Execução de fundos comunitários do PT2020 chega a 89% até maio

A ministra Mariana Vieira da Silva, anunciou ainda que será publicado em setembro o calendário com o plano anual de concursos ao Portugal 2030. Falta executar 2,9 mil milhões do PT2020.

A ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, anunciou que a execução do Portugal 2030 chegou aos 89% em maio e que a taxa de reembolsos está seis pontos percentuais acima da média europeia.

Na última audição regimental desta sessão legislativa, a governante reiterou, por outro lado, que em setembro será publicado o calendário com o plano anual de concursos ao Portugal 2030, o novo quadro comunitário em vigor.

Até 31 de maio “foram aprovados fundos de 31,2 mil milhões de euros para apoiar projetos com um investimento elegível de 47,3 mil milhões, traduzindo uma taxa de financiamento média de 66% sobre o investimento elegível“, lê-se na página do Portugal 2020. “O valor dos fundos executados foi de 24 mil milhões de euros, ou seja, 89% do valor dos fundos programados (taxa de execução) e 77% do total dos fundos aprovados (taxa de realização)”, acrescenta a mesma nota.

Nesta atualização mensal da execução, publicada na terça-feira, o Programa Operacional Capital Humano (POCH) continua a ser o que apresenta a maior taxa de execução (103%), seguido do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE) e depois o Compete (95%). Com exceção do PO Madeira e do PO Lisboa, todos os outros têm taxas de execução inferiores à média, sendo o programa de desenvolvimento rural da Madeira e o Programa Operacional do Algarve os que apresentam taxas de execução mais baixas (73% e 78%, respetivamente).

Os mesmos dados revelam ainda que Portugal tinha em maio a terceira maior taxa de pagamentos intermédios (84%) sobre o total programado, de entre os Estados-membros com envelopes financeiros acima dos sete mil milhões, e “assumia a sétima posição em termos absolutos, com um valor de 22,9 mil milhões recebidos”.

Com este desempenho, Portugal vai ter de executar 2,9 mil milhões de euros até ao final do ano.

A ministra Mariana Vieira da Silva reconheceu que o tempo para a execução dos fundos “é curto”. “É urgente é triplicar a capacidade de absorção de fundos comunitários”, tendo em conta o histórico de fundos que o país tinha. “O Governo está consciente deste caminho e quer ajudar a ultrapassar os obstáculos e acertar o passo”, acrescentou, sublinhando as oportunidades que os fundos europeus, em particular o Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), trazem para o país.

Para acelerar a execução, a ministra da Presidência recordou o regime extraordinário de contratação de 1.295 trabalhadores, a termo, que “tem funcionado na medida da execução das necessidades do conjunto de organismos públicos”.

Mariana Viera da Silva sublinhou ainda que “a execução de fundos comunitários e do PRR não é um bem em si mesmo, mas resulta numa melhoria das condições de vida da população, da competitividade da economia e da coesão social e territorial”. A responsável sublinhou ainda que, em 20 anos, se espera que o PIB seja 7,5% superior ao obtido em políticas invariantes e que haja um aumento de 1,3 pontos percentuais no emprego.

(Notícia atualizada pela última vez às 12h39)

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Portugal empurra reembolso de 875 milhões de dívida para 2032 e 2052

IGCP recomprou 875 milhões de euros de dívida de três linhas obrigacionistas com maturidade em 2025, 2026 e 2027 através da venda de duas emissões obrigacionistas com vencimento em 2032 e 2052.

Portugal voltou esta quarta-feira aos mercados através de uma oferta de troca de dívida. De acordo com dados da Reuters, o Estado conseguiu empurrar para 2032 e 2052 um montante de 875 milhões de euros de dívida que iria vencer em 2025, 2026 e 2027.

O IGCP, liderado por Miguel Martín, recomprou: 191 milhões de euros da linha obrigacionista OT 2,875% 15Out2025, 164 milhões de euros da OT 2,875% 21Jul2026 e 520 milhões de euros da OT 4,125% 14Abr2027.

Em troca, colocou no mercado 315 milhões de euros numa linha obrigacionista com maturidade a 16 de julho de 2032 e ainda 560 milhões na obrigação do Tesouro com maturidade a 12 de abril de 2052.

A emissão a nove anos (2032) foi colocada no mercado com um desconto de 11% face ao par e com uma yield de 3,01%. A emissão a 29 anos (2052) foi colocada junto dos investidores a um preço de 45% abaixo do par com uma yield de 3,48%.

Com esta operação, o Tesouro consegue aliviar o calendário de reembolso da sua dívida num contexto de aumento dos custos de financiamento na Europa.

Portugal com esta operação tira pressão de amortizações de dívida nos prazos mais curtos. As emissões que vendeu também têm um cupão mais baixo, 1,65% (2032) e 2%( 2052) que acabam por pesar menos nos custos anuais que se tem com o serviço da dívida”, refere Filipe Silva, Diretor de Investimentos do Banco Carregosa.

(Notícia atualizada às 13h35 com comentário de Filipe Silva)

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Formar e recrutar a pensar na verdadeira inclusão. Assista aqui à talk 📹

  • Trabalho
  • 28 Junho 2023

Recrutamento inclusivo e ações de formação e sensibilização são algumas das linhas apontadas na talk "Na bandeira da inclusão, quão inclusivos somos?". Hoje é o Dia Internacional do Orgulho LGBT.

