Inflação atingiu o pico no terceiro trimestre, prevê Banco de Portugal
O Banco de Portugal reviu em alta a previsão para o crescimento da economia e a taxa de inflação para este ano. Subida do índice de preços será a mais elevada desde 1993, mas já está a aliviar.
O Banco de Portugal reviu em alta para 6,7% a estimativa para o crescimento da economia este ano, face aos 6,3% previstos em junho. A alteração mais significativa no Boletim Económico de Outono é, no entanto, outra: a inflação média anual deverá chegar aos 7,8%, o nível mais elevado desde 1993. A boa notícia é que já estará a aliviar.
A mais recente avaliação do banco central ao estado da economia aponta que “as pressões inflacionistas permanecem elevadas na segunda metade do ano”, mas nota “alguns sinais de alívio”. O Banco de Portugal estima que a variação no índice de preços tenha atingido “o ponto máximo no terceiro trimestre (9,5%)”, “diminuindo ligeiramente no final do ano”. No Boletim Económico de junho, a inflação estimada era de 5,9%.
Sublinhado que “as expectativas de preços dos empresários registaram uma inflexão no período recente”, a publicação refere as quedas em cadeia no preço do petróleo, o abrandamento da atividade e o desvanecimento de constrangimentos nas cadeias de fornecimento como fatores que contribuem para atenuar as pressões inflacionistas. A suportá-las vão continuar, no entanto, os preços do gás.
A entidade liderada por Mário Centeno estima um crescimento da economia um pouco mais robusto do que antecipava em junho, melhorando em quatro décimas a previsão para a evolução do PIB em 2022, situando-a agora em 6,7%. No ano anterior, a economia cresceu 5,5%.
A economia beneficiou este ano da recuperação do turismo e do consumo privado. Este último deverá crescer 5,5% (4,7% no ano anterior), beneficiando do “bom desempenho do mercado de trabalho, refletido no dinamismo do emprego e dos salários nominais, bem como no aumento da taxa de atividade para níveis historicamente elevados”. A resiliência do consumo privado decorre ainda da canalização para despesa de parte da poupança acumulada pelas famílias durante a crise pandémica.
As exportações de bens e serviços deverão crescer 17,9% em 2022 (13,5% em 2021), acima da procura externa, “implicando ganho adicionais de quota de mercado”, sublinha o Boletim Económico. Aquela evolução beneficiou sobretudo do aumento das exportações de serviços, em particular os relacionados com o turismo, que deram um salto de cerca de 86%. O crescimento das exportações de bens abranda de 10,8% em 2021 para 6% este ano.
Também o investimento deverá desacelerar, crescendo apenas 0,8% em 2022 (contra 8,7% em 2021), num “contexto de restrições de oferta, aumento dos custos de produção, agravamento das condições de financiamento, baixa execução dos fundos europeus e elevada incerteza”. O investimento público também trava, “com um menor impacto do PRR face ao anteriormente esperado”.
O défice da balança de bens e serviços deverá encolher para 1,9% do PIB, com o crescimento das exportações a não ser suficiente para compensar o agravamento do custo das importações de bens energéticos. A balança corrente e de capital fechará o ano com um excedente de 0,5%.
Travagem a fundo, mas sem recessão
O Banco de Portugal dá conta de uma forte travagem da economia a partir do segundo trimestre, não prevendo, no entanto, uma recessão, com as taxas de crescimento a manterem-se próximo mas acima de zero. “Os efeitos negativos da agressão militar russa na Ucrânia foram-se acentuando ao longo do ano, implicando uma relativa estabilização da atividade a partir do segundo trimestre”, refere.
A desaceleração da economia mundial, influenciada por um aumento da inflação mais elevado e persistente do que o esperado, condicionaram a atividade. Além disso, a inversão da política monetária acomodatícia do BE traduz-se num agravamento das condições de financiamento da economia.
A entidade liderada por Mário Centeno alerta ainda que os efeitos negativos “serão mais notórios em 2023, antecipando-se uma desaceleração significativa face a 2022″. O perfil de crescimento económico este ano implica um efeito de arrastamento de apenas 0,5 pontos percentuais em 2023, num claro contraste com os 3,9 pontos percentuais de 2022.
(artigo atualizado às 11h50)
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