Bolsas em queda e preços da energia disparam. Receio de ataque na Ucrânia arrasta mercados
O receio de um ataque eminente à Ucrânia fez disparar a volatilidade nos mercados. Investidores fogem das ações e procuram refúgio na dívida. Preços do gás natural e petróleo em forte alta.
Fortes desvalorizações nas ações, fuga dos investidores para ativos de refúgio e forte subida do preço das matérias-primas energéticas, com destaque para o gás. Foi assim a manhã nas bolsas, com a crescente tensão na Ucrânia e a perspetiva de um ataque russo em breve a provocarem uma forte volatilidade nos mercados.
A aversão ao risco dominou as primeiras horas de negociação, com o índice acionista europeu Stoxx 600 a recuar 2,9%, o britânico FTSE 2,2%, e o alemão DAX30 e o francês CAC40 mais de 3,5%. Em Lisboa, o PSI-20 abriu a sessão no vermelho e segue a desvalorizar cerca de 2%, com apenas dois títulos em alta: Ibersol e Galp Energia.
Nos EUA os mercados acionistas ainda estão encerrados, mas os contratos futuros já indicam uma abertura em baixa. No caso do índice Dow Jones descem 0,7%, no do S&P 500 0,8% e no do Nasdaq cerca de 1%.
A possibilidade de o fornecimento de gás russo à Europa ser totalmente interrompido durante um longo período, em caso de ataque à Ucrânia, está a impulsionar as cotações da matéria-prima. Segundo a agência Bloomberg, os preços de referência do gás europeu subiram 14%, para 88 euros por MWh, o mais elevado para este tipo de contrato desde 31 de janeiro. O preço do gás natural acumula uma subida de cerca de 15% em 2022 e de mais de 40% no espaço de um ano.
Os aumentos estendem-se ao mercado de eletricidade. Na Alemanha, os preços para março subiram 11%, para 177 euros por MWh. Na Península Ibérica, os preços da eletricidade no mercado grossista ibérico vão voltar a subir, ficando tangentes aos 200 euros por MWh.
O petróleo segue a mesma tendência. O Brent, contrato que serve de referência para a Europa, atingiu esta manhã um novo máximo em mais de sete anos nos 96,16 dólares por barril. O WTI, negociado em Nova Iorque, sobe 0,1%, para 93,11 dólares, depois de ter atingido os 94,94 dólares, o valor mais elevado desde setembro de 2014.
São cada vez mais os analistas que veem a matéria-prima chegar rapidamente aos três dígitos. Caso haja movimentações de tropas russas, “o Brent não terá qualquer problema em ir além do nível dos 100 dólares”, antecipa Edward Moya, analista da OANDA, citado pela Reuters, assinalando que os preços continuarão “extremamente voláteis” por causa da situação ucraniana. Outro analista, Mike Tran, admite que os preços possam chegar aos 115 dólares ou além disso no verão. Os analistas da JP Morgan apontam para os 125 dólares.
O aperto nos stocks é visível ainda no facto de os preços dos contratos futuros para entrega já nos próximos meses estarem mais caros do que para contratos para datas mais distantes, um comportamento conhecido como “backwardation”.
A tensão cresceu durante o fim de semana, com notícias de que informações recolhidas pelos serviços de inteligência norte-americanos apontavam para um ataque a qualquer momento. Vários países fizeram apelos para que os seus cidadãos deixassem o território ucraniano. Moscovo nega os planos para uma invasão e acusa o Ocidente de histeria.
O Presidente dos EUA e o seu homólogo russo conversaram ao telefone durante uma hora no domingo, numa tentativa de travar a escalada. Joe Biden disse a Vladimir Putin que os EUA estão “preparados” para cenários além da via diplomática.
O chanceler alemão, Olaf Sholz, vai estar hoje em Kiev e na terça-feira em Moscovo, no que é visto como uma última tentativa para travar um conflito armado.
Investidores procuram ativos de refúgio
O ano já estava a ser negativo para os mercados acionistas, devido aos receios sobre o impacto do novo ciclo da política monetária, e a tensão na Ucrânia veio agravar a tendência. A aversão ao risco está a empurrar os investidores para ativos de refúgio tradicionais, como as obrigações de dívida pública.
Muito castigadas nas últimas semanas pela subida da inflação, as obrigações alemãs viram hoje as taxas de juro implícitas descer de forma pronunciada, recuando cerca de 10 pontos base na maturidade a 10 anos, para 0,20%, depois de na sexta-feira terem cotado nos 0,30%, um máximo de mais de 30 ano. Os juros de Portugal também aliviam 7,3 pontos base para 1,096%.
O dólar está em alta contra as principais divisas, valorizando 0,37% contra a moeda única para 1,13 euros. O ouro desce ligeiramente (0,2%) para 1.8155 dólares por onça, depois de na sexta-feira ferem registado uma forte subida para os 1.865 dólares, o nível mais elevado desde novembro de 2019. A bitcoin está a subir 0,13% para os 42.129 dólares.
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