Está a minha equipa a representar a sociedade? Será suficientemente diversa para trazer inovação e criatividade ao negócio? Estas são duas das questões que se devem fazer antes de iniciar qualquer processo de recrutamento, no sentido de trabalhar para ter uma verdadeira diversidade e inclusão nas empresas. Mas há muito mais a fazer. É que, apesar de melhorias, em Portugal, apenas 44% das pessoas da comunidade LGBTQIA+ se sentem confortáveis em assumir a sua orientação sexual ou identidade de género no mundo corporativo. Rita Távora, country talent development manager da Ikea, e Vânia Beliz, psicóloga clínica e sexóloga, partilham a suas visões sobre o tema na talk “Na bandeira da inclusão, quão inclusivos somos?”, organizada pelo Trabalho by ECO, em parceria com a Control.

“As empresas são constituídas por pessoas, que têm crenças. Acredito que seja um desafio, a nível profissional, as pessoas acabarem por contornar as suas crenças, principalmente neste tema que é talvez um dos mais sensíveis dentro da sexualidade. É difícil separar o ‘eu pessoa’ do ‘eu empresário’, do ‘eu empresário’ ou do ‘eu chefia’. Penso que em Portugal ainda temos muito trabalho a fazer”, começa por dizer Vânia Beliz.

E acrescenta: “É muito importante a formação. Se temos crenças e estereótipos, eles têm que ser combatidos.”

As empresas são constituídas por pessoas, que têm crenças. Acredito que seja um desafio, a nível profissional, as pessoas acabarem por contornar as suas crenças, principalmente neste tema que é talvez um dos mais sensíveis dentro da sexualidade. É difícil separar o ‘eu pessoa’ do ‘eu empresário’, do ‘eu empresário’ ou do ‘eu chefia’. Penso que em Portugal ainda temos muito trabalho a fazer.

Vânia Beliz

Psicóloga clínica e sexóloga

A Ikea está comprometida com o tema da igualdade e da inclusão. A companhia acredita que a aposta numa empresa diversa só traz vantagens ao negócio e a porta de entrada é, desde logo, o recrutamento.

“Quando fazemos formação de recrutamento, uma grande parte dessa formação tem a ver com o que significa fazer um recrutamento inclusivo. Que é, no fundo, tomar consciência dos preconceitos inconsciente, que todos nós temos, e perceber o que queremos ter na nossa equipa”, explica Rita Távora.

“Está a nossa equipa ou não a representar a sociedade? Está a nossa equipa ou não a ser suficientemente diversa para trazer inovação e criatividade ao negócio?” Estas são perguntas que a responsável considera fundamental serem feitas.

Além disso, ter diversidade na própria equipa de recrutamento e seleção “também ajuda a ter consciência sobre estes temas”, acredita.

Mas é preciso “desafiar o resto da organização (…) a tomar consciência de que este é um tema importante e que faz parte da nossa cultura e valores”. A Semana da Diversidade e Inclusão é uma das iniciativas levadas a cabo pela retalhista. “Internamente, fazemos um conjunto de workshops e formações, que trazem também para cima da mesa o tema das microagressões em diferentes vertentes. Trazemos convidados externos para abordar determinados temas…”, exemplifica a country talent development manager da Ikea.

“É uma forma de promover a discussão. De percebermos quais são as barreiras para irmos mais longe”, resume.

O tema de recrutamento merece, de facto, um olhar mais crítico quando sabemos que, apesar de quase um terço das empresas nacionais dizerem ter programas de diversidade e inclusão LGBTQIA+, 6% dos profissionais dizem sentir-se discriminados no recrutamento. Uma percentagem que dispara para 50% no caso de pessoas trans, revelam os dados do estudo “Diversity at Work“, realizado pelo ManpowerGroup e divulgado na semana passada.

“Para serem produtivos, os funcionários têm de ser felizes”

Ainda assim, há números que revelam melhorias: em Portugal, 4% das pessoas LGBTQIA+ inquiridas dizem ter sido vítimas de violência verbal no seu local de trabalho devido à sua identidade de género ou orientação sexual (menos oito pontos percentuais face ao estudo anterior) e 14% dos profissionais já testemunharam no trabalho comportamentos discriminatórios contra colegas LGBTQIA+ (um recuo 15 pontos percentuais).

As empresas estão realmente empenhadas. Algumas estão mais avançadas, outras apenas a começar. Mas penso que estão a perceber até os benefícios para o negócio. Porque ser diverso não é apenas o certo a fazer. A diversidade é boa para fazer crescer o negócio.

Rita Távora

Country talent development manager da Ikea

Rita Távora acredita que as empresas estão preocupadas. “As empresas estão realmente empenhadas. Algumas estão mais avançadas, outras apenas a começar. Mas penso que estão a perceber até os benefícios para o negócio. Porque ser diverso não é apenas o certo a fazer. A diversidade é boa para fazer crescer o negócio“, defende. Traz inovação e criatividade, atira.

Admitindo que em empresas mais conservadores é normal que estes passos demorem mais tempo a serem dados ou, pelo menos, a surtir efeito, Vânia Beliz acredita que há algo que é fundamental entender: “Para serem produtivos, os funcionários têm de ser felizes. E como é que se é feliz, se não se é aceite ou se estamos num sítio onde não podemos ser aquilo que somos? Como podemos potenciar o negócio se estou numa espécie de outra vida?”, questiona.

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“Uma crise ou um tempo extremamente frio pode perturbar” preços da energia

Manso Neto é um dos nomeados dos IRGAwards 2023, na categoria de CEO Award. Em entrevista ao ECO, elogia a resposta europeia e de Portugal à crise energética, resistindo ao populismo. Veja o vídeo.

Manso Neto é um dos quatro nomeados na categoria de CEO Award no âmbito dos IRGAwards 2023, uma iniciativa promovida pela Deloitte de que o ECO é parceiro. O presidente executivo da Greenvolt considera que a União Europeia “ultrapassou bem a crise energética” desencadeada pela guerra na Ucrânia, “foi capaz de ter visão” e “resistir a situações de populismo”.

