Exclusivo Gigante dinamarquesa Vestas duplica operação de engenharia em Matosinhos
Vestas Technology Centre Porto já representa “um terço do cérebro” da líder mundial na energia eólica e vai chegar aos mil funcionários. Indústria do vento em Portugal está 20 anos atrás da Dinamarca.
Cinco anos depois de instalar um centro de investigação e desenvolvimento (I&D) em Portugal, que emprega atualmente perto de 600 profissionais, a gigante dinamarquesa Vestas, que reclama a liderança mundial no setor da energia eólica com presença num total de 88 países, prevê “superar as mil pessoas” no próximo ciclo de cinco anos, duplicando assim a atual operação de engenharia instalada num hub de empresas em Matosinhos.
Em entrevista ao ECO, o diretor do Vestas Technology Centre Porto (VTCP), Martin Kaasgaard, que dirige esta equipa com 25 nacionalidades, 76% homens, idade média de 32 anos e especializada em vários ramos de engenharia – eletrotécnica, mecânica, informática, civil, materiais, data analytics e realidade virtual –, frisa que o novo edifício na Lionesa “está preparado para a construção de um terceiro piso, e com o modelo de trabalho remoto pode acomodar, pelo menos, mil pessoas”.
Apesar de também ter pessoas noutras áreas, como procurement, e em funções de suporte, “99%” da estrutura está dedicada ao desenvolvimento de produtos e serviços tecnológicos para este grupo nórdico fundado em 1892, que desenha, fabrica, instala, desenvolve e faz manutenção a projetos de energia eólica e híbridos, somando 157 GW de capacidade instalada. O escritório português, mais recente que o dinamarquês e o indiano (aberto há 15 anos), está a “desenvolver-se muito rapidamente” e equivale já a “um terço do cérebro da companhia”.
Vemos o escritório do Porto a desenvolver-se muito rapidamente. Estou muito orgulhoso pelo crescimento nestes anos de operação e por sermos já um terço do cérebro da companhia e isso ser reconhecido pelo grupo.
O VTCP tem “centenas de projetos” em diferentes fases de maturidade, mas o de maior dimensão em que está envolvido é o da nova turbina offshore V236, que tem uma “porção significativa” do desenvolvimento em Portugal. E é sobretudo nas competências que estabeleceu na área do offshore – por exemplo, dentro do floating offshore, para o qual tem uma equipa dedicada – que assenta a confiança de Martin Kaasgaard. Pois é também aí que mais tem crescido o portefólio global da Vestas.
“O nosso crescimento está muito ligado ao offshore. Nas previsões sobre o crescimento desta indústria, o cenário mais pessimista aponta para um crescimento para o dobro da dimensão no final da década. Se todos os políticos mantiverem as suas promessas, será muito maior. (…) A Vestas domina cerca de 40% do mercado mundial nesta área, o que significa que esperamos, pelo menos, manter essa percentagem – e temos a ambição de crescer mais que o mercado. Essa é a base para o crescimento da empresa em termos de produção e de pessoas”, antecipa.
No cargo desde agosto de 2021, o gestor refere que o grupo “não tem planos” para avançar com uma fábrica em Portugal, mas adianta que “se quiser estabelecer uma base industrial, irá fazê-lo provavelmente com parceiros que tenham as capacidades e a mentalidade certas”. Por outro lado, identifica e lamenta o atraso português nas energias eólicas. É que, embora os desenvolvimentos tecnológicos a partir do Norte de Portugal sejam “exportados para todo o mundo, claro que a proximidade aos projetos [seria] um valor” para este escritório.
“Se pensarmos no tipo de projetos que podemos ter aqui, lembra-me do que acontecia na Dinamarca há 20 anos. A maturidade da indústria do vento aqui é provavelmente essa. Por isso, há muito potencial e queremos ajudar a construir essa indústria em Portugal. Claro que há empresas [no setor energético] muito talentosas no terreno, mas não estão a ter um background no vento. Esperamos colaborar nisso e estamos certo de que podemos ajudar na conversão para as energias verdes”, resume o diretor.
Sem arrependimentos e com oportunidades
Com mais de 29 mil colaboradores a nível global, a Vestas é a 98.ª empresa europeia que mais investe em atividades de I&D, de acordo com o EU R&D Scoreboard 2021. Martin Kaasgaard diz que é difícil calcular os euros já aplicados em Portugal – “com o nível salarial na engenharia, esse é o nosso maior investimento, nas pessoas e na formação” –, mas tem a certeza de que não está arrependido de ter vindo para Portugal. “Absolutamente não. Ainda me impressiono todos os dias com o nível de pessoas qualificadas que temos aqui, com o compromisso e a ânsia que têm, e com a qualidade do trabalho de engenharia que é desenvolvido aqui”, frisa.
É agora mais difícil contratar? “Em certas áreas, sim. Uma das razões para termos escolhido o Porto é a força das universidades, que produzem muito bons engenheiros civis, mecânicos, eletrotécnicos. Esse tipo de competências ainda as conseguimos encontrar e com boa qualidade. Vemos depois outras em que é difícil, como certas áreas de software ou cibersegurança, em que há uma escassez a nível mundial. Mas até agora ainda temos sido capazes de crescer e de atrair talentos muito bons”, responde. E descreve que os salários competitivos são apenas “uma parte minoritária” no esforço de retenção desses talentos.
“Temos de manter o trabalho interessante, assegurar que as pessoas estão a desenvolver-se e que são parte de algo maior do que elas próprias e que estão a ajudar a salvar o planeta, que é agora um aspeto muito valorizado pelos jovens que recrutamos. E o trabalho de engenharia que temos aqui é provavelmente o mais interessante do mundo. O tamanho das componentes e a complexidade das máquinas que construímos. Temos todas as competências e disciplinas de engenharia na Vestas. E oferecemos também às pessoas a oportunidade de se mudarem dentro da empresa, inclusive dentro do mesmo escritório”, completa o líder do VTCP.
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