Bancos portugueses têm de devolver sete mil milhões ao BCE este mês

Banca da Zona Euro enfrenta teste de resistência: terá de devolver quase 500 mil milhões de euros ao banco central. Analistas apontam maior pressão nos bancos italianos e gregos.

A banca da Zona Euro enfrenta este mês um teste importante à sua resiliência. Terá de devolver de uma assentada cerca de 500 mil milhões de euros em empréstimos baratos que pediram ao Banco Central Europeu (BCE) durante a pandemia. Sete mil milhões dizem respeito a bancos portugueses, de acordo com as informações recolhidas pelo ECO. Mas são os bancos italianos e gregos que estão mais pressionados, segundo os analistas.

Em causa estão as chamadas operações de refinanciamento de prazo alargado direcionadas (TLTRO, na sigla em inglês), um programa que o banco central lançou em 2014 para conceder liquidez aos bancos.

Na pandemia, com medo de um choque de crédito, o BCE tornou estes empréstimos ainda mais baratos para que os bancos pudessem manter condições de financiamento bancário favoráveis junto das famílias e empresas.

Três anos depois, uma grande fatia destas operações vence agora, levantando preocupações em relação ao impacto que os reembolsos de larga escala poderão ter junto de quem procura crédito bancário. São cerca de 500 mil milhões de euros, segundo a agência Bloomberg (acesso pago, conteúdo em inglês). Um reembolso que vai testar o sistema financeiro, ainda que disponham de um excesso de liquidez de cerca de quatro biliões de euros.

Para os analistas citados pela agência financeira americana, os maiores receios estão relacionados com os bancos italianos, seguidos dos gregos.

No caso de Itália, os empréstimos ainda pendentes do TLTRO superam o excesso de dinheiro que os bancos parquearam junto do BCE, o que significa que algumas instituições terão de levantar fundos de outro lado para reembolsarem o banco central.

Ao todo, 476,8 mil milhões de euros em operações TLTRO expiram no dia 28 de junho e alguns países deverão sentir um maior aperto. “Em Itália ou Grécia, os agregados são claros”, referiu Reinhard Cluse, economista do UBS, citado pela Bloomberg. “Mas mesmo noutros países poderá haver bancos que pediram mais empréstimos do que o seu excesso de reservas no BCE”, indicou.

As estimativas da Natwest Markets apontam que os bancos italianos poderão ter de levantar 35 mil milhões de euros em 2023 e outros 75 mil milhões para se prepararem para mais reembolsos dos empréstimos TLTRO no próximo ano. “Algumas instituições, sobretudo os bancos mais pequenos, poderão ficar sem liquidez a curto prazo”, frisaram os analistas da Natwest Markets.

Por cá, os bancos portugueses já fizeram grande parte do “desmame” das TLTRO no ano passado, quando devolveram 26 mil milhões (incluindo reembolsos antecipados) depois de o BCE ter agravado as condições destas operações na sequência da subida das taxas de juro. Mas ainda tinham uma exposição de cerca de 12 mil milhões, sendo que mais de sete mil milhões vencem agora. Um dos bancos que terá de devolver é o Novobanco, como já sinalizou o CEO Mark Bourke.

Para os bancos mais pressionados, as alternativas poderão passar pelo mercado de recompra, em que as instituições emprestam entre si com base em operações de recompra de títulos, pela emissão de obrigações ou pelo encaixe de dinheiro com os títulos de dívida da sua carteira que vencerem entretanto.

Os analistas citados pela Bloomberg duvidam que o BCE venha a introduzir uma nova facilidade para os bancos, mesmo para aqueles que tenham maior dificuldade em financiar-se nos mercados. A maioria dos economistas sondados pela agência não espera que o banco central ofereça novos financiamentos de longo prazo após o fim das TLTRO.

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