(Im)passe ferroviário: Governo prometeu bilhete nacional de comboio a 49 euros sem data para começar

Passe ferroviário nacional para comboios regionais deveria entrar em vigor até ao final de junho. Ministério das Infraestruturas não se compromete com uma data para arranque desta opção.

Prometido para começar a partir de julho, o passe ferroviário nacional não tem data para arrancar. Apesar de estar inscrito no Orçamento do Estado para 2023 (OE2023), o Ministério das Infraestruturas não se compromete com o arranque do título de transporte que permitirá, por 49 euros, usar todos os comboios regionais da CP. O atraso não é compreendido pelo Livre, partido que apresentou a proposta no OE2023 e que já prometeu uma atitude “mais aguerrida” para o Orçamento de 2024.

“O Passe Ferroviário Nacional, previsto no OE2023, entrará em funcionamento logo que estejam resolvidas todas as questões técnicas e legais necessárias”, responde ao ECO fonte oficial do gabinete de João Galamba. Não foram detalhados os entraves que estão a impedir o começo deste passe, inspirado no exemplo do bilhete mensal de nove euros que funcionou no verão passado na Alemanha.

Também o partido Livre aguarda mais esclarecimentos do Governo. “O que estava acordado é que o passe ferroviário iria entrar em vigor até ao final do segundo trimestre. Quaisquer questões técnicas já deviam ter sido identificadas. Estamos a discutir este tema com o Governo desde outubro. Não há qualquer justificação”, critica ao ECO a assessora parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes. “É uma medida muito importante para muitas famílias, que estão aflitas com o aumento do custo de vida”, acrescenta.

O passe ferroviário a 49 euros foi uma medida aprovada na discussão na especialidade do OE2023, com os votos favoráveis de toda a esquerda parlamentar e do PAN; PSD e Chega abstiveram-se e a Iniciativa Liberal votou contra. Na altura da discussão, o então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, não rejeitou a ideia mas alertou para a “capacidade esgotada” da ferrovia em acomodar passes de transportes mais baixos.

Na ferrovia, infelizmente, temos a nossa capacidade esgotada. Se amanhã tivéssemos preço zero, a capacidade de o transporte receber mais passageiros seria quase nula”, afirmou em novembro o ministro das Infraestruturas e Habitação, Pedro Nuno Santos, em resposta ao deputado único do Livre, Rui Tavares, durante a audição na especialidade relativa ao Orçamento do Estado para 2023.

Passe exclusivamente regional

O bilhete a 49 euros permitirá qualquer utilizar comboio regional da CP, “independentemente da origem ou do destino” e a “qualquer hora do dia“, “sem restrições para períodos de maior afluência”, assinala o Ministério das Infraestruturas. Será possível, por exemplo, viajar entre Nine e Valença, entre Vila Real de Santo António e Lagos, entre o Entroncamento e Badajoz.

Neste passe não estão contemplados os comboios interregionais – servidos pelas assinaturas da CP – e os suburbanos de Lisboa e do Porto – onde existem os passes municipais e metropolitanos, a 30 e 40 euros, respetivamente. Também não vão existir restrições de idade na compra deste passe.

Quando questionado sobre uma eventual falta de oferta para corresponder a uma maior procura de utentes, o Governo defende que “a aplicação deste passe exclusivamente aos comboios regionais resultou, também, do facto de serem comboios com menores taxas de ocupação”. À cautela, a tutela atravessa-se e defende que “a CP irá analisar e implementar, sempre que necessário e seja possível, ajustes à oferta, de acordo com a procura que se verificar”.

Para chegar material circulante novo ainda faltam mais de dois anos: apenas a partir de outubro de 2025 vão chegar os primeiros dos 22 comboios regionais encomendados em 2021; mais perto do final da década serão 55 das 117 automotoras elétricas prestes a serem adjudicadas à Alstom, Stadler ou CAF.

Livre “mais aguerrido” no próximo Orçamento

Já não é a primeira vez que há atrasos em medidas do Orçamento do Estado propostas pelo partido representado por Rui Tavares no Parlamento. Isabel Mendes Lopes recorda a proposta do subsídio de desemprego para vítimas de violência doméstica, contemplada no Orçamento de 2022 e que ainda não entrou em vigor, um ano após ter entrado em vigor.

Além do passe ferroviário nacional, o OE2023 prevê que, “até ao final do terceiro trimestre de 2023, o Governo, em conjunto com as restantes autoridades de transportes, apresenta um estudo sobre a revisão do tarifário dos serviços ferroviários ao abrigo de obrigações de serviço público, que preveja a sua simplificação e os moldes em que se pode fazer o alargamento do passe ferroviário nacional às restantes categorias de serviços“. Questionado pelo ECO, o gabinete de João Galamba não respondeu sobre este tema. A representante do Livre assinala que “não há novidades” sobre o tema.

O partido garante que o “cumprimento ou não das medidas incorporadas [no Orçamento do Estado] e dos prazos atribuídos é algo que será tido em conta” na análise prévia à discussão do documento para 2024. “Seremos mais aguerridos e mais rigorosos ainda nas negociações“, antecipa Isabel Mendes Lopes. No OE2023, o Livre absteve-se na votação final, tal como o PAN, após a aprovação de propostas de alteração, como a da criação do passe ferroviário nacional.

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