O mesmo se aplica a Portugal, onde o Governo avançou (em conjunto com Espanha) para um teto nos preços da eletricidade: “Não creio que tenha havido demagogia”, afirma Manso Neto, que deixa também elogios à transição energética em curso no país. Sobre o próximo inverno, alerta que “uma crise ou um tempo extremamente frio pode perturbar” os preços da energia.

Para o gestor, um CEO “não deve ter medo de decidir” e “deve passar isso para baixo, com responsabilidade”. Em entrevista ao ECO, deixa também o que diz ser uma “máxima”: “Ter sistematicamente uma posição extremamente confortável de liquidez, mesmo que isso tenha um custo financeiro”.

O evento deste ano — agendado para o dia 28 de junho em Lisboa — é inspirado no tema ‘Building better futures, Together’, num contexto de desafios como as tensões militares, inflação, desaceleração económica, segurança, ameaças cibernéticas, crise climática e transição energética.

António Lagartixo, CEO e managing partner da Deloitte, salienta, em comunicado, que “o crescente aumento de tensões geopolíticas em diferentes regiões do globo e a agudização dos índices macroeconómicos e financeiros, colocam-nos perante uma conjuntura de grande incerteza e volatilidade”.

Os nomeados da 35ª edição dos IRGAwards são os seguintes (por ordem alfabética):

Nomeados ao CEO Award

  • António Rios de Amorim (Corticeira Amorim)
  • João Manso Neto (Greenvolt)
  • Miguel Maya (Banco Comercial Português)
  • Paulo Macedo (Caixa Geral de Depósitos)

Nomeados ao CFO Award

  • Ana Luísa Virgínia (Jerónimo Martins)
  • Cristina Rios de Amorim (Corticeira Amorim)
  • Miguel Bragança (Banco Comercial Português)
  • Rui Teixeira (EDP)

Nomeados ao Investor Relations Officer Award

  • Cláudia Falcão (Jerónimo Martins)
  • Bernardo Collaço (BCP)
  • Miguel Viana (EDP)
  • Otelo Ruivo (Galp)

Os vencedores da 35ª edição dos IRGAwards serão deliberados pelo Júri, liderado por Vítor Bento e que integra Álvaro Nascimento, António Esteves, Céline Abecassis-Moedas, Duarte Pitta Ferraz, João Moreira Rato, Luís Amado, Nuno Fernandes e Patrícia Teixeira Lopes.

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Eurodeputados votam contra lei que restaura a natureza, ameaçando Pacto Ecológico Europeu

Tentativa do PPE de rejeitar proposta de Lei de Restauro da natureza na Europa caiu por terra no Parlamento. Lei segue para plenário da Comissão em julho e não é certo que será aprovada.

Os eurodeputados na Comissão de Ambiente, da Saúde Pública e da Segurança Alimentar (ENVI, na sigla em inglês), no Parlamento Europeu, não asseguraram uma maioria para aprovar a Lei do Restauro do Ambiente, uma das peças chave do Pacto Ecológico Europeu.

A legislação, que visa inverter a perda de biodiversidade através da reabilitação das zonas terrestres e marítimas degradadas da Europa, foi chumbada, esta manhã, com um empate de 44 votos. Isto acontece depois de na última reunião do Comité de Ambiente do Conselho Europeu, a 20 de junho, a proposta ter sido aprovada mas com emendas do Partido Popular Europeu (PPE), que a tornavam menos ambiciosa. Isto porque as emendas ou deixavam de ser vinculativas ou davam mais flexibilidade aos Estados-membros.

Com esta rejeição na comissão do Parlamento Europeu, as emendas aprovadas são anuladas e a versão original da Lei do Restauro da Natureza do executivo comunitário segue para debate em plenário na Comissão Europeia (CE), no próximo dia 11 de julho. Nessa altura, serão apresentadas e discutidas novas emendas à proposta do executivo comunitário.

Temos uma oportunidade de pedir mais ambição em plenário“, defende Sara Cerdas, eurodeputada portuguesa do Partido Socialista que faz parte da Comissão de Ambiente, ao Capital Verde, revelando que a Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas vai apresentar várias emendas, entre elas, uma que visa aumentar de 20% para 30% as áreas de terra e de mar da União Europeia que devem ser alvo de restauro, até 2030.

“Temos duas semanas e é isso que vamos pedir“, defende. E atira: “Agora basta perceber a que lado pertence o PSD e CDS: se é o lado do negacionismo da consequência das alterações climáticas ou se da parte da ação climática“.

Em causa está o que a eurodeputada considera ser uma “campanha de desinformação” liderada pelo PPE — onde se integram o PSD e CDS — e que visa rejeitar a proposta “verde” da Comissão Europeia. O PPE, aliado aos grupos de extrema-direita, aos liberais do Renew Europe e às grandes associações agrícolas (Copa-Cogeca) são contra a proposta de Lei do Restauro da Natureza, defendida pelas famílias dos Socialistas e Democratas (inclui o PS), Verdes e The Left (que integra os eurodeputados do PCP e BE) e pelas associações ambientalistas.

O PPE (o maior grupo do PE) e os seus aliados descrevem a lei como um caso de “boa conceção, mas com más intenções”, dizendo que os seus objetivos, juridicamente vinculativos, para reabilitar áreas de terra vão perturbar as cadeias de abastecimento, diminuir a produção de alimentos e aumentar os preços para os consumidores comuns.

