S&P mantém inalterado rating de Portugal
A agência norte-americana manteve o rating da dívida portuguesa no nível de investimento 'BBB' com perspetiva estável. S&P revê em baixa estimativa do crescimento do país de 5,7% para 4,6% em 2022.
A agência de notação financeira Standard & Poor’s (S&P) manteve inalterado o rating da dívida soberana portuguesa, tal como previsto pela maioria dos analistas. A última revisão, que data de 11 de setembro de 2020, colocou Portugal em nível de investimento ‘BBB‘ – dois níveis acima do ‘lixo – com perspetiva estável. Contudo, a estimativa de crescimento do PIB nacional em 2022 foi revista em baixa, caindo de 5,7% para 4,6%.
A S&P justifica a manutenção da perspetiva (outlook) para Portugal com base, sobretudo, nos níveis da dívida pública e privada, que “continuam elevados” embora esteja previsto uma redução ao longo dos próximos anos. “A pequena economia aberta de Portugal é altamente suscetível a choques externos, incluindo aos preços da energia e das matérias-primas e, de uma forma mais geral, às mudanças nas perspetivas de crescimento dos principais parceiros comerciais europeus, devido ao conflito na Ucrânia”, acrescenta a agência.
Precisamente a guerra na Europa e o aumento dos preços da energia e das matérias-primas levaram a agência a rever a previsão de crescimento do PIB para Portugal em 2022, que admite “possíveis revisões em baixa adicionais, dependendo da evolução do conflito na Ucrânia”.
Considerando que o consumo global de energia em Portugal continua a ser dominado pelos combustíveis fósseis, a S&P prevê que “os efeitos imediatos apenas do aumento dos preços da energia irão reduzir o PIB em cerca de 0,3 pontos percentuais este ano, caso os preços do petróleo e do gás se mantenham aos níveis atuais” – um cenário também afetaria as contas externas de Portugal.
Contudo, as perpectivas de crescimento do PIB português a médio prazo são “favoráveis”, refere a S&P, face ao turismo posicionado “para uma forte recuperação em 2022 e 2023” e aos 69,5 mil milhões de euros (22% do PIB) em subvenções da União Europeia a serem desembolsados até 2027.
Ao mesmo tempo, a agência estima que o défice governamental de 2021 será inferior a 3% do PIB no final do ano passado, contra a meta de 4,3%, considerando que “diminuirá para baixo de 2% do PIB em 2022 e no sentido do equilíbrio até 2024”.
“Um crescimento sólido e contas externas e orçamentais equilibradas colocaram os rácios da dívida pública e privada novamente numa trajetória descendente acentuada, embora a partir de níveis elevados“, aponta a avaliação da S&P.
A agência considera os riscos do conflito na Ucrânia “difíceis de quantificar”. Face à inflação energética europeia acima de 30% numa base anual a partir do início de março, a principal preocupação dos decisores políticos em Portugal e no resto da Zona Euro é “o risco de um choque prolongado no crescimento”, refere.
Nesse sentido, continua, é esperado que “preços mais elevados de aquecimento, eletricidade e gasolina baixem os rendimentos reais das famílias e pesem nas margens das empresas, enquanto o conflito na Ucrânia abala a confiança dos consumidores e das empresas”.
Por outro lado, prevê agora que Portugal “vai operar um excedente orçamental (excluindo pagamentos de juros) em 2022”, um ano antes da projeção anterior da S&P.
A avaliação da agência aborda ainda a possibilidade de Portugal aumentar as despesas na área da Defesa para 2%, como é orientação da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), da qual é membro. Em 2021, Portugal gastou cerca de 1,5% do PIB na Defesa, mas caso decida cumprir o objetivo da OTAN até 2024, a S&P prevê um atraso do retorno da posição orçamental global a uma posição de equilíbrio (0,0% do PIB no orçamento geral do Governo) por um ano, até 2025.
A avaliação a Portugal da S&P é a segunda deste ano, seguindo-se à da agência canadiana DBRS, que alterou a perspetiva (outlook) da dívida portuguesa de “estável” para “positiva” no final de fevereiro.
A última vez que a agência norte-americana se tinha pronunciado sobre o rating português foi em 11 de setembro de 2020, visto que optou por não se pronunciar nas duas ocasiões calendarizadas no ano passado (março e setembro).
O rating é uma avaliação atribuída pelas agências de notação financeira, com grande impacto para o financiamento dos países e das empresas, uma vez que avalia o risco de crédito.
(Notícia atualizada às 21h46)
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