“Portugal é um forte líder” na gestão dos oceanos, mas não é suficiente. É preciso mais dados a nível global, pede UNESCO
Relatório da UNESCO evidencia uma falta de informações para melhorar a gestão dos oceanos. Para contrariar esse obstáculo, a entidade pede mais cooperação, indicando Portugal como exemplo.
As informações e dados disponíveis relativos ao estado dos oceanos e à sua preservação não são animadoras. Na verdade, de acordo com a edição piloto do primeiro relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), “a falta de referências de confiança sobre o conhecimento dos oceanos” compromete os objetivos que visam protegê-los e, por isso, é necessário que haja mais cooperação entre os países, investimentos e recursos especializados.
“A descrição [dos oceanos] é muito incompleta. Ainda que o nosso conhecimento nos permita identificar os principais problemas, não nos permite compreendê-los. O nosso nível de conhecimento hoje [sobre os oceanos] não nos permite agir de forma objetiva”, explicou Henrik Enevoldsen, dirigente do departamento de Ciências Oceânicas da UNESCO, esta sexta-feira, no último dia da Conferência dos Oceanos, promovida pelas Nações Unidas, em Lisboa. “E, como foi dito muitas vezes ao longo desta semana, não se consegue consertar o que não se consegue medir“, disse durante a conferência de imprensa.
Questionado pelo ECO/Capital Verde sobre o que será necessário para impulsionar a melhoria na recolha de dados e pesquisa, o dirigente deixa claro que grande parte da resposta parte da “cooperação entre governos a nível mundial”, sublinhando que a responsabilidade deve ser geral e não apenas apontada aos países costeiros. “Esta responsabilidade cabe a todos. Todas as economias estão interligadas“. Ainda assim, apontou que Portugal “tem tido um papel-chave” em termos de contribuições para a gestão dos oceanos, considerando-o ser “um forte líder” a nível de observação, capacidade e desenvolvimento.
“Se tivéssemos, em média, o nível de envolvimento que Portugal teve em muitas décadas, em matéria dos oceanos, muitas coisas seriam diferentes. Portugal é um forte contribuidor”, frisou Henrik Enevoldsen.
Além da cooperação, é necessário impulsionar o investimento. Segundo o relatório, a percentagem geral da despesa doméstica dedicada à pesquisa e desenvolvimento (GERD, na sigla em inglês) da ciência oceânica é apenas de 1,7%. “Este baixo valor está por trás das dificuldades em determinar o estado do oceano”, informa o documento.
Outra urgência é também a mão-de-obra suficientemente especializada para acompanhar a evolução das novas tecnologias que “estão a revolucionar a ciência oceânica”. De forma geral, informa o relatório, os países europeus tendem a ter a maior proporção de investigadores, com destaque para Portugal e a Noruega que têm mais de 300 investigadores empregados por milhão de habitantes.
No relatório de 72 páginas, foram identificados 10 desafios e recomendações que podem contribuir para um melhor entendimento dos oceanos a nível global. Entre eles, o primeiro, referente à poluição marinha que, embora confirme existirem “evidências indiscutíveis do aumento contínuo, generalizado e inabalável da poluição da terra no oceano”, deixa claro que “muito pouco se sabe” sobre os tipos de poluição, apenas que a mão humana tem um peso significativo na degradação deste recurso. “Para poder apoiar ações contra a poluição dos oceanos e permitir o uso significativo de instrumentos juridicamente vinculativos existentes e emergentes sobre a conservação dos oceanos, é urgentemente necessário uma abordagem mais sistemática e com recursos para observações e síntese da poluição dos oceanos”, lê-se no relatório.
Ainda que as conclusões não sejam animadoras, a ideia (se possível) será fazer deste um relatório “regular”, objetivando a publicação de uma segunda edição já no próximo ano. Mas para isso, explica Enevoldsen é necessário “construir parcerias e recolher recursos”. “De forma geral, a descrição quantitativa do oceano é incompleta. Esta é a mensagem chave que vamos usar para impulsionar a recolha de dados e melhorar a avaliação do estado do oceano nos próximos relatórios.”, sublinhou Enevoldsen.
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