Por que é que os juros subiram e como afeta o seu bolso? O BCE explica
BCE acaba de aumentar as taxas diretoras em 50 pontos base, o primeiro aumento em mais de uma década. Porque subiu os juros? E como vai afetar o seu bolso? O banco explica.
O Banco Central Europeu (BCE) voltou a subir os juros 11 anos depois, anunciando um aumento de 50 pontos base nas suas taxas diretoras. Porquê? E como isso vai afetar o seu bolso? O banco central liderado por Christine Lagarde explica.
Porque aumentámos as taxas de juro?
Somos o banco central responsável pelo euro e o nosso mandato consiste em manter os preços estáveis. Quando os preços na nossa economia estão a subir com demasiada rapidez – ou seja, quando a inflação é demasiado elevada –, o aumento das taxas de juro ajuda-nos a fazer regressar a inflação ao nosso objetivo de 2% a médio prazo.
A inflação está a dificultar a vida das pessoas. Muitas estão preocupadas com a possibilidade de a inflação elevada ter vindo para ficar. Estamos atentos a estas expectativas, que designamos de “expectativas de inflação”. Por esse motivo, aumentámos as taxas de juro – com o intuito de sinalizar que não permitiremos que a inflação permaneça acima de 2%. Tal ajudará a manter as expectativas de inflação sob controlo.
Em que consistem as taxas de juro?
As taxas de juro correspondem ao custo de solicitar um empréstimo (diz-se, por vezes, que são “o preço da moeda”). Quando pretende contrair um empréstimo bancário, começa por acordar com o banco uma determinada taxa, que é normalmente uma taxa anual. Por exemplo, se pretender contrair um empréstimo de 10 mil euros a uma taxa anual de 3%, além de reembolsar o montante total do empréstimo, terá de pagar ao seu banco 300 euros por ano. Por conseguinte, a taxa de juro é, essencialmente, o que o banco lhe cobra pelo empréstimo.
Também funciona ao contrário. O juro é o dinheiro que o banco paga pelos seus depósitos, ou seja, quando “empresta” dinheiro ao banco. Por exemplo, se colocar 1000 euros numa conta de poupança a uma taxa anual de 2%, no final do ano receberá 20 euros de juros.
O que faz variar as taxas de juro?
As taxas de juro que os bancos normalmente oferecem aos particulares e às empresas acompanham as taxas fixadas pelo BCE, mas também são influenciadas por outros fatores. Numa economia de mercado livre como a área do euro, as taxas são igualmente determinadas pela procura e oferta de crédito. Por outras palavras, são determinadas por quanto as empresas e as pessoas pretendem gastar e investir e quanto crédito está disponível.
A moeda é semelhante a outros produtos ou serviços. Por exemplo, se muitas pessoas quiserem comprar pão, mas não houver pão suficiente, o preço sobe.
O mesmo se aplica às taxas de juro: quando as empresas e as pessoas pretendem gastar e investir, mas não conseguem facilmente ter crédito suficiente, as taxas de juro tendem a subir, porque há menos crédito disponível. Por outras palavras, contrair empréstimos torna-se mais caro. Ao invés, quando as pessoas têm muito dinheiro no banco, existe muita moeda na economia – frequentemente designada “liquidez” – e as taxas de juro tendem a ser baixas.
Que papel desempenha o BCE?
O BCE é o banco central responsável pelo euro. Não fixamos as taxas de juro que paga pelo seu empréstimo ou recebe pelo seu depósito, mas influenciamos essas taxas.
Definimos as chamadas “taxas de juro diretoras”, ou seja, as taxas que oferecemos aos bancos que pretendem obter empréstimos junto de nós e pela moeda eletrónica que depositam no BCE pelo prazo overnight (de um dia para o outro).
Quando alteramos as taxas de juro diretoras, tal reflete-se, em maior ou menor grau, no conjunto da economia, incluindo nos empréstimos bancários, nos empréstimos a nível do mercado, no crédito à habitação, nas taxas de juro dos depósitos bancários e em outros instrumentos de investimento.
O Conselho do BCE decide sobre as taxas de juro diretoras aproximadamente de seis em seis semanas.
Como é que as taxas de juro diretoras afetam a inflação?
Em circunstâncias normais, quando a inflação é demasiado elevada, devido à procura excessiva de poucos bens e serviços, podemos aumentar as taxas para tornar o crédito mais caro. Tal arrefece a economia, acalma as expectativas de inflação e reduz a inflação.
Quando a inflação é demasiado baixa – como tem sido o caso há bastante tempo –, podemos reduzir as taxas de juro e tornar o crédito mais barato para impulsionar o investimento e a procura.
Desde a invasão da Ucrânia pela Rússia, enfrentamos uma situação em que a inflação é demasiado elevada, mas o crescimento da economia está a abrandar. Os preços aumentaram muito devido à guerra, em especial os dos produtos energéticos e dos produtos alimentares. Muitas empresas também têm mais dificuldade em obter os materiais, as peças e a mão-de-obra de que precisam para produzir, o que está a agravar os problemas já existentes resultantes da pandemia.
O aumento das taxas de juro por si só não resolverá todos estes problemas. Taxas de juro mais elevadas não tornarão os produtos energéticos importados mais baratos, não encherão as prateleiras vazias dos supermercados, nem farão chegar semicondutores aos fabricantes de automóveis.
O que as taxas mais elevadas farão, porém, é manter as expectativas de inflação sob controlo. Se as pessoas e as empresas considerarem que a inflação elevada vai persistir, é provável que os trabalhadores exijam salários mais elevados e que os empregadores, por seu turno, subam os preços dos produtos e/ou dos serviços. É o que muitas vezes se designa de “espiral salários-preços”. Continuaremos a aumentar as taxas de juro – o que tornará o crédito mais caro e melhorará a remuneração da poupança – para evitar uma espiral desta natureza. Asseguraremos que as empresas, os trabalhadores e os investidores confiem que a inflação baixará para 2% a médio prazo. Não permitiremos que as expectativas de inflação mais elevada se enraízem.
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