Trabalhadores da Autoeuropa decidem greve a 17 e 18 de novembro
Administração e trabalhadores estão em sentidos diferentes na luta contra a inflação: fábrica quer pagar bónus únicos de 400 euros; operários defendem antecipação de aumentos com efeitos retroativos.
A Autoeuropa está prestes a entrar num braço de ferro. Administração e trabalhadores não se entendem sobre o aumento nos salários por conta da taxa de inflação. Esta terça-feira é o primeiro de dois dias de plenários dentro da fábrica de automóveis do grupo Volkswagen em Portugal e estará a votação uma greve de dois dias, a 17 e 18 de novembro, apurou o ECO.
Das reuniões entre a comissão de trabalhadores e todas as estruturas sindicais da empresa, na semana passada, saiu o consenso de propor aos trabalhadores dois dias de greve a 17 e 18 de novembro, que se traduzem em paragens de duas horas por cada turno. A incompreensão da administração em aceder aos pedidos dos trabalhadores tendo em conta o contexto inflacionista, quando a empresa caminha para o seu segundo melhor ano de sempre, motiva o avançar para esta forma de contestação.
Para falar sobre o tema é necessário recuar a 30 de março. Neste dia, mais de 69% dos operários aprovaram o novo acordo laboral para 2022 e de 2023. O documento assegurava aumentos salariais de 2% para este ano e o próximo, no valor mínimo de 30 euros. Para a definição do aumento de salário de 2023 também ficou determinado: “Nas próximas negociações será tomada em consideração a inflação passada“.
Avançamos até julho e ao primeiro pedido da comissão de trabalhadores junto da administração. “Uma vez ultrapassados os piores cenários relativamente à previsão do volume de produção para este ano com os quais fomos confrontados em janeiro, a empresa tem todas as condições para aplicar no final do ano uma atualização digna do esforço a que todos os trabalhadores são sujeitos diariamente”, referiu o comunicado da comissão de trabalhadores. Logo nesta altura, antecipava-se o segundo melhor ano de produção de sempre.
Sem reação da administração, os representantes dos operários pisaram o acelerador no início de setembro. “A C.T. voltou a pressionar a empresa para que assuma um compromisso para no mês de dezembro de 2022 aplicar um aumento salarial extraordinário de forma a repor a perda de poder de compra que se tem vindo a verificar”, refere o comunicado de 9 de setembro. A equipa de liderança da unidade de Palmela continuou sem dar resposta.
A C.T. não aceita que, numa empresa que se prepara para atingir um dos melhores anos a nível de volume de produção, se apresente uma decisão completamente descabida daquilo que deveria ser a responsabilidade social para com os seus trabalhadores..
Avançamos para 21 de outubro. Neste dia, a comissão de trabalhadores pediu um aumento de 5% em dezembro com retroativos a julho e uma nova atualização em janeiro de 2023, que conjugue os dados da inflação deste ano e o acordo laboral. Assim se a taxa de inflação em 2022 for de 8%, os trabalhadores querem uma atualização no início do ano de 2% relativos ao acordo e mais 1% que reflete a inflação.
No caso de um salário bruto de 1.000 euros: em dezembro, os trabalhadores recebem mais 50 euros referentes a esse mês e 250 euros referentes a 50 euros de julho, agosto, setembro, outubro e novembro. Ou seja, mais 300 euros no total. A partir de 2023, assumindo como ponto de partida os 1.050 euros brutos, os trabalhadores querem um novo aumento de 3% — 2% que já estava previsto no acordo e 1% proposto agora, se inflação for de 8%.
A administração da fábrica, liderada por Thomas Hegel Gunther, finalmente respondeu aos trabalhadores em 28 de outubro, propondo um prémio único, de 400 euros, à semelhança do que fez a fábrica de camiões do grupo Daimler no Tramagal (concelho de Abrantes) no mês de setembro.
“A C.T. não aceita que, numa empresa que se prepara para atingir um dos melhores anos a nível de volume de produção, se apresente uma decisão completamente descabida daquilo que deveria ser a responsabilidade social para com os seus trabalhadores”, reagiram os representantes dos operários no mesmo dia. A comissão de trabalhadores, alegando que “tudo tem feito para manter a paz social”, foi ainda mais longe: “a empresa, com a sua intransigência, tudo está a fazer para que essa mesma paz social seja perturbada“. A mensagem foi repetida na passada sexta-feira.
Ao ECO, o porta-voz da Comissão de Trabalhadores, Rogério Nogueira, afirma apenas que “todas as hipóteses estão em cima da mesa”. Entre hoje e amanhã, haverá um total de quatro plenários, um por turno. Até hoje, a única greve na Autoeuropa — excluindo as greves gerais — foi em 30 de agosto de 2017.
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