Além disso, acrescenta a eurodeputada portuguesa do PPE, Lídia Pereira, a proposta irá contribuir para um aumento da pegada ambiental global, provocar um aumento das importações de países sem as mesmas exigências ambientais e sociais e reduzir a competitividade das empresas europeias. “O PPE está a favor da restauração da natureza mas está contra esta proposta de lei da Comissão, que consideramos que na verdade não protege, não conserva a natureza“, salienta a mesma ao Capital Verde.

Mas, para Sara Cerdas, esse é um argumento assente em desinformação. “O setor da agricultura ou da floresta não sai afetado com esta lei. É uma lei de restauro da natureza, há inúmeros benefícios para os agricultores. Sem ecossistemas, habitats, e biodiversidade não conseguimos assegurar a segurança alimentar“, contrapõe.

Os opositores argumentam ainda que a lei “trará prejuízos ao setor agrícola”. Mas segundo a associação Associação Natureza Portugal/World Wide Fund (ANP/WWF), “o que a ciência e também muitos agricultores dizem é que a agricultura é uma das atividades que mais depende do bom funcionamento e equilíbrio dos ecossistemas, pois depende da água, do solo e da polinização“, argumenta Bianca Mattos, Técnica de Políticas da associação. “Apostar no restauro da natureza é a única forma de conseguirmos atingir a meta do Acordo de Paris”, frisa.

Segundo a responsável, o facto de as áreas propostas serem alvo de restauro “não impede que nelas se possam desenvolver atividades económicas” e argumenta existirem “várias atividades compatíveis”, a depender da atividade e das características da área.

“O que talvez seja mais importante de ser destacado é que todas essas atividades, sem exceção, dependem dos serviços ecossistémicos para continuar a existir. Portanto, talvez a pergunta certa a ser respondida é: como (e por quanto tempo) a pesca, a agricultura e outras atividades que dependem dos ecossistemas continuarão a existir sem o restauro da natureza?“, questiona a ambientalista.

80% dos habitats europeus estão num estado de conservação mau ou pobre e 70% do solo europeu não é saudável. Entre 1997 e 2011, a perda de biodiversidade foi responsável por um prejuízo anual estimado em 3,5-18,5 biliões de euros.

Proposta da Comissão Europeia para a Lei de Restauro da Natureza

Mas existe outro ponto que pode condicionar o futuro desta lei: “estamos a um ano de eleições“, realça Sara Cerdas, acusando que “o PPE está à procura de um eleitorado contra a ação climática que lhes dará apoio”. A consideração vai ao encontro da posição de Bianca Mattos, que deixa um alerta: “interesses puramente políticos e individuais colocam em risco a aprovação de uma lei que é essencial para que a Europa cumpra as suas metas climáticas e salvaguarde o futuro da agricultura e das pescas, entre outras atividades”.

Lídia Pereira, no entanto, rejeita a noção de que os esforços do PPE para contrariar a proposta da Comissão nada têm a ver com as próximas eleições: “nenhum dos nossos argumentos tem a ver com matérias eleitorais“. “Creio que os prejuízos materiais e humanos e o risco de vida dos portugueses devem estar acima de cálculos eleitorais”, refuta a eurodeputada.

Para a eurodeputada portuguesa, o PPE é claro na posição que defende: “o que pretendemos é exatamente uma nova proposta da Comissão” exigindo que o executivo apresente uma “que não aumente os riscos ambientais, sociais e económicos dos portugueses”.

A lei apresentada por Ursula von der Leyen, em 2022, quer responder aos problemas dos ecossistemas. Ao todo, estima a Comissão, 80% dos habitats europeus estão num estado de conservação mau ou pobre e 70% do solo europeu não é saudável. Assim, o executivo comunitário propôs restaurar 20% das áreas terrestres e marítimas, até 2030, e reduzir em 50% do uso de pesticidas químicos até 2030, banindo o seu uso em “áreas sensíveis” tais como as protegidas e as áreas verdes urbanas. Além disso, a Comissão Europeia propõe que sejam alocados esforços para inverter o declínio das populações de polinizadores até ao final da década e um aumento de 5% dos espaços verdes urbanos, até 2050.

Descendo agora para o debate em plenário no Parlamento Europeu, o futuro da Lei do Restauro da Natureza continua incerto. Caso seja aprovada, as três esferas legislativas (CE, PE e Conselho da União Europeia) iniciam os trílogos no segundo semestre deste ano.

“O PPE bloqueou todas as negociações com uma grande campanha de desinformação e agora Manfred Webber [líder do PPE] vai ter que ir a plenário”, aponta Sara Cerdas, frisando que irá manter-se esperançosa que, no final, a lei seja aprovada.

Já Lídia Pereira não indica qual será seu o sentido de voto, nem o do PPE, na próxima reunião plenária, mas deixa um último apelo a Ursula von der Leyen antes de 11 de julho: “Não basta chamar-lhe Lei do Restauro da Natureza para ser uma boa proposta de Lei. Pedimos à Comissão que reveja esta proposta“.

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Os Seguros, o Marketing e a conectividade

  • BRANDS' ECOSEGUROS
  • 28 Junho 2023

“Um produto só é integrado no mercado quando 15% das pessoas o passam a utilizar”, Everett Rogers, “Diffusion of innovations”, 1962.

Ouvi falar pela primeira vez de wearables, API’s e chatbots em 2012/2013. Dez anos depois são uma realidade, mas não para todos os bolsos, sendo que os smartwatches, mais caros ou mais baratos, entraram em força no mass market. Os smart glasses, mais caros e em processo de afinação, ainda estão a fazer o seu caminho. Mas o que é que isso tem a ver com seguros? Tudo!

