Europeus fiéis ao dinheiro. Portugueses são dos que mais estão a deixar as moedas e notas
Em Portugal, a relação com o dinheiro está a mudar. A utilização de dinheiro físico diminuiu mais nos países do sul da Europa, mesmo quando os portugueses são os que têm menos acesso a cartões.
Em Portugal, o uso de notas e moedas diminuiu, mas é o país da zona euro onde os cidadãos têm menos acesso a cartões de pagamento (débito e crédito). Segundo o estudo SPACE, realizado pelo Banco Central Europeu (BCE), e que investiga os comportamentos financeiros na zona euro de dois em dois anos, junto dos residentes da União Monetária, o uso de dinheiro físico reduziu. É uma tendência na maioria dos países da zona euro, mas especialmente prevalente nos países do sul da Europa: Portugal, Grécia, Espanha e Chipre.
Mas os europeus ainda gostam de dinheiro físico. Para 60% dos cidadãos europeus, a possibilidade de segurar o seu dinheiro nas mãos ainda é importante. O que é valorizado, na utilização de notas e moedas, é a proteção da privacidade e o rápido processamento dos pagamentos. Além disso, os adeptos do dinheiro acreditam que a sua utilização os torna mais conscientes dos hábitos de despesa. Face a possíveis crises energéticas e falhas de energia, a discussão sobre notas e moedas versus pagamentos digitais torna-se relevante.
Numerário mantém-se importante nos pontos de venda
Nos 19 países da zona euro, os pagamentos são feitos, em geral, com notas e moedas. Mas, mesmo assim, a percentagem de pagamentos em numerário em todas as transações caiu para 59% em 2022. Três anos antes, a quota era de 72%, seis anos antes 79%.
Medidos em termos de volume de negócios, os pagamentos com cartão estão, pela primeira vez, a ultrapassar os pagamentos em dinheiro. De acordo com os dados do BCE, 46% das vendas nas lojas foram pagas por cartão e 43% em dinheiro físico. As diferenças na proporção de pagamentos em moedas e notas deve-se ao facto de pequenos montantes serem mais frequentemente pagos em dinheiro, enquanto grandes montantes são mais suscetíveis de serem pagos por cartão de débito ou de crédito.
Os resultados do inquérito ilustram uma tendência contínua para menos pagamentos físicos nos pontos de venda. Mas os consumidores estão também a fazer compras online com cada vez mais frequência. A percentagem de pagamentos de comércio eletrónico em todos os pagamentos subiu para 17% em 2022. Três anos antes, era de 6%. Em termos de volume de negócios, a quota até cresceu de 14% para 28%.
Pandemia alterou comportamentos
A pandemia acelerou o declínio dos pagamentos com dinheiro físico. Um em cada três inquiridos disse que pagava ‘um pouco menos’ ou ‘muito menos’ com moedas e notas do que antes da pandemia. 54% não mudaram comportamentos de pagamento, enquanto 14% pagaram em dinheiro com mais frequência. A maioria das pessoas considera o pagamento eletrónico mais conveniente (58%).
A opção dinheiro físico é importante para a maioria
A maioria dos europeus não quer passar sem notas e moedas. Para 60% dos consumidores da zona euro, estes elementos são ‘muito importantes’ ou ‘bastante importantes’. Alemães e austríacos estão no topo da lista dos fãs do dinheiro físico.
Dinheiro cripto é procurado em Portugal – mas dificilmente como meio de pagamento
Uma pequena proporção de europeus aventurou-se nas cripto. 4% dos inquiridos disseram que detinham este meio de pagamento. Portugal está entre os países que reportaram a combinação mais elevada de cripto aplicada ao investimento e pagamento: Itália (30%), Eslovénia (28%), Grécia, Bélgica, Portugal, Áustria e Chipre (todos com 26%) e Espanha (25%).
O BCE coordenou a recolha de dados em 17 países da zona euro. Todos, exceto a Alemanha e os Países Baixos. O Deutsche Bundesbank (2022) e o De Nederlandsche Bank e a Associação Neerlandesa de Pagamentos (2022) recolheram os seus próprios dados.
O BCE quer assegurar que os consumidores continuarão a ter a liberdade de escolher se preferem pagar com dinheiro ou cartão. O membro do Conselho Executivo responsável, Fabio Panetta, afirmou, de acordo com o comunicado do BCE, que “existe uma forte procura tanto de numerário como de opções de pagamento digital.
O empenho do BCE em numerário e o trabalho na introdução de um euro digital deverá ajudar a garantir que as pessoas na zona euro tenham sempre uma escolha“.
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