Regresso do comboio direto entre Lisboa e Madrid depende da alta velocidade
Líderes dos governos de Portugal e Espanha apenas admitem um comboio direto entre as duas capitais ibéricas daqui a mais de um ano, quando estiver concluída a construção do troço Évora-Elvas.
Vai ser preciso esperar até ao início de 2024 para que volte a haver um comboio direto entre Portugal e Espanha. Os primeiros-ministros dos dois países recusam-se a retomar a ligação ferroviária sem transbordos entre as duas capitais ibéricas enquanto não estiver concluída a construção do troço Évora-Elvas, que permitirá comboios de alta velocidade, a 250 km/h. Na Cimeira Ibérica de Viana do Castelo, os dois países assinaram protocolos relativos a projetos de investigação científica e na área alimentar.
António Costa alega que “não houve condições para retomar” a ligação ferroviária direta entre Lisboa e Madrid, que era assegurada pelo comboio Lusitânia, operado em conjunto pelas transportadoras públicas ibéricas CP e Renfe e que dava um prejuízo anual de dois milhões de euros. Para retomar o serviço mesmo com prejuízo, teria de ser feita uma adenda no contrato de serviço público da CP.
Até lá, o primeiro-ministro português alega que os dois países estão a “trabalhar em soluções de futuro”, como a nova linha de alta velocidade Lisboa-Porto-Vigo. O chefe do Governo português entende ainda a nova linha Évora-Elvas será um “corredor preparado para transporte de mercadorias e pré-preparado para serviço de passageiros”.
Em complemento à resposta de Portugal, o homólogo espanhol indicou que “é claro” o compromisso de melhorar as ligações ferroviárias entre os dois países e recordou que do outro lado da fronteira já está pronto um troço de 150 quilómetros entre Badajoz e Plasencia – embora de forma limitada. Até que as obras sejam concluídas, serão necessários três comboios para fazer a viagem sobre carris entre Lisboa e Madrid, num percurso que demora praticamente nove horas.
Também na área da ferrovia, a declaração conjunta aponta para o início dos estudos da conexão ferroviária Faro – Huelva – Sevilha, reclamada pelos empresários do sul de Portugal e de Espanha, e regressa a aposta no troço Aveiro-Salamanca, que já foi chumbada por duas vezes pela Comissão Europeia.
As declarações dos dois líderes sobre a ferrovia acontecem numa altura em que “a proximidade entre Portugal e Espanha e a excelente cooperação política permitiram encontrar respostas para problemas difíceis“, sinalizou o primeiro-ministro português, António Costa, durante a conferência de imprensa. Neste âmbito, destaque para a construção do gasoduto entre Península Ibérica e França — cujo plano tem de ser apresentado até 15 de dezembro — e também no mecanismo ibérico para limitar o preço da luz. O homólogo espanhol, Pedro Sánchez, considerou que as relações entre Portugal e Espanha “atravessam um momento excecional, assentes em valores de solidariedade e de bem-estar”. Pedro Sánchez notou também que “Espanha olha para Portugal com afeto e cumplicidade e a convicção de que partilhamos um conjunto de interesses”.
Proximidade na gestão dos rios
Portugal e Espanha acordaram a criação de um grupo de trabalho sobre água e energia “que contribua para lidar, em conjunto, com o papel da água como gerador da energia e explorar as oportunidades de armazenamento energético”. Ainda no capítulo da água, os dois países comprometeram-se em “fortalecer os mecanismos bilaterais de acompanhamento dos caudais“, passando as reuniões a serem mensais em vez de trimestrais. “Ambos os países trabalharão de forma conjunta para harmonizar os indicadores de seca e escassez usados por ambos os Estados e, em particular, os que caracterizam as situações de exceção previstas na Convenção de Albufeira”, refere a convenção conjunta.
Realizada em Viana do Castelo, a 33.ª Cimeira Ibérica contou com nove ministros do lado português e nove ministros do lado espanhol, a que se juntaram os embaixadores de Portugal em Espanha e de Espanha em Portugal. O encontro diplomático também ficou marcado pela assinatura de um memorando de entendimento para a criação de um laboratório ibérico na área alimentar, o Iberian FoodTec Lab. Este consórcio pretende “apostar no desenvolvimento do setor em ambos os países, com base nos seus recursos endógenos, para consolidar os ‘clusters’ alimentares na região do Norte de Portugal, Galiza e Castela e Leão”.
A Cimeira Ibérica também serviu para a assinatura de protocolos relativos a dois projetos de investigação científica, com fundos europeus dos planos de recuperação e resiliência (PRR): uma “constelação atlântica de satélites para a observação da terra” e o centro de investigação e armazenamento de energia de Cáceres, relacionado com semi e micro condutores.
(Notícia atualizada às 18h05 com mais informação)
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