Depósitos acima de 100 mil euros chegam quase aos 100 mil milhões
Com o país confinado, muito do dinheiro foi parar às contas nos bancos. E fez aumentar também o saldo das contas mais "recheadas". 300 mil titulares têm quase 100 mil milhões no banco.
A pandemia fez disparar a poupança dos portugueses. Com os confinamentos, mas também todas as restrições tanto de circulação como de horário de funcionamento dos estabelecimentos, sobrou mais dinheiro ao fim do mês, dinheiro esse que tem sido confiado às instituições financeiras. O montante aplicado em depósitos disparou para mais de 225 mil milhões de euros. E o valor das contas mais recheadas também, com o saldo destas a chegar perto da fasquia dos 100 mil milhões.
Há muito tempo que os portugueses não poupavam tanto como no ano passado. Em 2020, a taxa de poupança dos portugueses aumentou para 12,2% do rendimento disponível, o valor mais elevado desde 2002, de acordo com a série histórica do INE. Uma poupança “forçada” que engordou os saldos das contas nos bancos. De acordo com os dados do Fundo de Garantia de Depósitos (FGD), havia 225.344 milhões de euros em depósitos no final do ano passado, mais 18,4% que no ano anterior.
Houve um aumento de 35 mil milhões de euros no saldo das contas, repartido pela generalidade das contas, desde as de menor valor até às mais “recheadas” que, segundo os cálculos realizados pelo ECO, “engordaram” em 14.345 milhões de euros em 2020. As contas com mais de 100 mil euros arrecadaram quase 41% do salto nos depósitos durante a pandemia, com o valor acumulado por estas a ascender a 94.644 milhões de euros.
Depósitos disparam. E há mais dinheiro nas contas mais “recheadas”
Estes quase 100 mil milhões de euros em contas de mais de 100 mil euros representam 42% do montante total de depósitos indentificado pelo Fundo de Garantia de Depósitos. E estão distribuídos por 1,7% do total de titulares de contas bancárias (que ascendeu a 17,58 milhões em 2020), correspondendo a 298.945 titulares.
Depósitos sem proteção disparam
O forte aumento do saldo das contas de valor superior a 100 mil euros fez, ao mesmo tempo, disparar o montante que ficou fora da “rede” de proteção do FGD, que existe para proteger os depósitos dos clientes bancários em caso de incapacidade do banco de assegurar esses valores.
Segundo o Relatório e Contas do FGD de 2020, dos 225 mil milhões de euros em depósitos, havia no final do ano passado 64.180 milhões de euros que não estavam abrangidos por esta garantia, essencialmente porque o valor em conta superava o “teto” de 100 mil euros. Este valor é inferior ao montante total nas contas mais “recheadas” porque muitas dessas contas têm dois titulares, o que eleva a proteção para o dobro.
Os valores sem proteção deram um salto de 17,8% face a 2019, correspondendo a 28,5% do montante total depositado por pessoas ou entidades junto das instituições financeiras. Esta percentagem tem-se mantido aproximadamente neste mesmo nível nos últimos três anos, depois de ter crescido em anos anteriores. É, no entanto, um máximo desde 2011, ano em que Portugal se viu obrigado a solicitar ajuda externa.
Fundo com fundo para proteger depósitos
Apesar do valor fora da “rede” de segurança do FGD ter aumentado de forma expressiva, a percentagem dos depósitos sem proteção manteve-se. E a percentagem do dinheiro que conta com este conforto do fundo continua a ser elevada: representa quase 72% do montante total.
São 161,1 mil milhões os euros que estão protegidos, estando a cobertura deste montante assegurada pelo FGD, apesar da capacidade do fundo de assegurar este montante ter encolhido ligeiramente durante o ano passado.
“A relação entre os recursos próprios do FGD e os depósitos efetivamente cobertos pela garantia reduziu-se ligeiramente em 2020, para 1,04% (em 31 de dezembro de 2019 era de 1,13%)”, diz o FGD no Relatório e Contas. Ainda assim, ressalva que este “valor está claramente acima do nível de 0,8% que a legislação europeia estabelece como objetivo de capitalização dos sistemas de garantia de depósitos a atingir até julho de 2024″.
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