Protestos crescem na China contra política “Covid zero”
Segundo os dados da Comissão Nacional de Saúde, a China bateu nas últimas 24 horas um número recorde de casos, detetando quase 40.000 novos casos, embora mais de 90% se tratem de casos assintomáticos.
As manifestações contra as restrições impostas pela China na estratégia “zero covid” espalharam-se este fim de semana por grandes cidades como Pequim, Xangai e Nanjing, de acordo com imagens divulgadas nas redes sociais.
Os protestos intensificaram-se após a morte de dez pessoas num incêndio num edifício alvo de confinamento em Urumqi na quinta-feira.
De acordo com vídeos e testemunhos que circulam nas redes sociais, a indignação na sexta-feira que inundou a Internet chinesa, fortemente censurada, transformou-se no sábado em vigílias em memória das vítimas, com muitos dos utilizadores a sublinharem o facto de as vítimas terem passado os últimos 100 dias das suas vidas confinadas em casa.
Embora a imprensa oficial não noticie os incidentes, os vídeos mostraram dezenas de pessoas no sábado a derrubar vedações usadas pelas autoridades para bloquear o vasto complexo habitacional de Tiantongyuan, no norte de Pequim.
A capital chinesa, que tem estado especialmente protegida contra surtos desde 2020, está agora a experimentar os níveis mais elevados de contágio: de acordo com o último relatório oficial, mais de 4.300 novos casos foram detetados no sábado, 82% dos quais assintomáticos.
Estes números, baixos pelos padrões internacionais, mas intoleráveis para as autoridades chinesas, resultaram em restrições e confinamentos que afetam uma grande parte da população da capital, como já aconteceu este ano noutras partes do país, como Urumqi ou a Xangai, que este ano passou por um duro confinamento que durou mais de dois meses em algumas áreas.
Precisamente naquela cidade, e precisamente na rua Urumqi, centenas de pessoas reuniram-se no sábado à noite para fazer uma vigília em memória daqueles que morreram no incêndio e que decorreu de uma forma geral pacífica, de acordo com testemunhos em redes, mas com alguns a afirmarem que houve lugar a detenções.
As imagens mostram grupos de manifestantes a cantar “Aqueles de vós que se recusam a ser escravos, ergam-se” – um verso do hino nacional chinês – ou “A Internacional”, gritando “queremos liberdade” e apelando ao fim dos testes e dos códigos QR, numa referência à obrigação de digitalizar com uma aplicação móvel os códigos QR sanitários à entrada de qualquer estabelecimento ou mesmo em parques, para que, quando as autoridades detetarem um contágio, possam determinar quem teve contacto com essa pessoa em qualquer momento.
A certa altura da noite, um grupo de pessoas gritou “Abaixo o Partido Comunista, abaixo Xi Jinping”, numa exibição pública invulgar de desaprovação das políticas do líder do país.
De acordo com o portal especializado What’s On Weibo, numerosos utilizadores da rede social Weibo – o equivalente local do Twitter, que é censurado no país – expressaram apoio à vigília, mas, sobretudo, pediram aos participantes que se protegessem, antes que os censores da plataforma proibissem os comentários.
O mesmo site avançou que, numa universidade em Nanjing, numerosos estudantes reuniram-se no campus no sábado à noite e acenderam as lanternas dos telemóveis, numa vigília em memória dos mortos em Urumqi.
Entretanto, noutra universidade, neste caso em Xian, uma cidade que também passou por duros confinamentos, um grupo de estudantes tomou as ruas do campus para mostrar a sua insatisfação com os confinamentos anti-Covid-19, que têm tido um impacto significativo na economia nacional.
O gigante asiático, praticamente isolado do resto do mundo desde o início de 2020, sofreu numerosas vagas de surtos desde o início deste ano, o que pôs em risco a estratégia de tolerância zero do país contra o coronavírus, ao ser registado um número de infeções mais elevado do que no início da pandemia.
De acordo com dados da Comissão Nacional de Saúde, a China bateu nas últimas 24 horas o número recorde de infeções, detetando quase 40.000 novos casos no sábado, embora mais de 90% se tratem de casos assintomáticos.
Os números oficiais mostram que cerca de 1,8 milhões de pessoas estão atualmente sob quarentena, uma vez que a diretriz é transferir os casos – incluindo assintomáticos – e também, mas separadamente, aqueles que tiveram em contacto com os infetados, para hospitais ou centros de isolamento.
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