No mundo dos seguros, a necessidade de equipamento e aplicações que promovam a conectividade foram a extensão natural das exigências da pandemia e, inclusivamente, da própria sobrevivência do negócio. Sim, a pandemia e as suas implicações ao nível da evolução tecnológica e humana vão impactar-nos durante muito tempo. A distância levou a que se apostasse no omnicanal e num marketing mais incisivo (com lançamento de aplicações inovadoras, novas ferramentas da Google, targetização ou a possibilidade de associar anúncios a séries específicas gravadas na box, num determinado local e para consumidores com hábitos de consumo específicos). Vemos, assim, nascer novas formas de conectividade e tecnologia que encurtam e simulam sentimentos de proximidade.

Em paralelo, nasceram também de novos fornecedores online, quer na versão Marketplace (permitindo a gestão de seguros de várias seguradoras numa única plataforma), quer na comercialização direta dos seus produtos, dentro do contexto das InsurTechs. De acordo com o “Insurance Trends to Watch in 2023”, “vamos assistir a uma oferta cada vez maior de soluções SaaS (Software as a service) baseadas em APIs que permitem uma oferta personalizada em grande escala. E, neste cesto, entram muitas outras coisas, como o seguro cyber, direct-to-consumer (ou business-to-consumer), apps que gerem e “controlam” saúde e bem-estar, personalização e consultoria robótica, entre outros.”

Kathrin Schneider, Diretora de Marketing e Comunicação

A Lemonade Insurance, Oscar ou a WeFox já são potências nos seus mercados e a AWS (Amazon Web Services) acabou de lançar o programa AWS Cyber Insurance. Com a sua máquina de marketing e acesso a dados analíticos, o potencial da Amazon é imensurável. Em paralelo, aumenta a digitalização e a automatização de partes essenciais do negócio, como a gestão de sinistros (por exemplo, na seguradora chinesa ZhongAn Insurance, este processo já está completamente automatizado, bastando enviar uma fotografia do dano que a Inteligência Artificial faz a análise e triagem). Em Portugal assistimos já a algum desenvolvimento, ainda tímido, no campo das InsurTechs, promovido pela AFID e Portugal FinLab. Aguardamos a evolução natural destas empresas.

E é aqui que entra o marketing. Não queremos, enquanto consumidores, ter algo igual ao outro, mas sim desenvolvido à medida das nossas necessidades, da nossa utilização ou, como no caso específico da Innovarisk, oferecendo seguros especializados, adaptados a profissões tão diversas e específicas como diretor, consultor, tatuador, galerista ou freelancer. Desenvolver formatos capazes de chegar a estes clientes com necessidades particulares implica conhecê-los, e conhecê-los bem.

A ironia é que, se por um lado existe o desejo de soluções individualizadas, ao mesmo tempo surgem plataformas que, no fundo, promovem a distância social. Neste contexto, o Marketing pode, enquanto vertente humana e comunicativa, fazer sentir o consumidor como especial e único, muito à semelhança do convívio comunitário. É possível fazer a diferença, comunicando melhor, seja através de que canal for, mostrando com maior facilidade e rapidez o que são os seguros, para que servem e qual o seguro que colmata uma necessidade específica. Pelo menos neste momento, no presente, porque o futuro irá certamente pertencer à Inteligência Artificial. Não queremos acreditar nem queremos ver isso, mas essa realidade está ao virar da esquina, porque dez anos passam num instante.

Como afirmou Bill Gates, “nós sobrevalorizarmos sempre a mudança que irá ocorrer nos próximos dois anos e subvalorizamos sempre a mudança que irá ocorrer nos próximos dez”.

Kathrin Schneider, Diretora de Marketing e Comunicação

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“Europa precisa de um euro digital”, reclamam membros do BCE e Comissão Europeia

Fabio Panetta e Valdis Dombrovskis destacam que euro digital tem "grau de privacidade de dados mais elevado que qualquer outro método de pagamento digital" disponível e menos comissões de pagamento.

Fabio Panetta, atual membro do conselho executivo do Banco Central Europeu e futuro governador do banco central italiano, assina um artigo de opinião, em conjunto com o vice‑presidente executivo da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, pela necessidade de avançar com o euro digital. Os responsáveis asseguram que será “amplamente acessível e fácil de utilizar”, além de “preservar a privacidade”, uma das maiores preocupações neste processo.

“Na área do euro, o euro digital proporcionaria uma solução de pagamento digital à disposição de todos, em todo o lado, gratuitamente”, reiteram num artigo de opinião que foi publicado em vários jornais europeus e que está também disponível na página do BCE. Um pouco por todo o mundo, vários bancos centrais estão a trabalhar para complementar as notas e moedas com uma versão digital.

Ainda que ressalvem que o numerário “permanece importante” e vai continuar a ser totalmente aceite e a estar disponível nos países da Zona Euro, salientam que ter ambas as opções “significaria que todos poderiam escolher como pagar”. Para os consumidores, destacam vantagens como poderem “realizar pagamentos de forma gratuita com os seus euros digitais”, independentemente de onde estivessem na área do euro, podendo até fazê-lo offline.

Teriam “um grau de privacidade de dados mais elevado do que qualquer outro método de pagamento digital atualmente disponível” e também menos comissões de pagamento, ao estimular a concorrência. Uma vantagem que se aplica também aos comerciantes.

Já para os bancos e outros prestadores de serviços de pagamento, o euro digital pode “estimular a inovação e facilitar a concorrência com as grandes empresas tecnológicas e financeiras não europeias”. “Incluiria salvaguardas, como limites aos montantes que as pessoas poderiam deter, a fim de evitar saídas consideráveis de depósitos dos bancos”, ressalvam. Sendo que, completam, “os utilizadores que pretendessem pagar mais do que o limite fixado poderiam fazê‑lo ligando a sua carteira digital à conta bancária”.

