CEO da Galp quer entrar nas energias renováveis nos EUA
"Há um ecossistema enorme, uma procura enorme, uma estrutura de investimento muito aberta", disse Andy Brown, adiantando que a Galp ainda está a definir qual a estratégia de entrada para a região.
A Galp Energia quer, a prazo, entrar no mercado das renováveis nos Estados Unidos, onde vê procura “enorme” e na Casa Branca uma administração determinada em apostar nas energias alternativas, afirmou o presidente executivo da empresa, Andy Brown.
A Galp anunciou na quarta-feira que vai terminar a atividade de prospeção e pesquisa de novos campos de petróleo e gás a partir do início de 2022, reiterando que, até 2030, tem como objetivo reduzir as emissões absolutas das operações em 40%.
Em junho deste ano, a empresa informou, durante o ‘Capital Markets Day’, que pretende alocar cerca de 50% do investimento líquido anual de entre 800 milhões e mil milhões de euros em energias renováveis, com diversificação tecnológica e também geográfica.
Em entrevista à Lusa durante a Web Summit, em Lisboa, Brown disse que há três regiões nas quais estão particularmente interessados – Europa, América Latina e América do Norte -, e vão “olhar para elas nessa sequência”.
A Galp é líder na energia solar na Península ibérica após ter concluído, em setembro de 2020, a constituição de uma joint venture com a espanhola ACS para desenvolver uma carteira de projetos em Espanha, com uma capacidade de geração de energia total de 2,9 gigawatts (GW), um estatuto que reforçou em agosto deste ano com a aquisição de projetos fotovoltaicos, também em Espanha, com capacidade de 220 megawatts.
Em outubro, a empresa anunciou que vai entrar no mercado das renováveis no Brasil, com dois projetos solares, com capacidade total de 594 MWp, em desenvolvimento nos estados da Bahia (282 MWp) e do Rio Grande do Norte (312 MWp), que considera permitirem dar um “salto importante” na transformação do seu perfil de negócio e na redução da pegada carbónica.
“Estamos claramente na Península Ibérica e examinaremos outros países europeus se forem interessantes. Na América Latina, estamos no Brasil e vamos olhar para outros países na região”, explicou Brown à Lusa.
“E, a certa altura, procuraremos assumir uma posição na América do Norte, é essa a estratégia atual”, avançou.
Questionado sobre que tipo de oportunidades a Galp vê na região norte-americana, que conta com a presença de várias operadoras de energia renovável, o CEO apontou para o ‘momentum’ no mercado.
“É verdade [que é um mercado bastante populado], mas, na administração [de] Joe Biden, há uma determinação real de impulsionar a penetração das energias renováveis”, vincou.
“Há um ecossistema enorme, uma procura enorme, uma estrutura de investimento muito aberta”, disse, adiantando que a Galp ainda está a definir qual a estratégia de entrada para a região.
Em relação à diversificação tecnológica nas renováveis, Brown confirmou que a Galp submeteu um projeto no quadro do Programa de Resiliência e Recuperação para a indústria do lítio, num consórcio que diz ser “o mais viável e potente em termos de combinação de empresas para tornar isto numa realidade”.
“Esperamos poder fazer um anúncio sobre isto em breve, sobre a composição do consórcio e porque achamos que temos as peças-chave para posicionar Portugal como líder na cadeia de valor das baterias“, vincou.
A Galp também vê enorme potencial na área do hidrogénio verde, tendo estabelecido uma meta de 0,6 a 1 gigawatts (GW) de capacidade até ao final da década, passando por 100 megawatts (MW) em 2025.
“Acreditamos que podemos fazer o hidrogénio a partir de energia renovável como o hidrogénio verde para reduzir as emissões de CO2 e tornar os combustíveis que produzimos mais sustentáveis”, disse Brown.
“Esse é o núcleo, mas o que queremos fazer é, também, ser capazes de abastecer camiões de transporte de carga pesada, autocarros dentro da infraestrutura portuguesa, e queremos também trabalhar em parcerias sobre como podemos usar o bloco de construção principal de combustíveis como o amoníaco, como o metanol, como os combustíveis de aviação sustentáveis, porque acreditamos que o hidrogénio se tornará o novo núcleo desse sistema de energia de combustíveis”.
O CEO da Galp concluiu que Portugal, “com energias renováveis de baixo custo, tem esta oportunidade de ser muito forte e de ser líder nisso, e o Governo apoia muito isso”.
“O preço do petróleo está alto demais”
O preço do crude está atualmente demasiado elevado, num patamar que tem reflexos no abastecimento de combustível e que prejudica o sistema mundial de energia, disse o presidente executivo da petrolífera Galp, Andy Brown.
“Acho que o preço está elevado demais, porque significa que isso passa para o preço do combustível na bomba e não está num nível que seja bom para o sistema energético mundial”, considerou, em entrevista à Lusa durante a Web Summit, em Lisboa.
Impulsionado pela combinação do forte aumento da procura devido à retoma da atividade económica e aumentos apenas ligeiros na produção pelos membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o preço do barril de Brent acumula este ano um ganho de 58,78%, negociando perto dos 82 dólares, depois de, a 8 de outubro, ter superado a fasquia dos 80 dólares pela primeira vez desde 2014.
Andy Brown, que substituiu Carlos Gomes da Silva na liderança da Galp em fevereiro deste ano, salientou que a alta do preço do crude tem de ser lida no contexto da transição energética.
“É um lembrete, é um lembrete de que se trata de uma transição, não se trata simplesmente de carregar [num] botão, temos de ter a certeza de que há oferta para satisfazer a procura”, disse.
“Hoje as pessoas conduzem carros com motores de combustão interna, entram em aviões que usam combustíveis fósseis, e não podemos simplesmente desligar isso, temos de fazer uma transição”, adiantou.
O gestor britânico sublinhou que os membros da OPEP percebem que o sistema mundial de energia está a mudar, mas que têm, ao mesmo tempo, a tarefa de manter o fluxo de petróleo para a economia global poder continuar a crescer.
Questionado sobre como vê a opção do Governo português de reagir à subida dos preços com o limitar de margens na comercialização de combustíveis, Brown recordou que vivemos num mercado global de preços de ‘commodities’.
“Os governos têm de perceber que precisamos de manter o petróleo e o gás a fluírem ao mesmo tempo que descarbonizamos, portanto temos de ser capazes de aprender a fazer os dois ao mesmo tempo”, referiu.
Lembrou ainda que regular as margens da venda de combustíveis é contrária ao ‘core’ das ideias da União Europeia, que procura que a concorrência seja o caminho para obter o menor custo, e não a regulação.
Adiantou que, para os governos, “a tributação é uma parte importante da forma como obtêm receitas, e Portugal tem uma elevada carga fiscal sobre as margens de combustível, sendo que 60% do custo de um litro de combustível é imposto”, disse.
“Cabe ao governo definir as prioridades fiscais para o país, mas sinto pelos consumidores que lutam para abastecer os seus carros com combustível“, frisou.
Para o CEO da Galp, a principal mensagem dos preços atuais do petróleo e, especialmente, do gás, é que vai ser necessário continuar a investir para manter o fornecimento dessas matérias-primas enquanto as empresas, incluindo a Galp, aceleram o investimento em energias alternativas.
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