O sobe e desce da inflação desde a chegada do euro
Apesar do rendimento disponível ter acompanhado a inflação, o poder de compra das famílias tem vindo a cair por conta de um encarecimento significativo dos bens alimentares e dos serviços básicos.
Ao longo das últimas duas décadas, os preços da generalidade dos bens em Portugal têm-se mantido estáveis. De acordo com dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), entre 2002 e 2022 o índice de preços no consumidor (IPC) registou uma variação média anual de 1,86% – já contabilizando a taxa de inflação recorde de 7,8% registada no ano passado.
A estabilidade da evolução dos preços e o baixo nível do IPC desde a entrada em circulação do euro devem-se, sobretudo, à política monetária do Banco Central Europeu (BCE), que tem procurado constantemente manter a taxa de inflação no espaço da moeda única em redor dos 2%.
Em termos absolutos, os preços da generalidade de bens e serviços aumentaram 47% nos últimos 22 anos. Isto significa que um determinado cabaz de bens que em 2002 custava 100 euros custa agora 147 euros.
Fonte: INE
Uma vez que, no mesmo período, o rendimento disponível bruto das famílias (até setembro do ano passado) aumentou, em média, 42% (cerca de 1,7% por ano), é legítimo afirmar que os portugueses mantiveram praticamente o mesmo poder de compra entre 2002 e 2022. Porém, quando se decompõe o cabaz familiar, a conclusão é outra.
Na habitação e serviços associados, que é a maior fatia do bolo das despesas da generalidade das famílias, os preços dispararam 98% nos últimos 22 anos, cerca de 3,3% por ano: por cada 100 euros gastos em 2002 com despesas com a casa, essa despesa é atualmente de 198 euros.
Destaque ainda para a fatura do gás, que desde 2002 aumentou, em média, a um ritmo de 4,1% todos os anos, enquanto a despesa com a eletricidade e com a água dispararam, em média, 3,7% e 2,5%, respetivamente.
Na despensa, o pão e os cereais, assim como a fruta, também registaram um aumento de preços acima da média do IPC: o preço do pão aumentou 63% (2,35% por ano) e os preços da fruta 66% (cerca de 2,43% por ano). O mesmo aconteceu com a educação: de acordo com dados do INE, as propinas no ensino superior aumentaram mais de 82% desde 2002 (2,9% por ano) e os preços praticados no ensino pré-primário e primário subiram 85% (cerca de 3% por ano).
Cabaz dos produtos que mais encareceram desde 2002
São muitos os bens e serviços que desde a entrada em circulação do Euro têm registado uma subida dos preços acima da média da inflação. É disso exemplo os serviços de recolha do lixo, que desde 2002 contabilizaram um aumento de 5,5% por ano.
Nos transportes, a inflação também se fez notar com força, particularmente o transporte marítimo de passageiros, com o preço das viagens a encarecerem 136% entre 2002 e 2022, cerca de 4,2% por ano. Mais moderada foi a subida do preço dos bilhetes de comboio, que aumentou 104%, cerca de 3,5% por ano.
No setor da saúde, o crescimento da procura por genéricos até ajudou a travar a subida do preço dos medicamentos, mas o aumento de 112% do preço da generalidade dos serviços hospitalares (cerca de 3,65%) espelha bem o encarecimento dos cuidados de saúde em Portugal nas últimas duas décadas.
Mas nem só de subidas de preços se fez a história do Euro em Portugal. Entre os produtos que ficaram mais acessíveis à carteira das famílias estão destacadamente os artigos tecnológicos, como computadores, máquinas fotográficas, telemóveis e televisões, que desde 2002 registaram uma contração anual média dos preços entre 8,4% e 5,5%.
Também mais baratos ficaram os livros, que viram os preços cair, em média, 31% (cerca de 1,7% por ano). O mesmo sucedeu com o calçado e o vestuário (24%) e as bicicletas, que contabilizaram uma descida dos preços de 11%, cerca de 0,5% por ano.
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