Evergrande avisa que pode falhar reembolso de dívida
Gigante imobiliária chinesa está com dificuldade em obedecer à pressão oficial para reduzir o seu endividamento. "Não há garantias de (...) fundos suficientes", avisou.
O promotor imobiliário chinês Evergrande, que se confronta com uma dívida de 310 mil milhões de dólares (274 mil milhões de euros), avisou esta sexta-feira que pode vir a ficar sem dinheiro para “cumprir as suas obrigações financeiras”.
De imediato, os reguladores chineses garantiram que os mercados financeiros chineses podem ser protegidos de um grande impacto. O Grupo Evergrande está com dificuldade em obedecer à pressão oficial para reduzir o seu endividamento, o que tem alimentado ansiedade com um seu possível incumprimento, por poder desencadear uma crise financeira.
Entre os economistas dá-se uma baixa probabilidade a uma crise nos mercados internacionais, mas bancos e obrigacionistas podem sofrer perdas pesadas, uma vez que os dirigentes de Pequim querem evitar o bailout [injeção de liquidez numa empresa falida ou próxima da falência].
Em comunicado divulgado esta sexta-feira na bolsa de Hong Kong, a Evergrande informou que, depois de analisar as suas finanças com consultores externos, “não há garantias de que o Grupo tenha fundos suficientes para continuar a cumprir as suas obrigações financeiras”.
Pouco tempo depois, os reguladores procuraram acalmar os investidores, com a emissão de declarações em que asseguraram que o sistema financeiro chinês era forte e que as taxas de incumprimento eram baixas. Acrescentaram que muitos promotores imobiliários são financeiramente saudáveis e que Pequim vai continuar a deixar funcionar os mercados de crédito.
“O risco de contágio dos eventos de risco do grupo no funcionamento estável do mercado de capitais é controlável”, asseverou a comissão reguladora do mercado de capitais chinesa, no seu sítio na internet. O banco central e o banco regulador fizeram declarações semelhantes.
Os dirigentes de Pequim aumentaram no último ano as restrições sobre os níveis de endividamento dos promotores imobiliários, para procurarem controlar a crescente dívida empresarial, que é vista como uma ameaça para a estabilidade económica.
O governante Partido Comunista tem feito da redução dos riscos financeiros uma prioridade desde 2018. Em 2014, as autoridades autorizaram o primeiro incumprimento obrigacionista desde a revolução de 1949. Os incumprimentos têm sido permitidos ocorrer de forma gradual, na esperança de forçar credores e investidores a serem mais disciplinados.
Não obstante, o endividamento total de empresas, governo e famílias aumentou do equivalente a 270% do PIB de 2018 para cerca de 300% no ano passado, valores pouco vistos em economias de países com rendimentos médios. Os economistas avançam que é pouco provável uma crise financeira, mas que a dívida pode limitar o crescimento económico.
A Evergrande, o maior devedor da indústria da construção, tem uma dívida de dois biliões de yuans (310 mil milhões de dólares), na maioria devidos a bancos domésticos e investidores em obrigações. Também deve 19 mil milhões de dólares a obrigacionistas estrangeiros. A companhia tem vendido ativos para pagar dívidas e anunciou planos para dar a alguns obrigacionistas apartamentos em projetos que está a construir.
O presidente da Evergrande, Xu Jiayin, foi chamado hoje para uma reunião com dirigentes da sua província, Guangdong, informou o governo, em comunicado. No texto, adiantou-se que uma equipa governamental iria ser enviada para a sede da Evergrande para ajudar a gerir o risco.
Os problemas da Evergrande desencadearam alertas para a possibilidade de uma crise financeira no imobiliário — um setor que propulsionou o crescimento económico explosivo da China entre 1998 e 2008 — poder conduzir a problemas para os bancos e a um colapso súbito e politicamente perigoso do crescimento económico.
O comunicado da Evergrande adianta que a empresa enfrenta solicitações para honrar um pagamento de 260 milhões de dólares. Se não for capaz de cumprir, previu, então outros credores podem ser levados a exigir os respetivos reembolsos mais cedo do que previsto.
Hoje também, outro promotor imobiliário, o Kaisa Group Holdings Ltd., avisou que poderia falhar o reembolso de um empréstimo obrigacionista de 400 milhões de dólares na próxima semana. O Kaisa adiantou que tentou renegociar o pagamento, devido para quinta-feira, mas que muito poucos obrigacionistas concordaram com os termos avançados, mas não revelados.
A 5 de outubro tinha sido um promotor imobiliário de média dimensão, o Fantasia Holdings Group, a anunciar que ia falhar um pagamento de 205,7 milhões de dólares devido a investidores obrigacionistas.
Centenas de pequenos promotores imobiliários chineses têm ido à falência desde que os reguladores começaram a intensificar o controlo sobre as finanças do setor, em 2017. O arrefecimento na construção na China trouxe para baixo os números do crescimento económico, tendo-se registado uns inesperados 4,9% homólogos no terceiro trimestre.
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