Estas personalidades ligadas às duas instituições europeias terminam a publicação a salientar as “vantagens estratégicas” do euro digital, nomeadamente o aumento da “integridade e segurança do sistema de pagamentos europeu”. A Comissão Europeia vai apresentar esta quarta-feira um pacote legislativo sobre o tema, sendo que no outono, o BCE vai concluir a fase de investigação da conceção e distribuição do euro digital. Depois disso, decide-se se vai avançar já a fase preparatória e de testagem

Entretanto, o BCE já reagiu às ideias da Comissão Europeia, num comunicado onde saúda a proposta, que prevê utilização gratuita e um “alto grau de privacidade”, além de “garantir que o numerário continue a ser uma parte vital do sistema de pagamentos”. “A proposta legislativa garante que a aceitação e o acesso às notas e moedas de euro estão legalmente garantidos, de modo a que todos os que pretendam pagar em numerário o possam fazer”, indicam.

O BCE indica ainda que “está pronto para fornecer informações técnicas para apoiar o trabalho dos colegisladores da UE”, notando que a Comissão Europeia “recomendou que o Parlamento Europeu e o Conselho da UE consultem o BCE sobre as alterações legislativas propostas”. “Na sequência de pedidos de consulta, o BCE emitirá o seu parecer oportunamente”, asseguram.

(Notícia atualizada com mais informação às 13h45)

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Consumidores alemães já estão menos confiantes que no início da pandemia

  • Diana Rodrigues
  • 28 Junho 2023

Índice elaborado pela GfK mostra recuo no ânimo dos consumidores na Alemanha para nível abaixo do registado na primavera de 2020. "Inquietude" germânica reflete-se em maior propensão para a poupança.

Depois de oito meses consecutivos de recuperação, a confiança dos consumidores alemães, medida pelo índice do clima de consumo da GfK, desceu para -25,4 pontos, contra os 24,4 pontos negativos registados no mês anterior. Um registo que atira este indicador para um nível abaixo do verificado na primavera de 2020, que coincidiu com o início da pandemia de Covid-19.

“A atual evolução do sentimento dos consumidores indica que estão novamente mais inquietos. Isto reflete-se, entre outros pontos, no facto de a propensão para poupar ter aumentado novamente [cinco pontos] este mês”, assinala o especialista em consumo da GfK, Rolf Bürkl. “As taxas de inflação ainda elevadas, atualmente em torno dos 6%, estão a reduzir visivelmente o poder de compra das famílias e a impedir que o consumo privado dê o seu contributo positivo”, acrescenta, numa nota publicada esta quarta-feira.

As perspetivas de rendimento dos consumidores também diminuem em 2,4 pontos, para -10,6 pontos. “As famílias assumem que terão de aceitar perdas de rendimento real este ano, tendo em conta a persistência de taxas de inflação elevadas, que provavelmente não serão totalmente compensadas por aumentos salariais acordados coletivamente”, explica a GfK nesta publicação.

O receio de um novo aumento dos preços inflação, por um lado, e do cenário de recessão na maior economia europeia, por outro, está a fazer cair o ânimo dos consumidores alemães. As expectativas em relação aos rendimentos e à economia, em particular, voltaram a diminuir recentemente, segundo o estudo da empresa de estudos de mercado GfK sobre o sentimento dos consumidores, realizado em junho. A inflação na Alemanha está, no entanto, a diminuir.

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📹 O que muda com as sociedades multidisciplinares

  • ADVOCATUS
  • 28 Junho 2023

Paulo de Sá e Cunha, presidente do Conselho Superior da OA, José Luís Moreira da Silva, presidente da ASAP e sócio da SRS, e Luís Magalhães, partner da KPMG, em debate. Veja o vídeo.

O Auditório do ECO realizou o primeiro encontro Advocatus para debater um dos temas do momento: sociedades multidisciplinares. Para isso, contou com o advogado Paulo de Sá e Cunha, of counsel da Abreu Advogados e presidente do Conselho Superior da Ordem dos Advogados, José Luís Moreira da Silva, presidente da ASAP e sócio da SRS Legal, e Luís Magalhães, partner da KPMG. O debate foi moderado pela diretora executiva da Advocatus, Filipa Ambrósio de Sousa. Veja aqui o vídeo.

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Sete números que explicam o estado da (des)inclusão

Em causa está a discriminação em processos de recrutamento, a necessidade de criar um ambiente de trabalho seguro e inclusivo e a promoção do apoio à comunidade LGBTQIA+.

Quatro em cada dez profissionais LGBTQIA+ em Portugal partilham a sua orientação sexual no local de trabalho, mas 4% destes profissionais confessa que já foi vítima de violência verbal devido à sua identidade de género ou orientação sexual. Um ataque verbal que, em 42% dos casos, terá tido origem nas chefias. As estatísticas e dados sobre o tema ajudam-nos a entender melhor o porquê da necessidade de assinalarmos o Dia Internacional do Orgulho LGBT, que se celebra esta quinta-feira.

Em causa está a discriminação que ainda existe em processos de recrutamento, a necessidade de criar um ambiente de trabalho seguro e verdadeiramente inclusivo e a promoção do apoio a esta comunidade, começando desde logo pelas próprias chefias.

O Trabalho by ECO reuniu sete números que ajudam a explicar o estado da (des)inclusão.

http://videos.sapo.pt/BrzegCz5jHcbkWd6pGzR

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Mensagens contra comunidade LGBTQI+ disparam 185% em Portugal

Entre as principais narrativas detratoras destacam-se os comentários sobre a chamada "ideologia de género".

