“Construir um futuro sustentável será capital intensivo”, diz Mark Carney
Na opinião do Enviado Especial das Nações Unidas para a Ação Climática e as Finanças à COP26 "é necessário investir para chegar à neutralidade climática. A escala deste investimento é enorme".
É ex-governador do Banco de Inglaterra e no final deste mês vai estar sentado à mesa das negociações, em Glasgow, na Escócia, como Enviado Especial das Nações Unidas para a Ação Climática e as Finanças. Duas dimensões que aparentemente não têm muito a ver uma com a outra, mas que para Mark Carney acaba por ser precisamente o contrário, como garantiu no seu keynote speech esta segunda-feira na Conferência sobre Estabilidade Financeira organizada pelo Banco de Portugal.
Dedicado ao tema “Alterações Climáticas e Estabilidade Financeira”, no seu discurso Carney enfatizou que “o objetivo para a COP26 é criar a informação, as ferramentas e os mercados necessários para que cada decisão financeira tome as alterações climáticas em conta”.
“É necessário investir para chegar à neutralidade climática. A escala deste investimento é enorme. Só nas infraestruturas de energia, os investimentos têm de duplicar para valores entre os 3,5 e os 5 biliões de euros de euros por ano. Construir um futuro sustentável será capital intensivo. Precisamos que os governos liderem. Quantos mais previsíveis sejam os seus compromissos em relação à neutralidade climática, mais os investidores estarão comprometidos”, disse Carney perante mo evento organizado pelo Banco de Portugal.
E deu um bom exemplo: o Plano Fit for 55 da União Europeia, “porque dá precisamente os guidelines que os investidores precisam”.
Na visão do Enviado Especial das Nações Unidas para a Ação Climática e as Finanças, também os bancos centrais têm feito um papel importante. Para financiar a transição é preciso mobilizar capital no valor de mais de 1 bilião de euros de investimento adicional por ano, até ao fim da década. Quanto ao novo mercado de créditos de carbono, diz que “está fragmentado”. A valer mil milhões neste momento, Carney diz que pode chegar aos 100 a 150 mil milhões de euros e facilitar os fluxos de capital entre países, já que mais de 3000 empresas estão dispostas a entrar neste mercado de créditos de carbono.
“O próximo passo é ter as bases desse mercados pronto no próximo verão, para depois operar desde Londes e Singapura”, anunciou.
Na contagem decrescente para a COP26, que vai começar em Glasgow dentro de algumas semanas, Mark Carney diz que “tem a ver com juntar todos os atores em torno do objetivo de não aumentar a temperatura global mais de 1,5ºC”.
O Enviado Especial da ONU garante que “tem havido progressos, desde que o Reunido Unido assumiu a presidência da COP26 com a Itália, e que a percentagem de emissões globais cobertas pelos planos de neutralidade climática dos países aumentou de menos de 1/3 para para mais de 3/4″.
Além disso, já se expandiu também dos países para as empresas, que estão a definir as suas metas de descarbonização. “O esforço tem de ser enorme. As emissões têm de cair 7% ano após ano esta década. No ano passado isso aconteceu mas só porque as economias pararam”, frisou
Sobre o que é reportado aos mercados, Carney diz que tem de ser feito de forma clara. “É altura de tornar este reporte obrigatório, como já acontece em alguns países, o que ajuda os investidores a tomarem as suas decisões Precisamos de uma base comum, para que a informação possa ser comparada. Na Cop26 serão estabelecidos novos standars para este reporte”, garantiu.
Na abertura do evento, o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, já tinha advertido que “o aquecimento global é uma externalidade importante com más consequências” e que “é necessária uma ação coordenada através da COP26: limitar o aumento da temperatura, reduzir as emissões, chegar à neutralidade”.
“Temos de passar da noção e do compromisso para ações concretas. As alterações climáticas são fonte de risco financeiro, sejam riscos físicos ou de transição”, disse Centeno, frisando a exposição das entidades financeiras.
O governador apelou a que se evitem “atividades verdes” que tragam ainda mais riscos aos bancos e frisou que os riscos climáticos têm de ser geridos de forma diferente dos riscos mais tradicionais.
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