificados) e provenientes de cultivo sustentável.
Diz a Nestlé que os produtos mais consumidos no mercado nacional são as tiras braseadas e as almôndegas, com os consumidores a enviarem mensagens a dar conta que são “simplesmente deliciosas”. Mais: no top 10 de produtos mais consumidos na categoria de refeições vegetarianas refrigeradas, seis são produtos Garden Gourmet, “demonstrando a preferência dos consumidores”.
Presente no mercado português há apenas dois anos, a marca Garden Gourmet regista 33,8% de quota de mercado (junho de 2021, dados Nielsen Total Market). Em junho, a marca registou um crescimento de +149% face ao período homólogo, “sendo responsável por mais de metade (55%) do crescimento do mercado nos primeiros 6 meses do ano”.
Também a Iglo já se dedicou a este estilo de alimentação com a sua gama Green Cuisine à base de proteína vegetal, onde encontramos hambúrgueres, almôndegas (as mais vendidas), nuggets e até chilli. E o lema é o mesmo: “0% carne e 100% sabor”. Ao todo são cinco produtos diferentes, de uma gama com 16 referências e três novos lançamentos planeados para este ano.
Os produtos começaram a ser vendidos há cerca de um ano, em julho de 2020 e “a aceitação por parte dos consumidores tem sido excelente”, disse fonte da Iglo ao ECO/Capital Verde. “As vendas têm crescido mensalmente a um ritmo global de cerca de 10%, tendo o grupo de produtos substitutos de carne um crescimento mais acelerado, na ordem dos 20%”.
A Iglo revela mesmo que entre julho e dezembro de 2020 “as vendas em valor globais da marca foram acima dos 2,5 milhões de euros, tendo os produtos substitutos de carne sido responsáveis por cerca de 17% desse valor de vendas”. A marca tem também recebido feedback direto dos consumidores que “avaliam os produtos como sendo muito saborosos e nutritivos e uma boa escolha para todos os que querem comer mais vegetais e reduzir ou mesmo abolir o consumo de carne”, refere a mesma fonte.
Acabadinha de lançar no mercado, a gama desenvolvida e produzida em Portugal “Veggie Lovers” da Izidoro é composta por produtos frescos vegan 100% de origem vegetal: bifes, hambúrgueres e almôndegas, à base de proteína de ervilha e soja, são as novas apostas da marca, mais conhecida pelas suas salsichas em lata. Também neste segmento a marca lançou no final de 2020 salsichas vegan de vegetais e soja.
“O mercado ‘plant-based’ é uma das nossas grandes apostas. Os novos produtos distinguem-se da concorrência por serem 100% frescos e pelo sabor, que é dirigido ao paladar do consumidor português”, disse Maria Inês Palma, gestora da gama Izidoro Veggie Lovers, que acrescentou: “Queremos recrutar novos consumidores”. A marca promete apresentar mais inovações 100% origem vegetal ao mercado até ao final deste ano.
Os preços de todos os produtos mencionados variam entre 2,69 e 5,99 euros.
Proteína vegetal tem pegada carbónica 80% inferior à carne vermelha
Além destes produtos ajudarem a diminuir o consumo de produtos animais, são também mais sustentáveis. Por exemplo, a Iglo indica que os seus produtos Green Cuisine têm, em média, uma pegada 80% mais pequena comparada com a da carne vermelha e que usam menos 71% de terra arável que esse tipo de carne.
A Nestlé refere que desde a produção à embalagem, a marca Garden Gourmet está alinhada com os valores de sustentabilidade da Nestlé: todos os fornecedores são certificados, seguem critérios de produção responsável e sustentável, e as embalagens são 100% recicláveis, sendo que o compromisso da marca é ser neutra em carbono já em 2022. Também o Lidl diz que a produção do seu hambúrguer Next Level Meat, “poupa 91% das emissões de CO2 em comparação com um hambúrguer de carne bovina e a sua nova embalagem representa o uso de 71% menos plástico”.
Mas não só os supermercados e marcas de alimentação que avançam esta tendência. A loja de mobiliário Ikea – já conhecida pelas suas almôndegas suecas – também deu passos neste sentido. Em agosto de 2020 foram lançadas as almôndegas Huvudroll (4,5 euros, 0,5kg), à base de proteína vegetal, “que representam apenas 4% da pegada de carbono, em comparação com as icónicas almôndegas de carne“. E que, segundo a marca, “são tão saborosas” e com uma “textura idêntica” às tradicionais. Já este ano, em abril, lançaram o novo produto Världsklok, um substituto de “carne” picada (moldável e congelado), pelo preço de 7,5 euros (750g).
“Desde a chegada destes artigos às lojas Ikea tiveram ótima aceitação perante o consumidor e conseguimos registar um crescimento bastante positivo. A área alimentar tem vindo a tornar-se cada vez mais estratégica para o negócio e iremos continuar a apostar em novas soluções. É por isso que até 2025, 50% da oferta nos restaurantes IKEA será de base vegetal”, promete o Ikea.
Ir a uma cadeia de fast food e comer um hambúrguer vegetal que sabe a carne? Sim, é possível
Também nos restaurantes fast food há novos avanços. Se já conhecíamos o McVeggie da McDonald’s, a concorrência promete um hambúrguer 100% vegetal com sabor a carne – o Rebel Whopper do Burger King.
A gama 100% vegetal do Burger King começou a ser comercializada em 2019, com o primeiro hambúrguer vegetal cujos principais ingredientes são a soja, trigo, azeite, ervas aromáticas e cebola. O Rebel Whopper é o preferido dos consumidores, mas a cadeia tem também à venda os novos “nuggets vegetais” e garante que “oferecem o mesmo sabor dos nuggets de frango originais, apesar de serem feitos com ingredientes 100% vegetais da marca holandesa The Vegetarian Butcher”.
“Desde a entrada dos produtos nos restaurantes e tendo como base a partir de 2020, no total de produtos a nível de venda, vendemos em média mais 60%”, diz o Burguer King.
Apesar de terem opções vegetarianas, ambos os restaurantes de fast food têm uma oferta na sua esmagadora maioria composta por proteína animal: o McDonald’s tem de momento 19 menus de hambúrgueres e apenas um é vegetariano; já no Burger King são dois, num total de 29.
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