Rendimento real das famílias estagna em 2022
O Banco de Portugal assinala o desempenho positivo do mercado de trabalho e os apoios do Governo. Boletim Económico revê números da economia em 2022.
Os preços aceleraram, mas, ainda assim, “o rendimento disponível real estagna em 2022 (0,2%, após 2,2% em 2021)“, revela o Banco de Portugal no Boletim Económico do Outono e que contempla a revisão do quadro macroeconómico para este ano.
A explicação do supervisor liderado por Mário Centeno para a evolução do rendimento disponível real das famílias — em termos nominais, refira-se, este agregado acelera de 3,6% para 6,5%–, assenta no desempenho do mercado de trabalho, isto é, “no comportamento das remunerações do trabalho e das transferências internas”, leia-se o plano de apoio às famílias.
O Banco de Portugal assinala logo no texto de enquadramento deste boletim económico — sem previsões económicas para 2023 — que “o enquadramento externo e financeiro tem vindo a deteriorar-se pela via de aumentos da inflação e das taxas de juro, que têm efeitos adversos sobre o rendimento disponível real. Estes efeitos são atenuados em 2022 pelo bom desempenho do mercado de trabalho, refletido no dinamismo do emprego e dos salários nominais, bem como no aumento da taxa de atividade para níveis historicamente elevados“. Mais à frente, acrescenta, “as medidas anunciadas em setembro pelo Governo português deverão ter um contributo de 1,4 pontos percentuais (p.p.) para a variação do rendimento disponível em 2022“, enquanto “o aumento das taxas de juro implica um aumento ligeiro do serviço da dívida em 2022, interrompendo a trajetória descendente visível desde 2012″.
Nas contas do Banco de Portugal, “os salários por trabalhador no setor privado crescem 5,4% (4,9% em 2021), implicando uma queda em termos reais no ano, mas mantendo ganhos reais face a 2019″.
“Este crescimento incorpora o aumento de 6% do salário mínimo no início do ano e refletirá também um elevado dinamismo dos salários ao longo de toda a distribuição”. Mas como é que o salário médio é compatível com esta evolução do salário considerado individualmente? O Banco de Portugal garante que sim, “dada a presença de fortes efeitos de composição negativos (o aumento do emprego estará a ser mais concentrado nos escalões salariais mais baixos)”. Além disso, acrescenta, “cerca de 80% dos salários são definidos no âmbito de instrumentos de regulamentação coletiva em Portugal, o que pode introduzir um elemento de rigidez na transmissão da inflação aos salários“.
Se a revisão em alta do PIB e da inflação já era mais ou menos previsível, o desempenho do mercado de trabalho tem um comportamento surpreendente neste contexto. Segundo o Banco de Portugal, “em 2022, o emprego acelera face ao ano anterior (2,3%, após 1,9% em 2021), refletindo a evolução do emprego por conta de outrem. As horas trabalhadas crescem 5,1% (3,1% em 2021), ultrapassando o nível pré-pandemia no final do ano“. Mas a instituição liderada por Mário Centeno também assinala que já se vê “sinais de moderação” ao longo do ano.
O Banco de Portugal nota um fenómeno no mercado de trabalho durante o ano de 2022. “Em termos trimestrais, apesar do arrefecimento da atividade, a taxa de desemprego permanece relativamente estável ao longo do ano”, o que refletirá a necessidade das empresas de manterem trabalhadores quando sabem que há uma escassez de mão de obra. Aliás, “a percentagem de empresas que reporta dificuldades em contratar pessoal qualificado mantém a trajetória ascendente no terceiro trimestre de 2022, sendo o aumento particularmente notório no setor dos serviços”, escreve o Banco de Portugal. E enquanto a taxa de desemprego está estável, a taxa de empregos vagos aumentou, o que significará, para o supervisor, uma diferença entre o perfil de trabalhadores que as empresas querem e o perfil que está disponível. Consequência: “O aumento do desemprego de longa dura-ção (cerca de 55% no segundo trimestre de 2022, face a 37% dois anos antes)“.
Neste boletim económico de outono, o Banco de Portugal reviu em alta para 6,7% a estimativa para o crescimento da economia este ano, face aos 6,3% previstos em junho. A alteração mais significativa é, no entanto, outra: a inflação média anual deverá chegar aos 7,8%, o nível mais elevado desde 1993. A boa notícia é que já estará a aliviar.
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