Lítio “desembarga” investimento da Aveleda em Ponte de Lima
Aveleda retoma plano de expansão na região dos Vinhos Verdes, que engloba mais 70 hectares e outros 3,5 milhões de euros, após Direção-Geral de Energia travar exploração de lítio na Serra d’Arga.
Em julho de 2018, a Aveleda começou a plantar na aldeia de Cabração, no concelho de Ponte de Lima, aquela que era anunciada como a futura maior vinha da região dos Vinhos Verdes, com um potencial de 200 hectares no total até 2020, fruto de um investimento avaliado em sete milhões de euros. No entanto, embora a empresa já tenha ali aquela que é a sua maior parcela de vinha, o projeto acabou por não passar dos 70 hectares, uma vez que, já depois da primeira plantação, essa zona no sopé da Serra D’Arga, a 19 quilómetros do Atlântico, acabou por ser identificada como uma das que teria potencial para a exploração de lítio, obrigando o grupo a suspender os planos de expansão.
Fevereiro de 2022: numa fase de transição governativa, já depois do PS assegurar uma maioria absoluta nas legislativas antecipadas, o Ministério do Ambiente e da Ação Climática informou que a Avaliação Ambiental Estratégica promovida pela Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) concluiu que na área da Serra d’Arga — abrange os concelhos de Caminha, Vila Nova de Cerveira, Viana do Castelo e Ponte de Lima, num total de dez mil hectares de área –, “as restrições ambientais inibem a prospeção e consequente exploração” de lítio, ficando assim esta zona fora do objeto do futuro concurso.
Em declarações ao ECO, o co-CEO e administrador da Aveleda, Martim Guedes, confirma que a segunda parte do investimento, avaliada em perto de 3,5 milhões de euros, está “em condições” de ser retomada depois desta clarificação, nos moldes em que tinha sido planeada inicialmente. “Vamos retomar a plantação dos outros 70 hectares de vinha. Dá-nos essa previsibilidade de que a vinha não vai ser expropriada para ali fazer minas de lítio. Foram notícias excelentes para nós, por podermos avançar com o investimento, e pela própria Serra d’Arga, que, de facto, tem um valor ambiental e de biodiversidade extraordinário. Falo até pessoalmente: ia-me custar imenso ver aquilo transformado numa mina a céu aberto”, sublinha o empresário.
Vamos retomar a plantação dos outros 70 hectares de vinha. Dá-nos essa previsibilidade de que a vinha não vai ser expropriada para ali fazer minas de lítio.
O grupo fundado em 1870 e sediado em Penafiel, que tem também presença no Douro, na Bairrada e no Algarve, estabeleceu no plano estratégico desenhado em 2014 o objetivo de triplicar para 600 hectares a área de vinha nos Verdes, em que é o maior produtor e em que se destaca com a marca Casal Garcia, passando a ser “largamente” o maior proprietário nessa região. Martim, que partilha a liderança executiva com o primo António, ambos da quinta geração da família Guedes, justifica essa aposta “não só por uma questão de redução da dependência económica de fornecedores, mas sobretudo por uma questão de qualidade, para [conseguir] controlar a qualidade de uma maior percentagem do vinho que [vende]”.
Em 2021, a Aveleda atingiu um novo recorde de vendas, no valor de 44 milhões de euros, com um crescimento homólogo de 8%. E no orçamento para este ano tem previsto um aumento da faturação para 47 milhões de euros, mantendo nesta fase o “otimismo” quanto ao cumprimento dessa meta. No último exercício, que terminou com um total de 173 colaboradores, mais 21 do que no último, contabilizou 21,5 milhões de garrafas produzidas nas linhas de enchimento do grupo.
Polónia a emergir, Rússia a imergir
Do Minho ao Algarve, outro grande investimento está em curso no projeto Villa Alvor, aos pés da Serra de Monchique, onde em 2019 adquiriu metade da antiga Quinta do Morgadio da Torre e tem “um plano muito faseado de aumentar entre 5 a 10 hectares de vinha todos os anos”, planeando chegar a 30 hectares. Já a outra componente do projeto, que engloba aquela que ambiciona vir a ser a maior unidade de enoturismo algarvia e que inclui a construção de uma nova adega, está a “demorar mais um bocadinho”.
“Tivemos mais dificuldades ao nível das aprovações e também tivemos algumas surpresas nos estudos técnicos. O projeto está a demorar mais um bocadinho, mas vamos avançar. Estamos nesta fase a submeter o projeto de arquitetura. Não desistimos dessa ambição de criar a maior unidade de enoturismo do Algarve. Qual o novo prazo? É difícil responder, depende das aprovações. Mas se conseguirmos começar a construir daqui a um ano seria bom”, aponta Martim Guedes.
Já incluído no planeamento, outro “investimento significativo” será feito na Quinta Vale D. Maria, no Douro, que o grupo comprou em 2017 ao primo Cristiano van Zeller. Por um lado, envolverá a área produtiva, ao nível de linhas de enchimento e das estruturas de vinificação; por outro lado, incluirá uma vertente imobiliária, com a reconstrução e requalificação de algumas casas degradadas que pertencem a esta conhecida propriedade localizada no vale do Rio Torto.
A Aveleda, que já admitiu que irá voltar a subir os preços dos vinhos em 2022, exporta 70% da produção, com Estados Unidos, Alemanha e Brasil a figurarem como os três maiores mercados externos. Um dos mercados com maior crescimento no ano passado, onde encaixou mais de um milhão de euros, foi a Polónia, que ajudou a dar “mais alguma diversificação” no negócio internacional. Questionado sobre se a instabilidade provocada pela guerra no Leste europeu poder afetar o comportamento de consumo, admite que já se nota “alguma retração e mais algum receio por parte dos clientes, como é natural”.
E a Rússia? “Tentámos durante muitos anos. No ano passado, finalmente conseguimos ter uma trajetória de sucesso e faturámos praticamente 200 mil euros no mercado russo. Estava a começar a despertar e agora teve aqui um revés muito grande. Para a Ucrânia nunca vendemos nada de significativo, por isso em termos de volume de negócio não tem impacto direto. Tem [um efeito] indireto, por tudo o que se passa no mundo”, contextualizou Martim Guedes.
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