Teodora Cardoso vê “oportunidade em 2022” para “viragem” económica no país
A ex-presidente do Conselho das Finanças Públicas diz que, com o chumbo do OE2022, abre-se uma "oportunidade em 2022" para aplicar uma política económica que privilegie a competitividade.
A ex-presidente do Conselho das Finanças Públicas considera que o chumbo do Orçamento do Estado para 2022 (OE 2022) abre a “oportunidade” no país para se privilegiar “a competitividade assente na produtividade e na responsabilidade financeira”. Sem se referir diretamente às prováveis eleições antecipadas que deverão realizar-se no início do próximo ano, Teodora Cardoso espera que haja uma “viragem” para compensar o “tempo perdido”.
Questionada pelo ECO sobre o potencial impacto do chumbo do Orçamento do Estado na economia portuguesa, a economista, que esteve durante décadas no Banco de Portugal, começa por separar o que considera ser essencial do acessório.
“Não podemos criticar os políticos por só olharem aos resultados imediatos das medidas que adotam e simultaneamente avaliá-los apenas com base nesses resultados“, argumenta, defendendo que “o que importa perspetivar para 2022 não é o facto de, nesse ano, o PIB ficar algumas décimas acima ou abaixo de 2019″. Ou seja, é quase indiferente se o PIB cresce 5,5% (previsão do Governo no OE2022) ou 5,1% (previsão do CFP e do FMI em políticas invariantes).
O que importa para Teodora Cardoso é olhar para o que fizeram os países que já atingiram ou estão perto de atingir o nível de atividade económica pré-crise pandémica. “Fizeram-no porque obedecem a princípios de governação económica que privilegiam a competitividade assente na produtividade e na responsabilidade financeira“, considera.
Este tema tem estado no centro do debate político-económico entre o PSD e o PS. Os social-democratas acusam os socialistas de implementarem as medidas erradas, de serem pouco ambiciosos no crescimento económico e de se contentarem com recuperar o PIB em 2022 quando vários países da União Europeia lá chegarão ainda este ano.
O contra-argumento do Governo do PS é que Portugal, dado o peso do turismo (atividade fortemente afetada pela pandemia) no PIB, só é comparável com os países europeus onde esse setor também é relevante — como é o caso de Espanha, Itália ou Grécia — e que nesse campeonato a economia portuguesa lidera na retoma económica.
Focada no futuro, a ex-presidente do Conselho das Finanças Públicas afirma que “a oportunidade que se abre em 2022 é a de finalmente aceitarmos esses princípios [de governação económica], pô-los em prática (e não apenas na retórica) e iniciarmos a viragem que leve a recuperar o tempo que andamos a perder há um quarto de século”.
A prioridade deve ser discutir e escrutinar sobre “o modo como aproveitarmos essa oportunidade” — presume-se que também através da implementação do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) –, acrescenta. Até 2025, Portugal tem de executar mais de 16 mil milhões de euros de subvenções e empréstimos que chegarão da parte da Comissão Europeia.
E deixa um alerta final para quem aposte todas as fichas no aumento do consumo interno: “Sem esquecer que os bons resultados que os estímulos à procura interna permitem obter se esgotam tão rapidamente quanto a capacidade de financiar o défice externo, ou seja, tanto mais depressa quanto menos atendermos à competitividade da economia”.
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