Nos últimos quatro anos, as mensagens de ódio nas redes sociais contra a comunidade LGBTQI+ aumentaram 9,4%, enquanto as mensagens que promovem o apoio a este grupo caíram mais de 40%, conclui o relatório “Hate Speech and LGBTQI+ Pride in the digital conversation”, elaborado pela LLYC no âmbito do Pride 2023. Em Portugal, a trajetória mostra claramente que o discurso anti-LGBTQI+ está a ganhar cada vez mais terreno, com as menções deste cariz a dispararem cerca de 185%.

A nível nacional, a comunidade promotora corresponde a 22,7%, enquanto a comunidade detratora corresponde a 13%. Olhando, contudo, para a trajetória seguida de 2019 a 2022 no que toca ao volume de menções, é possível verificar que as mensagens da comunidade detratora têm vindo a ganhar espaço.

“A comunidade promotora diminui 12,05% e a detratora aumentou 184,85%”, pode ler-se no relatório da consultora de comunicação.

Fonte: Relatório “Hate Speech and LGBTQI+ Pride in the digital conversation”, da LLYC

Entre as principais narrativas detratoras destacam-se os comentários sobre a chamada “ideologia de género”. “A narrativa mais comum está associada a utilizadores que se posicionam contra a comunidade através da utilização do conceito de ‘ideologia de género'”, esclarece a LLYC.

Por outro lado, entre as principais narrativas promotoras encontram-se “as menções dos utilizadores destacam o apoio que artistas, meios de comunicação e séries como a espanhola “Smiley” ou “She” dão à comunidade LGBTQI+”. Ambas as séries são transmitidas na plataforma Netflix.

“Há também mensagens que incentivam a denúncia de comentários homofóbicos nas redes sociais, promovendo a tolerância, a liberdade e o apoio”, pode ler-se ainda.

Chefias na origem de 42% dos ataques verbais a profissionais LGBTQIA+

Um outro estudo lançado recentemente, desta vez pelo ManpowerGroup, e que se foca sobretudo na integração laboral da comunidade, concluiu que quatro em cada dez profissionais LGBTQIA+ em Portugal partilham a sua orientação sexual no local de trabalho, mas 4% destes profissionais já foi vítima de violência verbal devido à sua identidade de género ou orientação sexual (menos oito pontos percentuais face ao estudo anterior).

No entanto, apesar do recuo no número de pessoas a assinalar ter sido vítima de violência verbal em Portugal, em 42% dos casos esse ataque verbal tem origem em chefias, revelam os dados do estudo “Diversity at Work“.

Em Portugal, 14% dos profissionais já testemunharam no trabalho comportamentos discriminatórios contra colegas LGBTQIA+, pese embora o recuo de 15 pontos percentuais face ao estudo realizado pela empresa especializada em recrutamento no ano passado.

Quase um terço das empresas nacionais dizem ter programas de diversidade e inclusão LGBTQIA+, mas 6% dos profissionais dizem sentir-se discriminados no recrutamento. Uma percentagem que dispara para 50% no caso das pessoas trans.

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Do bot que transforma ódio em amor ao hub dedicado à cultura ballroom. Empresas celebram comunidade LGBTQIA+

Esta quinta-feira assinala-se o Dia Internacional do Orgulho LGBT. Saiba o que as empresas andam a fazer para assinalar o dia.

Um bot que transforma ódio em amor. Um hub dedicado à cultura ballroom. Um cartão com a funcionalidade ‘True Name’. Estas são algumas das iniciativas levadas a cabo pelas empresas com o objetivo de promover o apoio à comunidade LGBTQIA+ (sigla utilizada para se referir à comunidade de lésbicas, gays, bissexuais, transgéneros, queers, intersexos e assexuais). Embora alguns números mostrem uma trajetória positiva, ainda há um longo caminho a percorrer no que toca à inclusão da comunidade. Esta quinta-feira assinala-se o Dia Internacional do Orgulho LGBT.

 

Há mais portugueses a assumir a sua orientação sexual ou identidade de género no local de trabalho, cerca de 44% sente-se confortável ou seguro em o fazer, mas 6% diz sentir-se ainda discriminado por esse motivo no momento de recrutamento — no caso da pessoa trans valor sobe para metade — e 14% dos profissionais diz mesmo já ter assistido a situações de discriminação para com colegas LGBTQIA+, aponta o estudo “Diversity at Work”, do Manpowergroup. O discurso de ódio nas redes sociais também aumentou nos últimos quatro anos aponta um outro estudo levado a cabo pela LLYC.

Rainbot, o bot que transforma ódio em amor

Para ajudar a reduzir o discurso de ódio e sensibilizar para o facto de ser perigoso amplificar as mensagens deste cariz, a LLYC decidiu lançar o Rainbot. Um bot que transforma tweets odiosos de LGBTQI+ em pequenos poemas de amor e apoio que celebram a diversidade.

“A origem da campanha está na observação de como, à medida que o discurso de ódio cresce, na tentativa de contrariar esses comentários, muitas vezes também contribuímos para os amplificar. O Rainbot procura chamar a atenção para o problema do crescimento do discurso de ódio, mas também contribuir diretamente para o reduzir nas redes e transformá-lo, através da utilização criativa das mais recentes tecnologias, em amor, celebração e apoio”, explica David Gonzalez Natal, partner da LLYC e líder da campanha.

Hub dedicado à cultura ballroom

Já a gigante tecnológica Google está empenhada em promover o conhecimento sobre a cultura de ballroom. Para isso, a Google Arts & Culture lançou “a maior coleção de material de arquivo sobre a cultura de ballroom num único local: o “Ballroom in Focus”.

