Milionário brasileiro reforça negócios em Portugal com serviços financeiros
Após investir 40 milhões nos vinhos do Douro, Rubens Menin, dono da construtora MRV e do banco Inter, pede autorização ao Banco de Portugal para trazer plataforma de e-commerce e produtos financeiros.
Fundador da MRV Engenharia, que transformou na principal construtora de casas do Brasil, criador e acionista do banco Inter, dono da CNN Brasil e da rádio Itatiaia no setor dos media, e mecenas do Clube Atlético Mineiro – além de patrocinador, cedeu até o terreno onde está a ser construído e prestes a ser inaugurado o novo estádio de futebol, que terá o nome do grupo de construção. Rubens Menin é um dos homens mais ricos do Brasil, surgindo no 28º lugar da lista elaborada pela revista Forbes em 2022, com uma fortuna avaliada em cerca de 1.200 milhões de euros.
Agora, cinco anos depois de iniciar a aposta no país com a produção de vinhos no Douro, num investimento acumulado de quase 40 milhões de euros em que se destaca a compra de uma quinta em Gouvinhas (Sabrosa) e a aquisição da Horta Osório Wines à família que detinha a histórica EIP – Eletricidade Industrial Portuguesa, o empresário de Belo Horizonte, 66 anos, adianta ao ECO que vai trazer para Portugal o Inter Shop. Um marketplace que combina comércio online e produtos financeiros, que reclama ter 25 milhões de utilizadores no Brasil e que já levou também para os Estados Unidos.
Temos um processo de licenciamento no Banco de Portugal para montarmos aqui uma instituição – não é ainda um banco, mas serviços financeiros. É aqui que vamos fixar a operação europeia.
“Temos um processo de licenciamento no Banco de Portugal para montarmos aqui uma instituição – não é ainda um banco, mas serviços financeiros. E junto com isso trazer para cá a nossa plataforma multisserviços, que é um dos maiores hubs de negócios do mundo em termos de diversidade. Tem tudo ali dentro: cartão bancário, seguros, crédito, câmbio, investimentos, reservas de viagens, e-commerce, entregas. Nenhum banco da Europa tem isto. Queremos ter um estatuto que nos permita expandir futuramente, mas Portugal foi escolhido claramente como o centro. É aqui que vamos fixar a operação europeia”, resume Rubens Menin.
O dossiê do licenciamento junto da entidade reguladora presidida por Mário Centeno, ex-ministro das Finanças, está a ser conduzido por Cristiano Gomes, sócio na Menin Wine Company, que vive em Portugal há alguns anos e fez carreira profissional no setor financeiro. Aliás, conheceu Menin há mais de uma década, precisamente quando foi trabalhar para este banco 100% digital, que nasceu como abreviação de Intermedium, o banco original da família. Entretanto, já colocou online um site que é uma espécie de “embrião do marketplace” para o mercado europeu.
“A ideia não é estourá-lo e ter grandes volumes agora, mas dominarmos questões de tecnologia, de burocracia. Já temos acesso aos grandes comerciantes da Península Ibérica, mas neste momento é só um e-commerce. A partir do momento em que tivermos as licenças [do BdP], estaremos preparadíssimos para em muito pouco tempo instalar o pacote completo [financeiro] em Portugal e, em consequência, na Europa”, detalhou Cristiano Gomes, recusando quantificar, para já, o investimento nesta nova área de atuação. O banco Inter é gerido pelo filho de Menin, João Vítor.
Foi em 2019, quando os grandes retalhistas começavam a dar mais atenção e peso à área fintech, que o Inter decidiu fazer o caminho inverso. Em novembro desse ano, a instituição financeira lançou esta plataforma e posicionou-se no Brasil com uma operação de consumer finance, como designou esta terceira geração tecnológica dos bancos, depois do internet banking e das fintechs. Dois anos depois, à boleia da compra da americana Usend, em agosto de 2021, levou este negócio para a maior economia do mundo, onde soma centenas de parceiros locais e tem acordos com empresas como a Amazon, Best Buy, Nike, Apple, Macy’s ou Walmart.
Com pouco mais de um ano de experiência nos EUA, Rubens Menin contabiliza quase um milhão de clientes naquela geografia, somando 100 mil novos utilizadores a cada mês. “Estamos a aprender muito lá em termos de adaptação desta super app, que foi desenvolvida no Brasil, com vista ao cliente brasileiro e com produtos brasileiros. Estamos num processo de aprendizagem nos EUA de como tornar isto global, efetivamente. O nosso negócio aqui em Portugal também beneficiará de já vir com esse know-how americano”, sublinhou o empresário, em entrevista ao ECO.
Primeiro milhão no Douro, “sem especulação” nas compras
Já no negócio do vinho, que serviu de porta de entrada para o investimento em Portugal, a MeninWine Company está “ainda a gatinhar”, mas “a expectativa para este ano é conseguir vender o primeiro milhão de euros”. Com a produção atual a rondar as 320 mil garrafas por ano, num total de 15 referências, entre tintos, brancos e Portos – a enologia está entregue a João Rosa Alves e Tiago Alves de Sousa -, o mercado em que mais fatura é no Brasil, onde “o vinho do Douro está a atravessar um momento espetacular” e já superou a popularidade do Alentejo.
Com olhos apenas para o Douro, que diz ser “a coroa da indústria dos vinhos em Portugal” – “o Dão está a ficar melhor, mas é para outros explorarem”, acrescenta –, já comprou mais de 162 hectares, dos quais 140 são de vinha. A área de produção é suficiente? “Lá na frente, se a gente achar uma oportunidade, como a do Caleiro [extensão da original Quinta da Costa do Sol], podemos pensar em aumentar um pouquinho. Temos duas adegas muito boas e com capacidade ainda de produzir um pouquinho mais do que aquilo que temos de uva – e não estamos a pensar comprar de terceiros. Se conseguirmos comprar uma coisa boa, temos interesse e vamos estudar com todo o carinho. Sem especulação, dentro do bom senso”, adverte Menin.
No vinho, entre gastar o dinheiro e receber o dinheiro de volta, demora três a quatro anos. (…) Investir para perder dinheiro é ruim, hein? Mas o que produzimos está sendo bem avaliado pelo mercado. É uma coisa bem viável.
Questionado sobre se já começou a preocupar-se com a rentabilidade deste negócio, o empresário mineiro responde que “no vinho, entre gastar o dinheiro e receber o dinheiro de volta, demora três a quatro anos”. “Temos vinhos que não soltamos logo, os melhores vinhos demoram quatro anos para chegar ao mercado. Temos de pensar num regime de competência. Investir para perder dinheiro é ruim, hein? Mas o que produzimos está sendo bem avaliado pelo mercado. É uma coisa bem viável”, completa Rubens Menin.
Além de aumentar a produção de vinho para 600 mil garrafas por ano, a empresa que construiu um centro logístico no Regia Douro Park, em Vila Real, para os serviços administrativos, o armazenamento de vinhos engarrafados e a rotulagem antes da expedição, quer igualmente reforçar a aposta no enoturismo. A propriedade no concelho de Sabrosa, com a encosta em socalcos e vista sobre o Douro, possui dois quilómetros de frente ribeirinha e os sócios brasileiros querem reabilitar o apeadeiro ferroviário de Gouvinhas, desativado na década de 1980, assim como o cais fluvial para facilitar o transporte de turistas.
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