Trabalho híbrido aumenta produtividade, mas também pressão sobre líderes
"Nem todos os profissionais têm o perfil adequado para gerir o seu trabalho e equipas neste modelo", diz a líder da Adecco Portugal, com base nas conclusões do mais recente estudo da recrutadora.
Um ano e meio após a pandemia ter mudado para sempre a forma como trabalhamos, no regresso ao escritório os modelos híbridos têm sido, regra geral, os regimes que as empresas têm vindo a implementar. A produtividade sobreviveu à mudança dos modelos, mas a pressão sobre as lideranças na gestão de equipas à distância aumentou. “Nem todos os profissionais têm o perfil adequado para gerir o seu trabalho e equipas neste modelo”, alerta Carla Rebelo, CEO da Adecco Portugal.
Se receios de quebras de produtividade era um obstáculo para os empregadores avançarem para modelos mais flexíveis, um recente estudo do Grupo Adecco, “Resetting Normal: Defining the New Era of Work/2021”, a que a Pessoas teve acesso, vem demonstrar que não há motivos para recear: “a produtividade sobreviveu à mudança”.
Mais de 80% dos profissionais inquiridos dizem sentir-se tão ou mais produtivos do que antes da pandemia, e querem manter o modelo em que sentem ser mais eficazes: 53% quer um regime híbrido, em que mais de metade do seu tempo de trabalho realizado de forma remota. Esta vontade é mais expressiva nas gerações mais jovens e nos profissionais que são pais, revelam os dados do estudo.
“A maioria dos profissionais quer um modelo de trabalho híbrido, com flexibilidade de horários. Após um período de mais de um ano e meio, marcado por sucessivos confinamentos que afetaram os trabalhos de ‘secretária’, as pessoas tiveram de criar necessariamente as condições para o fazerem de forma eficaz e perceberam as vantagens em conciliar o trabalho com a vida pessoal, gerindo os seus próprios horários”, diz Carla Rebelo, CEO da Adecco Portugal, à Pessoas.
“É também um sinal de que muitas pessoas, mas também as empresas, tiveram capacidade de continuar a sua atividade sem interrupção e adaptar-se a este novo paradigma de trabalho”, acrescenta, com base na investigação do grupo, que envolveu 15 mil profissionais inquiridos de 25 países.
“Nem todos os profissionais têm o perfil adequado para gerir neste modelo”
Os grandes desafios dos modelos de trabalho híbridos são, por sua vez, ao nível da cultura da empresa. “Creio que os principais bloqueios se prendem com uma realidade verdadeiramente desafiante, que é garantir que a cultura da empresa se consegue afirmar num contexto em que as pessoas interagem à distância“, explica, salientando que algo que ficou muito evidente com a pandemia e com a obrigatoriedade do teletrabalho, em certos períodos de confinamento obrigatório, foi que “nem todos os profissionais têm o perfil adequado para gerir o seu trabalho e equipas neste modelo”.
“Mesmo com ações de reskilling e upskilling, haverá sempre pessoas que não se conseguem adaptar. Tal trouxe custos elevados às pessoas, traduzidos em stress e burnout, e às empresas, que tiveram desafios inéditos ao nível da liderança e de produtividade de pessoas que acusaram esta fadiga da privação das suas normais relações e o isolamento do trabalho remoto”, defende Carla Rebelo.
A saúde mental num ambiente de trabalho à distância é um dos maiores desafios que as organizações têm pela frente. Estão em risco de perderem uma nova geração de líderes, com mais de metade dos jovens líderes (54%) a relatar sofrer de burnout.
Uma das conclusões do estudo da empresa especialista em recursos humanos é precisamente que a saúde mental num ambiente de trabalho à distância é um dos maiores desafios que as organizações têm pela frente. O relatório revela mesmo que as organizações estão em risco de perderem uma nova geração de líderes, com mais de metade dos jovens líderes (54%) a relatar sofrer de burnout e três em cada dez inquiridos a afirmarem, de um modo mais geral, que a sua saúde mental e física diminui nos últimos 12 meses. Para isso contribuiu o aumento, na ordem dos 14%, das horas adicionais trabalhadas.
Adaptação é a palavra-chave na determinação do sucesso destes novos modelos. “Há um dado que a Adecco tem vindo a confirmar, que era tendência pré-pandemia, mas que obviamente foi acentuado e acelerado por via do novo paradigma de trabalho imposto por este evento: a confirmação de que as soft skills são fator de sucesso inerente à adaptação a novas formas de trabalhar”, diz a líder da Adecco Portugal, recordando que 67% dos não gestores afirma que os líderes não satisfazem as suas expectativas de verificar o seu bem-estar mental.
“Competências como a comunicação, a empatia e inteligência emocional, o autoconhecimento, capacidade de escuta ativa, de adaptação e de não paralisar na resolução de problemas são traços extremamente relevantes e diferenciadores numa equipa que funciona à distância”, e essenciais para que esta alteração nas formas de trabalhar seja bem-sucedida.
O problema é “se estas competências pessoais esbarram numa liderança que não tem capacidade de ouvir e integrar novas ideias, que não estimula uma cultura de trabalho colaborativa, o bem-estar das pessoas”. Nesse caso, a produtividade das equipas pode “estar seriamente comprometida”, alerta.
A Adecco dá, ainda, conta de uma grande desconexão entre as opiniões da direção sobre o seu próprio desempenho e a opinião das suas equipas.
A satisfação com a liderança é baixa, com apenas um terço dos não gestores a sentirem que estão a obter o devido reconhecimento dentro da empresa, e apenas metade dos inquiridos a dizerem que os seus gestores cumpriram ou excederam expectativas no sentido de encorajar uma boa cultura de trabalho (48%) ou apoiar o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal (50%).
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