Ao todo, são mais de 1.000 imagens e 25 exposições digitais que contam a história desta manifestação cultural que celebra a comunidade LGBTQIA+, anuncia a empresa.

Ao trabalhar com membros da comunidade e com os seus próprios arquivos fotográficos, a Google Arts & Culture estabeleceu uma parceria com a Destination Tomorrow e com Ceasar Williams, especialista na cultura ballroom, para digitalizar mais de mil imagens registadas desde a década de 70 até aos dias de hoje.

“A preservação destas imagens e arquivos é essencial para homenagear os pioneiros que fizeram do ballroom a potência cultural que é hoje. Ouvir Junior LaBeija a partilhar as suas memórias, ou explorar a coleção pessoal de fotografias de Luna Luis Ortiz, é um poderoso lembrete de que a Vogue de Madonna ou Renaissance de Beyoncé não aconteceram por acaso. Ambos são provenientes do ballroom, destaca a tecnológica.

Saiba mais aqui.

Iniciativa open source para recriar campanha ‘Pride’

Na vizinha Microsoft — que celebra este ano o 30.º aniversário do grupo de colaboradores global LGBTQIA+ Employees and Allies at Microsoft (GLEAM), a força motriz para a inclusão LGBTQIA+ e Pride na gigante tecnológica em todo o mundo — também estão previstas diversas ações neste âmbito, com destaque para a iniciativa de open source, que convida os membros desta comunidade a recriarem a campanha ‘Pride’ em termos de design.

A Microsoft disponibiliza, de forma completamente livre, todos os recursos gráficos da campanha Pride através do GiftHub e um conjunto de templates no ClipChamp. Criada pelas pessoas LGBTQIA+ da empresa, esta expressão do Pride celebra a nuance, a intersecionalidade e a força destas comunidades, reunindo quase 50 bandeiras comunitárias em imagens imersivas e evocativas.

“Utilizei a minha experiência para fazer uma transformação positiva: a criação de um novo processo de seguro, a partir de agora, para os funcionários trans da Microsoft, para que dificuldades como as que eu passei não aconteçam no futuro. Neste sentido, sei que o facto de ser funcionário da Microsoft me ajudou a ter um impacto a esta escala, e estou muito grato por isso. Agora, esta luta é para que todos tenham o mesmo acesso aos cuidados de saúde”, conta Salvador, colaborador da Microsoft e membro do GLEAM.

A história do Salvador, da Microsoft Portugal, começa quando lhe foi negado o reembolso de uma fatura pelo seu seguro de saúde por acharem que a consulta teria sido marcada para uma mulher. “Qualquer pessoa deve poder ir ao médico se precisar de o fazer. Todos nós deveríamos poder cuidar da nossa saúde. Mas, globalmente, o acesso aos cuidados de saúde não é igual em muitos aspetos, e uma das disparidades cruza-se com o facto de se ser trans“, comenta a companhia.

Fique a conhecer esta e outras histórias da comunidade LGBTQIA+ da Microsoft aqui.

O seu ‘true name’ no cartão

Num setor distinto, a Nickel implementou no início do mês a funcionalidade ‘True Name’, criada pela Mastercard, que permite a quem é cliente personalizar o seu cartão de débito com o nome próprio com que realmente se identifica, sem requerer a mudança legal do mesmo. Esta personalização pretende contribuir para que as pessoas trans e não-binárias possam ver as suas verdadeiras identidades reconhecidas no cartão de débito que usam com frequência no seu dia a dia.

“Desde o início da sua história que a Nickel se diferencia por ser uma conta de pagamento acessível a todos. Essencialmente por promover o acesso democratizado a operações financeiras essenciais através do seu serviço simples e universal, que permite a abertura de uma conta de pagamento, sem complicações, numa loja de comércio local. Agora, com a funcionalidade ‘True Name’, vamos ainda mais longe na luta pela inclusão social das pessoas trans e não-binárias”, explica João Guerra, CEO da Nickel em Portugal.

Após a abertura de conta, todos os clientes podem subscrever a opção personalizável ‘My Nickel’, escolhendo a cor do cartão e gravando o nome próprio com que se identificam.

Histórias e rostos dos colaboradores

Na Ikea, os colaboradores foram os protagonistas da campanha “Juntos contra a discriminação LGBT+”. Estereótipos, microagressões, exclusão, mas também superação, aceitação e otimismo, dentro e fora do ambiente de trabalho, foram situações que a marca quer pôr em destaque, na campanha que contou com o testemunho de 11 colaboradores (dez membros da comunidade LGBT+ e uma aliada).

“Têm existido avanços importantes no que aos direitos da comunidade LGBT+ diz respeito. Mas o caminho ainda é longo. Continuamos a ver demasiadas pessoas excluídas e marginalizadas por serem parte de uma minoria, seja ela qual for, e acreditamos que é nossa responsabilidade ter um papel na mudança deste paradigma”, disse, na altura no lançamento, Cláudia Domingues, diretora de comunicação da Ikea Portugal.

“Na Ikea, vamos continuar a ser uma voz ativa e um aliado na defesa dos direitos da comunidade LGBT+, e queremos que este trabalho se reflita interna e externamente. Ler estes testemunhos de colegas nossos, e perceber as barreiras que tiveram e têm de derrubar todos os dias, são uma inspiração para nós. Esperemos que com esta campanha se tornem uma inspiração para muitos mais”, completou a responsável.

Para além de presente nos espaços da marca, a campanha tem paid media, ativação com influenciadores, redes sociais e restantes plataformas da marca.

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