Sindicato critica “vigarices” na privatização da TAP em 2015

Sindicato defende que Governo "tem a missão histórica de reparar, em primeiro lugar, as vítimas, que são os trabalhadores, devolvendo-lhes o que lhe foi roubado".

O Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava), um dos maiores da TAP, considera que a compra de 61% da companhia aérea pela Atlantic Gateway em novembro de 2015 envolveu várias “vigarices”, que mais tarde levaram à necessidade de recorrer à injeção de 3,2 mil milhões de euros do Estado, acompanhada de um plano de reestruturação com despedimentos e cortes de salários para os trabalhadores.

Vieram agora a público, preto no branco, como diz o povo, as “vigarices” – sim não temos melhor substantivo – que os ‘investidores’ privados, muito endinheirados, fizeram para comprar a TAP em 2015, naquele ato noturno, pela calada, e com o silêncio cúmplice de muitos daqueles que hoje choram lágrimas de crocodilo”, escreve o Sitava num comunicado aos associados.

O ECO revelou uma análise legal da Serra Lopes, Cortes Martins & Associados (SLCM) que indica que os 226,75 milhões de dólares que a Atlantic Gateway, a holding de David Neeleman e Humberto Pedrosa, colocaram na TAP e garantiram a privatização vieram diretamente da Airbus. Dinheiro que terá sido entregue em contrapartida de um negócio de compra de 53 aviões ao fabricante europeu, fechado pelo próprio empresário americano, e que segundo os advogados pôs a companhia aérea a pagar a sua própria capitalização, violando o Código das Sociedades Comerciais. Numa análise efetuada pela consultora Airborne para a TAP, a companhia aérea ficou a pagar pelas aeronaves mais 254 milhões do que a concorrência. O Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP) tem já a decorrer um inquérito com base nestes indícios.

“Todos sabiam que isto se falava nos corredores e, nós próprios, tivemos oportunidade de o transmitir às várias entidades a quem ‘batemos à porta’, na nossa luta quase solitária contra essa privatização. Ninguém sabia de nada, nem queria saber, e nem sequer tinha ouvido falar, tal era o encanto e a felicidade que o Dr. Pires de Lima, então já ex-ministro, e o seu ‘Partner’ Sérgio Monteiro, irradiavam“, escreve o sindicato.

De uma só penada os ‘acionistas’ muito endinheirados tinham comprado a empresa toda e, pasme-se, com o dinheiro da própria empresa. Se isto não foi uma vigarice então que nome tem? E agora, não haverá consequências?

SITAVA

“Venderam nessa noite 61% da TAP, mas para os mais distraídos é bom que se recorde que ficou agendada a venda da totalidade. Portanto, de uma só penada os ‘acionistas’ muito endinheirados tinham comprado a empresa toda e, pasme-se, com o dinheiro da própria empresa. Se isto não foi uma vigarice então que nome tem? E agora, não haverá consequências?“, acrescenta o Sitava.

A estrutura sindical que representa o pessoal de terra da companhia questiona o negócio dos aviões: “Foi a decisão certa a troca de frotas e a encomenda de uma quantidade de aviões de que a TAP não precisava? E, ainda por cima, mais caros do que os outros operadores estavam e estão a pagar?” E alega que impôs à companhia um crescimento completamente descontrolado e dois anos de grandes prejuízos.

As críticas estendem-se aos Governos de António Costa, que o Sitava afirma que “sabiam de tudo” e “deixaram andar”. “Não foram também eles responsáveis pelo estado em que a companhia estava quando chegou a pandemia, atribuindo depois todas as culpas para os pobres dos trabalhadores que não tinham sido vistos nem achados em tais decisões?”, diz o sindicato.

“Já agora, a propósito de erros, seria muito interessante que se investigassem também os contratos de prestação de serviços entre os donos de então, a Atlantic Gateway e a TAP SGPS. Talvez também aí se encontrem mais algumas agradáveis surpresas”, acrescenta o SITAVA.

O ECO avançou na semana passada que a Atlantic Gateway recebeu verbas da TAP no âmbito de um acordo de prestação de serviços, depois de ter ficado com 61% do capital na privatização em novembro de 2015. Só em 2017, foram faturados 1,17 milhões de euros à companhia aérea. Humberto Pedrosa, acionista do consórcio com David Neeleman, disse que era a forma de os administradores ligados à holding receberem os salários.

“Sabendo de toda esta vigarice [o anterior Governo] pagou, e bem, a um dos “acionistas” para ir à vida dele, e entregou aos algozes da União Europeia o destino da empresa. Primeiro porque não denunciou a vigarice, como era sua obrigação, e segundo por ter entregue à BCG a elaboração do chamado Plano de Reestruturação da TAP que impunha à partida o roubo aos trabalhadores da obscena quantia de 1,4 mil milhões de euros e a destruição de cerca de 3.000 postos de trabalho”, sustenta ainda.

“Pobre empresa esta, que ao longo dos tempos tem servido de trampolim para tanta gente, a maioria dela desqualificada e gananciosa, que fez e continua a fazer a sua vida à custa dos outros. Dará uma longa lista se alguém se quiser dar a esse trabalho”, escreve o Sitava aos associados.

O Governo atual, único acionista da empresa, tem a missão histórica de reparar, em primeiro lugar, as vítimas que são os trabalhadores devolvendo-lhes o que lhe foi roubado, incluindo os Acordos de Empresa que, como se demonstra agora, em nada contribuíram para a vigarice. E em segundo lugar, libertar a empresa das amarras impostas pelos algozes da União Europeia e consolidá-la enquanto importante ativo estratégico para o país, ao invés de andar por aí de mão estendida a tentar vendê-la ao desbarato”, defende.

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